Resumo:
- Michel e Amazonka são as proprietárias da marca mais descolada e de sucesso da Mongólia atualmente, com coleções inspiradas na cultura do país;
- Segundo as empresárias, o grande projeto para o próximo ano é abrir uma loja independente com preços razoáveis e produtos com bom design e alta qualidade;
- O que as irmãs mais almejam é entrar no mercado mundial e obter reconhecimento pelo estilo mongol em diferentes países.
Estilo. Nem todo mundo tem, mas a dupla da Michel&Amazonka, a equipe de design mais descolada e de sucesso da Mongólia no momento, definitivamente tem.
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E isso é evidente em suas coleções. Entre atualizações dos tradicionais deels (roupas semelhantes a mantos ainda usadas pelos mongóis) e jaquetas bordadas, onde começaram, as irmãs por trás da marca estão chamando a atenção dos mais elegantes de Ulaanbaatar pelos riscos que correm. E isso é o mais incrível sobre elas.
Conversei com as meninas Michel, Amazonka e a irmã CEO, Munkhjargal Choigaalaa (que ajudou na interpretação), e perguntei sobre a moda mongol, os passos que elas estão tomando em direção a sustentabilidade (um conceito que não tem tanta força na Mongólia), a inspiração local, o equilíbrio entre os negócios e a família e muito mais.
Forbes: Vocês acham que homens e mulheres mongóis têm forte senso de estilo próprio?
Michel&Amazonka: Achamos que os mongóis gostam de estar na moda. Eles são mais orientados para as tendências, por isso, queríamos dar maior elegância e variedades as nossas coleções.
F: Como o cenário de moda e design mudou ao longo dos anos em Ulaanbaatar e na Mongólia?
M&A: Acreditamos que isso evoluiu muito nos últimos anos. Faz mais de 20 anos desde a Revolução Democrática, pensamos que, antes disso, a nossa indústria da moda estava muito atrasada em relação à mundial. Portanto, um dos objetivos propostos pela Michel&Amazonka é acompanhar e estar no mesmo nível das tendências da moda no mundo.
Em termos de design, estamos trabalhando para ficar no mesmo nível que as marcas globais de moda, pois precisamos fechar a lacuna entre designers globais e designers locais. Todavia, ainda estamos muito atrasados.
F: Existem tendências sobre as quais vocês estão animadas para a próxima temporada e outras que as deixaram felizes por desaparecer?
M&A: Não diríamos que existem tendências de que não gostamos porque cada tendência tem seus próprios seguidores. Quando você conhece e conversa com uma pessoa, quando olha para o mundo interior dela, entende melhor suas preferências e pontos de vista.
Cada designer tem suas próprias preferências como pessoa individual, e isso é expresso em suas produções. Mas gostamos de tendências como cenas étnicas underground e coisas assim. Então, decidimos misturar todos esses elementos na Michel&Amazonka. Quando você vê nossos desenhos, pode observar roupas europeias com bordados ou enfeites étnicos costurados à mão.
F: Quem costura e de onde vocês adquirem os materiais? Todos eles são de origem local?
M&A: Temos fábricas de caxemira aqui, mas não tecidos, portanto, todos vêm do exterior. Dessa forma, para o futuro, planejamos tornar nossos designs mais simples, minimalistas e não como os que têm muitos bordados e patches, de outras marcas. Queremos melhorar o tecido que usamos em nossos projetos.
F: Como vocês melhorarão o tecido?
Queremos introduzir produtos de caxemira na linha e colaborar com fábricas que fazem impressões no tecido. Assim, projetaremos as imagens têxteis e usaremos nosso próprio tecido e não os já disponíveis no mercado.
Também estamos felizes com a atual tendência ecológica, pois queremos ter mais produtos com esse propósito nas coleções.
Nossa empresa foi a primeira a produzir bolsas ecológicas em massa e, atualmente, os países ocidentais preferem utilizar esse tipo de produto em vidas diárias. Queremos promover isso na Mongólia, de modo a introduzir cada vez mais bolsas ecológicas em nossa coleção.
