Na recente feira Los Angeles Auto Show, o assunto não era a Mercedes-Benz, a Porsche, a BMW ou qualquer uma das marcas de luxo habituais. Em vez delas, quem causou burburinho foi uma montadora de carros elétricos pouco conhecida, a Rivian Automotive, com sede em Plymouth, Michigan. Depois de quase dez anos desenvolvendo a tecnologia de veículos elétricos, a empresa revelou seus dois primeiros automóveis movidos a bateria: o R1S, um utilitário esportivo de sete lugares, e a picape R1T.
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Concebidos para pessoas com estilo de vida ativo, os chamados veículos de aventura exibem a estética do Range Rover – que reúne robustez, capacidade e luxo – e estão repletos dos mais recentes itens de alta tecnologia, como acesso à internet e uma série de recursos autônomos de segurança para o motorista.
O caso de amor de R.J. Scaringe, de 36 anos, com “coisas que se movem”, nas palavras dele, começou quando criança. Assim que alcançou idade suficiente para manusear ferramentas, ajudou um vizinho a reconstruir carros Porsche 356 em sua garagem em Melbourne, na Flórida. “Meu favorito era um Speedster do fim dos anos 50”, diz. No ensino médio, ficou obcecado com a ideia de criar sua própria montadora, e obteve o conhecimento necessário ao cursar doutorado em engenharia mecânica no Sloan Automotive Lab do MIT.
Todavia, no período que passou lá, o aspirante a fabricante de carros entrou em conflito consigo mesmo. “Era frustrante saber que as coisas que eu amava eram também as coisas que sujavam o ar e causavam todo tipo de problema, desde conflitos geopolíticos até a mudança climática”, conta. Então ele mudou de rumo, decidindo se concentrar em veículos elétricos, ecologicamente corretos.
A Rivian foi fundada em 2009 e começou a desenvolver um cupê esportivo elétrico – muito parecido com o Roadster da Tesla, admite Scaringe. Porém, passados poucos anos, esse plano foi arquivado. “Não estávamos desenvolvendo algo de que o mundo realmente precisasse e que fosse diferente de outras coisas que havia no mercado”, diz ele. Sem perder o ânimo, o jovem empreendedor mudou de direção mais uma vez, redefinindo a missão da empresa em torno do futuro da mobilidade e concentrando-se em veículos utilitários de luxo.
Então por que demoraram quase uma década para produzir um veículo? “Estávamos reunindo todas as peças”, diz Scaringe. Isso consistiu em desenvolver a tecnologia, criar um plano de negócios sólido, fortalecer a organização e montar uma cadeia de suprimentos e um sistema de manufatura. Ele também passou anos formando uma equipe dos sonhos de engenheiros e designers, entre os quais Mark Vinnels, diretor executivo de engenharia da Rivian, que veio da McLaren (onde desenvolveu os desejadíssimos 720S e MP4-12C), e Jeff Hammoud, vice-presidente de design e veterano da Jeep, onde supervisionou o Grand Cherokee e o Wrangler.
Para financiar seus sonhos elétricos, Scaringe levantou US$ 450 milhões com três grandes investidores: o grupo de investimentos Abdul Latif Jameel, da Arábia Saudita, que tem fortes laços com o MIT, a Sumitomo Corp., do Japão, e o Standard Chartered Bank, de Londres.
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A Rivian emprega cerca de 700 pessoas, sendo a metade em seu centro de engenharia em Plymouth; a maior parte das demais fica em centros de tecnologia em San Jose e em Irvine, na Califórnia, e algumas ficam em uma unidade de engenharia no Reino Unido. Mais pessoal será adicionado nos próximos dois anos, à medida que a empresa intensifique as operações de fabricação em sua unidade de Normal, Illinois, uma antiga fábrica da Mitsubishi que a Rivian adquiriu em 2017 por US$ 16 milhões. Do ponto de vista técnico, a R1T e o R1S são muito semelhantes. Baseiam-se no mesmo chassi em estilo de prancha de skate (o que significa que todos os componentes mecânicos – bateria, transmissão, suspensão – estão contidos nele).
Afirmam oferecer desempenho excepcional, inclusive uma autonomia de até 640 quilômetros, quase 120 quilômetros a mais do que qualquer outro veículo elétrico atualmente na estrada ou programado para lançamento nos próximos dois anos. E prometem manobras excepcionais e velocidade de carro esportivo – ambos serão capazes de acelerar de 0 a 100 km/h em 3 segundos. Acima de tudo, a Rivian promete uma capacidade off-road verdadeira. Tente dirigir seu Tesla sobre as dunas de uma praia ou então subir uma colina rochosa com ele…
A picape terá preço inicial em torno de US$ 68 mil, e o SUV sairá por US$ 72.500 (preços nos EUA, onde ambos desfrutam de incentivo fiscal). Embora a Rivian não revele as cifras das pré-encomendas, a empresa espera entregar o ambicioso número de 20 mil unidades (picape e SUV somados) em 2021 e 40 mil em 2022, o que corresponde a faturamentos de US$ 1,4 bilhão e US$ 2,8 bilhões, respectivamente. Em comparação, a Tesla vendeu 22 mil unidades do Model S em seu primeiro ano completo e cerca de 25 mil unidades do Model X quando este foi lançado.
Quando a produção começar em Normal, no ano que vem, a empresa, assim como a Tesla, pretende fazer vendas diretas ao consumidor, posicionando estrategicamente algumas lojas de exposição nos EUA para colocar o nome Rivian à vista dos clientes certos. Para oferecer mais opções, um utilitário de cinco passageiros também está a caminho, sendo que mais modelos de aventura virão depois, segundo Scaringe, que tem o cuidado de não prometer demais: “Costumo ser reservado sobre o que estamos fazendo. Vamos deixar os resultados falarem por si próprios”.
Um fluxo de receitas possivelmente mais lucrativo virá da venda da tecnologia da Rivian para montadoras e empresas de tecnologia. “Podemos tirar proveito da nossa tecnologia de prancha de skate na totalidade ou vender partes dela, como a bateria”, diz. Embora nenhuma parceria tenha sido anunciada, a Rivian está em negociações com uma marca conhecida que não é uma montadora tradicional – mas não descarta trabalhar com uma em um futuro próximo –, e espera conseguir novos investimentos de capital no primeiro trimestre de 2019. “O R.J. criou uma empresa capaz de mudar de um momento para outro”, explica John Shook, membro do conselho de administração da Rivian e ex-gerente de produção da Toyota nos Estados Unidos e no Japão.
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Agora que transformou em realidade sua missão de fabricar carros “do bem”, acalentada por toda a vida, Scaringe acredita que suas prioridades como CEO incluem garantir que a direção da empresa seja clara, que a equipe certa esteja fazendo a coisa certa e que a cultura da empresa permita que as pessoas trabalhem em conjunto e harmonia. Coisas de um superempreendedor. Coisas de um super-homem.
Reportagem publicada na edição 66, lançada em março de 2019