Nos últimos dez anos, o mundo assistiu a uma das transformações mais intensas no cenário do entretenimento. O modo como consumimos músicas e principalmente filmes mudou radicalmente e transformou essas indústrias – ao que tudo indica, para sempre. Locadoras de vídeos e lojas de CDs parecem hoje conceitos pré-históricos. As donas do mercado são as plataformas de streaming.
A Netflix, curiosamente, começou suas atividades ainda no cenário jurássico da locação de DVDs por correio em 1997, em uma tentativa de tornar o setor de locação de filmes mais prático. Três anos depois, a Blockbuster (então a maior rede de locação de filmes do mundo) perdeu a oportunidade de comprar a startup de Reed Hastings e Marc Randolph por US$ 50 milhões. Não só perderam o bonde da história como deixaram de ganhar “um dinheirinho”: a Netflix vale hoje US$ 184 bilhões.
O modelo da Netflix começou a mudar em 2007, quando disponibilizou a primeira plataforma paga de streaming, ainda debaixo de muita desconfiança. Três anos depois, a Blockbuster pedia falência. Iniciava-se ali o reinado dos serviços online. De lá para cá, dezenas de similares surgiram para disputar diferentes públicos. A Oldflix, por exemplo, agrada aqueles que preferem os eternos clássicos; a Mubi mira no público que gosta de filmes cult; a Philos é formatada para os aficionados por documentários.
Com a chegada da pandemia, o crescimento delas foi exponencial. O isolamento social transformou as plataformas de streaming numa das principais formas de entretenimento das pessoas que, confinadas em casa, passaram a ficar mais tempo diante da televisão.
Segundo pesquisa recente da Conviva, empresa especializada em inteligência integrada de dados, os serviços de streaming cresceram 20% globalmente em março em comparação com os números de duas semanas anteriores. Na América Latina, os números saltaram 26,6% no período observado. Outro padrão de consumo impactado, de acordo com a mesma pesquisa, foram os horários: a reprodução dos títulos durante o dia, das 10h às 17h, aumentou 40%.
No Brasil, a plataforma Telecine Play foi além: registrou um crescimento de 400% no número de cadastros e um aumento de 100% no número de filmes assistidos desde o início da quarentena. O CEO da Telecine Brasil, Eldes Mattiuzzo, acredita em um novo padrão de consumo que perdurará mesmo depois da pandemia. “A nova relação com o tempo imposta pela Covid-19 também impulsionou o fator experimentação, que nos trouxe uma quantidade enorme de novos usuários e um perfil novo de público, com diferentes comportamentos”, diz ele.
A Rede Globo também observou um relevante incremento na audiência de um dos seus programas anuais clássicos, o reality show Big Brother Brasil, cuja edição de 2020, veiculada também na plataforma de streaming da empresa, a Globo Play, foi um fenômeno de audiência. Segundo a empresa, “o programa bateu a marca de 100 milhões de horas de consumo na plataforma, um aumento de mais de 500% em relação ao BBB19. Em termos de consumo de conteúdo ao vivo, equivale a assistir 13 mil Copas do Mundo na íntegra”.
Além da diversão
Luiz Arruda, presidente geral da Avantgarde, agência especializada em live marketing, acredita que as plataformas souberam aproveitar o momento positivo para o setor. “As estratégias adotadas por algumas plataformas de streaming de abrir a assinatura gratuita permitem que elas criem um crescimento de base, coletando dados e fazendo um primeiro contato com novos clientes – que provavelmente continuarão a consumir o produto, já que o custo mensal desse tipo de serviço não impacta o orçamento da classe média”, analisa.
“As estratégias adotadas por algumas plataformas de streaming de abrir a assinatura gratuita permitem que elas criem um crescimento de base, coletando dados e fazendo um primeiro contato com novos clientes”, diz Luiz Arruda, presidente geral da AvantgardeArruda concorda que o streaming é “a bola da vez” em termos de tecnologia de conteúdo e propaganda. Entretanto, acredita que não só o streaming de entretenimento continuará crescendo, mas também o de reuniões, palestras e cursos, uma tendência cujos primeiros sinais também já eram observados no período pré-pandemia e que foram intensificados durante o distanciamento social. “Eu costumava fazer viagens internacionais para estar presente em apenas uma reunião. Depois das experiências com reuniões via conferência de vídeo, isso é algo a ser repensado. É possível que tenhamos um novo comportamento com impactos no mercado como um todo: nos eventos, na hotelaria, nas companhias aéreas…”
Assim é o jogo do capitalismo: estar no lugar certo, na hora certa – e fazendo a coisa certa.
Reportagem publicada na edição 78, lançada em junho de 2020
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