F: Se vocês tivessem de escolher uma peça da coleção que mais gostam, qual seria?
M&A: Esta, a verde com o monge nas costas.
O homem nas costas é de um conto popular. Ele é um monge que vai para o exterior, para o Tibete ou algo assim, a fim de aprender coisas novas, mas falha. Contudo, no caminho de volta para casa, ele adquire mais aprendizado do que teria conseguido lá.
F: Vocês costuram tudo isso à mão? Quanto tempo levou aproximadamente para criar esta jaqueta?
M&A: Sim. Levou cerca de uma semana.
F: Esta é uma peça única?
M&A: Sim. E rapidamente tivemos um cliente que pediu para comprá-lo.
F: Como vocês fazem apenas uma ou algumas peças, é possível comprá-la diretamente da arara e sair com ela? Ou você segura a coleção e libera tudo de uma vez?
M&A: Nós seguramos a coleção e a lançamos de uma só vez, mas existem clientes que estão conosco há muito tempo, e eles nos ligam e dizem “eu quero esta peça ou aquela”, e nós a reservamos para eles.
F: Essa é a parte mais difícil quando se faz peças únicas em uma coleção pequena.
M&A: É difícil criar muitas peças com o mesmo design, porque nosso mercado é muito pequeno. Portanto, esperamos criar e estabelecer uma nova marca no futuro, como a Mango ou a Zara, onde fazemos um design em várias cópias e tamanhos diferentes. Mas o preço seria menor porque não é um item personalizado. Queremos alcançar mais clientes enquanto preservamos esse serviço singular, portanto, esperamos alcançar este objetivo no próximo ano.
F: E vocês terão uma loja independente como a Michel&Amazonka para essa marca?
M&A: Sim, teremos uma loja diferente, mas as pessoas saberão que estamos por trás dessa nova marca.
F: Que interessante! Então esse é o grande projeto para o próximo ano?
M&A: Sim, é. Os preços para a nova loja serão muito razoáveis, mas ainda terão bom design e produtos de qualidade.
F: Como vocês buscam inspiração para costurar e desenhar?
M&A: Nossa mãe costumava fazer muitos bordados bonitos. Ela gostava do tipo de coisas artesanais e nós herdamos o seu interesse em tornar as coisas mais decorativas..
Nosso avô materno monge, também nos inspirou, visto que as coisas usadas por ele eram muito decorativas. Por outro lado, nossa mãe costumava bordar vários objetos como fronhas e até mesmo a manta que ficava ao pé da cama. Todos eram feitos à mão e bordados. Em vista disso, essas duas pessoas nos inspiraram e nos influenciaram mais do que qualquer um.
F: Como é o processo de design?
M&A: Primeiro nós pesquisamos. Mas, enquanto isso, ouvimos música, o que ajuda na inspiração.
F: A pesquisa é feita localmente ou vocês viajam para o exterior?
M&A: Não viajamos para o exterior, mas obtemos inspiração a partir do ambiente ao redor.
No momento, você pode encontrar muitas ideias aqui na Mongólia, por meio da tradição e da cultura, porque não são muito conhecidas no mundo. As pessoas geralmente as conhecem por figuras históricas como Genghis Khan e pela história antiga. Mas, nos tempos atuais, você pode obter várias ideias a partir das roupas das pessoas, das práticas culturais, cerimônias e coisas desse tipo. Quando essa inspiração atingir o seu auge, talvez possamos viajar para o exterior ou ir a algum lugar específico para encontrar novidades.
Por enquanto, temos o suficiente. É difícil dizer quais designs serão apreciados pelos clientes ou pelo público. Às vezes, espera-se que um projeto seja um sucesso, mas acaba não sendo. Em outras, você encontra instantaneamente um novo design, cria-o em um período muito curto de tempo, todo mundo adora e deseja que se criem mais. Portanto, é difícil dizer que essa coleção ou esse design serão um sucesso. São nossos clientes que decidem.
