Não foi por acaso que o Hôtel Lutetia abriu as portas em 1910, em Paris. Ele era mais uma empreitada do casal Aristide e Marguerite Boucicaut, fundadores do Le Bon Marché, que enxergaram ali a solução de seus problemas. Explica-se: a loja de departamentos francesa revolucionou a forma como os consumidores abastados compravam – e, como “efeito colateral”, logo atraiu uma legião de clientes não residentes de Paris. Esses visitantes precisavam de um hotel próximo e que atendesse a um padrão superior de clientela. Nasceu, então, o cinco-estrelas Lutetia, na Rive Gauche (margem esquerda do Rio Sena).
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O hotel caiu no gosto de hóspedes e frequentadores ilustres, como Ernest Hemingway, Pablo Picasso e Henri Matisse, entre outros gigantes da cena intelectual e artística da época.
Em julho de 2018, após quatro anos fechado para reformas, com investimento total de € 234 milhões, o Lutetia reabriu suas portas. O estilo arquitetônico art nouveau original do edifício foi preservado, com acréscimo de elementos modernos, principalmente no design dos ambientes internos. Nas mãos do escritório de arquitetura francês Wilmotte & Associés, o Lutetia reviveu sua fachada original, do ano de fundação (nos anos 1930, ela foi alterada devido a uma expansão) e acrescentou frescor à decoração, sem alterar seu DNA francês. Os 233 quartos originais foram transformados em 184, ou seja, tornaram-se mais amplos. Duas suítes especiais, que ainda não foram inauguradas, contam com acesso exclusivo ao terraço do edifício, onde o maior atrativo é a visão 360º da Cidade Luz. Os valores das diárias partem de € 850.
As áreas comuns, após a reforma, passaram a ser um híbrido entre os ambientes icônicos, que fazem parte da história do hotel, e novos lounges. A Brasserie Lutetia, com abertura prevista para este mês, está sob comando do chef Gérald Passédat, proprietário do restaurante três estrelas Le Petit Nice, em Marselha. O Le Saint Germain, um conceito de gastronomia mais casual aberto durante o dia todo, tem em seu centro um histórico teto de vidro, que ganhou nova vida nas mãos do artista Fabrice Hybert. Anexo a ele está o novo Patio, no centro do hotel, ambiente ideal para os dias de verão. O café da manhã dos hóspedes é servido no L’Orangerie, onde também, nos fins de semana, é servido um brunch aberto ao público.
Os bares do Lutetia trazem para dentro da propriedade o melhor do estilo elegante do bairro de Saint-Germain-des-Prés, onde está situado. O Joséphine, um tributo à artista Joséphine Baker (antiga habituée do hotel) preservou seu extenso balcão original. Durante o dia é servido o almoço; à noite a proposta é aproveitar aperitivos e coquetéis em um ambiente embalado por jazz. Já o Aristide é mais intimista, com noites de jazz e blues. Ali, a proposta é apreciar cigarros e charutos com o auxílio de um especialista.
Após quatro anos de reformas e investimento total de € 234 milhões, Lutetia é a “nova” estrela da Rive GaucheDepois que o hotel passou a compor o portfólio da bandeira hoteleira The Set Hotels, em 2010, incorporou um de seus pilares – oferecer bem-estar aos hóspedes de centros urbanos. O novo spa da propriedade, Akasha, é uma marca já presente nos outros dois hotéis do grupo – o Café Royal, em Londres, e o Conservatorium, em Amsterdã. Seus tratamentos são baseados na filosofia indiana e nos quatro elementos (ar, água, fogo e terra). A “cereja do bolo” é a piscina interna de 17 metros de comprimento, circundada por paredes de mármore.
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Aqueles que apreciam o 6º arrondissement de Paris e o estilo de vida mais tranquilo e descomplicado de Saint-Germain-des-Prés, bem diferente das áreas onde fica a grande maioria dos cinco estrelas, comemoram: o Lutetia renasceu.
Reportagem publicada na edição 61, lançada em setembro de 2018