A pandemia tem apresentado oportunidades de negócio para a BlaBlaCar: a empresa francesa de mobilidade está incrementando seu modelo para responder à demanda por viagens locais e se posicionar como aliada na reinvenção digital das empresas de ônibus no Brasil.
A empresa recentemente registrou um novo marco no Brasil: 7 milhões de pessoas usam a plataforma para oferecer ou pegar carona. Destas, 430 mil se registraram nos últimos três meses e mais de 3,5 milhões de caronas foram operadas no país neste período. O Brasil é atualmente o terceiro maior mercado depois da Rússia e França para a empresa, que tem 90 milhões de usuários em 22 países.
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À medida em que usuários buscam adaptar suas rotinas a uma nova realidade, a empresa prevê uma tendência de viagens mais baratas, além de uma forte migração do avião para o ônibus resultante do foco em destinos domésticos entre 60 e 1.500 quilômetros de distância – e isso deve favorecer a evolução da startup, segundo o country manager da BlaBlaCar no Brasil, Ricardo Leite, em entrevista exclusiva à Forbes.
“Estamos deixando de ser um aplicativo de caronas para ser uma plataforma multimodal. Caso você tenha uma demanda de transporte terrestre de longa distância, queremos ter a oferta para atendê-lo”, aponta.
Um elemento importante desta nova estratégia de negócios é o lançamento da BlaBlaBus, negócio de ônibus da empresa que já opera na Rússia e outros mercados do Leste Europeu, e está em fase de “soft launch” no Brasil.
“Seremos um marketplace de venda de passagem de ônibus. Falamos com empresas do setor sobre o impacto da Covid, a grande maioria vai intensificar canais de venda online e a BlaBlaCar oferece esse suporte”, revela Leite.
Segundo o executivo, a startup já assinou contratos com cerca de 20 empresas de ônibus como a Santa Cruz, Santo Anjo e Eucatur, que conectam seus sistemas de vendas via interface de programação de aplicativos (API) com a plataforma da BlaBlaCar.
“Temos um contexto de crise, mas muitas vezes surgem oportunidades de novos negócios. Estamos trazendo para o mercado uma solução que consegue ajudar essas outras empresas a mitigar os impactos desta situação”, ressalta o executivo.
E continua: “Existem cerca de 1 mil empresas [de ônibus] no Brasil e o grande problema delas é a quantidade de assentos vazios. É possível resolver este gargalo com tecnologia”.
A aposta da BlaBlaCar é que o atualmente concentrado setor de transporte de ônibus, em que preços são em sua maioria estáticos, passe a ficar cada vez mais parecido com o transporte aéreo e acelere nos próximos meses: “O mercado de ônibus não só irá explodir, mas será distribuído online”, diz Leite.
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Para complementar sua oferta multimodal, a matriz da empresa francesa fechou no mês passado uma parceria com a startup de micromobilidade Voi para lançar o serviço de patinetes BlaBlaRide na França. No entanto, Leite diz que, por enquanto, não há planos de replicar no Brasil o teste em andamento no mercado natal da empresa.
Definir áreas de foco em um cenário onde muitas possibilidades se apresentam é um dos desafios das startups de alto crescimento e esse é o caso também na BlaBlaCar, segundo o country manager.
“São muitas oportunidades, mas temos que ter calma e entender bem quando devemos persegui-las sem prejudicar o core business: ao [desenvolver] o negócio de ônibus, a gente tira algo do business de carona, então temos que ter um olho no gato e outro no peixe”, ressalta.
A OPERAÇÃO NA PANDEMIA
O negócio principal da BlaBlaCar, as caronas, manteve uma tendência de crescimento mesmo durante a pandemia – houve um aumento de 50% no número de viagens entre janeiro e maio – apesar de uma tendência de queda a partir de março, cujo percentual a empresa não divulga. De janeiro até 20 de junho, a empresa tinha viabilizado 9,65 milhões de viagens no Brasil.
Nos últimos três meses, o principal motivo de uso do carpooling intermediado pela BlaBlaCar foi visitar pessoas que moram em outra cidade, citado por 51% das pessoas que utilizaram a plataforma, seguido de viagens a trabalho, motivo mencionado por 27% dos usuários.
Por outro lado, as viagens de lazer, que em janeiro representavam 19% das viagens, despencaram para 2% em abril e maio. Com as universidades e escolas operando remotamente, viagens feitas por estudantes, que correspondiam a 4% dos percursos, caíram para 1% das caronas intermediadas pelo site em abril e maio.
“As pessoas passaram a usar a BlaBlaCar para viagens de real necessidade e turismo e lazer não se encaixam nessa categoria. É a primeira vez que vemos uma mudança tão brusca nas razões pelas quais a plataforma é utilizada”, aponta Leite.
Desde 15 de março, as rotas mais percorridas no BlaBlaCar entre os 29 mil percursos intermunicipais disponíveis na plataforma são Florianópolis-Porto Alegre e Rio de Janeiro-São Paulo. Outros percursos populares durante a pandemia são Brasília-Goiânia, Campos dos Goytacazes-Rio de Janeiro e Campinas-São Paulo.
Ações da BlaBlaCar para o enfrentamento à crise do novo coronavírus incluíram medidas como limite de apenas um passageiro no banco de trás e ideias como o BlaBlaHelp, aplicativo em que é possível se cadastrar para ajudar pessoas do grupo de risco na pandemia com tarefas como compras de supermercado.
Segundo Leite, o plano de novos negócios também está buscando evoluir esta ideia: “Vamos explorar novas possibilidades baseado nos ativos que desenvolvemos para [a BlaBlaHelp], fora do contexto da pandemia”, revela.
No que diz respeito ao carro-chefe da empresa, Leite ressalta que caronas continuarão resilientes: além da tendência de viagens mais curtas, há a crise econômica, que faz com que reduzir o custo dos deslocamentos se torne mais importante. “Faz muito sentido compartilhar seu carro como condutor ou como passageiro numa crise: você procura a opção mais barata possível [para se deslocar], e a carona é o modal de transporte mais econômico”, ressalta.
A BlaBlaCar está confiante sobre sua estratégia para os próximos meses, mas também haverá desafios a enfrentar até que as pessoas se sintam mais confiantes para viajar: “O transporte coletivo vai passar por alguns percalços, algumas das conveniências serão diluídas, inconveniências serão geradas”, aponta o country manager. “Mas este é o preço que todo mundo está disposto a pagar – e tem que pagar – não só pela saúde da sociedade em geral, mas porque as pessoas querem ver filho, pai, mãe.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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