F: Parece que vocês têm muitos clientes recorrentes, não é?
M&A: Existem clientes que compram algo de cada coleção. Por exemplo, quando fizemos 12 coleções no ano passado (uma durante cada mês do ano), tivemos clientes que compraram peças de todas elas. Em 2019, com menos coleções, tivemos clientes que pediram para produzirmos mais a fim de que pudessem comprar mais.
F: Isso é um sonho. Contudo, deve haver obstáculos para o design e a criação de coleções como as que vocês fazem e motivos pelos quais nem todos produzem da mesma forma.
M&A: É um tipo de capacidade de mercado. Nós fazemos os desenhos, mas não podemos produzir muito, e já que a nossa economia não é ótima, é caro adquirir e produzir.
Além disso, as escolhas de cada um são muito diferentes. Com cerca de três milhões de pessoas, você encontra indivíduos muito diferentes com gostos muito distintos. Como há grande dificuldade em acomodar tudo isso, é melhor se concentrar em projetos personalizados por enquanto.
Também estamos trabalhando no estabelecimento de uma loja online para que possamos enviar nossos produtos ao exterior e criar mais de uma peça de cada design. Mas ainda precisamos de muito trabalho em termos de tamanho, porque as medidas europeias e as asiáticas são diferentes.
F: Como vocês são irmãs, acreditam que se inspiram uma nas outras?
M&A: Amazonka diz que aprendemos muito umas com as outra. Ela pensa muito e, às vezes precisamos esperar para que faça um novo design, contudo, quando estiver pronto, ele será surpreendente. Por outro lado, Michel é mais rápida e produz muitas criações diferentes em um período curto de tempo. O estilo de trabalho de ambas é diferente e quando aparece uma ideia, elas discutem se esse design é bom ou não.
F: Então, é uma colaboração.
M&A: Sim. Michel é boa com as silhuetas e Amazonka com os desenhos em cima delas, como fontes, caligrafia, monogramas etc.
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F: Vocês acreditam que é fácil ou difícil ser mulher proprietária de um negócio na Mongólia, criando seu próprio caminho não tradicional?
M&A: É um desafio, mas quando você está fazendo o trabalho que realmente ama, supera todos os obstáculos e o realiza da maneira que deseja. Portanto, a resposta é sim e não. Além da vida profissional, há desafios como ter uma família e ser responsável por sua alimentação e bem-estar. Esses são os desafios que as mulheres enfrentam na Mongólia porque, em nossa cultura, espera-se que as elas cuidem de suas famílias. Temos que fazer malabarismos ao nos responsabilizar pelos familiares enquanto administramos nossos negócios.
Somos casadas e todas temos filhos. Quando fazemos nosso trabalho, às vezes, temos problemas com nossos maridos porque permanecemos por longos períodos de tempo em nossa ocupação. Mas, eventualmente, eles entendem o motivo quando veem o que criamos.
F: E seus maridos as apoiam totalmente?
M&A: Eles nos apoiam. Quando começamos, eles deram suporte financeiro a partir de suas economias e nós os pagamos de volta.
F: Por último, e talvez a pergunta mais importante: o que vocês querem que o mundo saiba sobre a moda mongol?
M&A: O mundo já sabe que temos caxemira, mas queremos que todos conheçam a existência de designers diferentes que trabalham com outros tecidos além desse.
Há profissionais desta área aqui na Mongólia que se sairiam bem com os designers internacionais, talvez trabalhando como assistentes ou no campo criativo de uma casa de moda. No entanto, quando há desigualdade de oportunidades e não existe chance de atuar no mercado mundial, é difícil. Mas, se for possível enviar os designers mongóis para o exterior a fim de aprender diretamente com os mestres, nós cresceríamos. Todavia, realmente não sabemos.
Continuaremos fazendo o que queremos e talvez um dia o mundo notará. Nosso maior sonho é entrar no mercado mundial e obter reconhecimento pelos nossos designs mongóis em diferentes países.
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