Algumas pessoas simplesmente não conseguem tomar decisões sem se torturar. Elas até fazem listas de prós e contras, mas, mesmo quando chegam a uma decisão inteligente, não conseguem parar de pensar no que poderia dar errado. Tentam prever os próximos acontecimentos, supõem e analisam diferentes cenários. Ou seja, não se livram de suas preocupações e, consequentemente, não aproveitam os frutos do seu esforço.
Essas pessoas são “over-thinkers”, termo em inglês que classifica quem pensa demais sobre as coisas. Shelley Row, autora de quatro livros, reconhece essa característica em si mesma. Seu mais novo livro, ainda sem edição em português, trata do tema: “Think Less, Live More: Lessons From a Recovering Over-Thinker” (“Pense menos, viva mais: lições de uma over-thinker em recuperação”, em tradução livre).
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Na tentativa de descobrir como manter a mente calma e aproveitar os bons momentos, FORBES entrevistou Shelley Row. Leia a entrevista a seguir:
FORBES: Como você define “over-thinking” e quem pode ser enquadrado como um “over-thinker”?
Shelley Row: Eu acho que todos sabemos quando estamos nos preocupando demais com alguma coisa, e muitas pessoas reconhecem essa tendência. É aquela situação em que a pessoa entra quando sua mente roda em círculos, o que, sinceramente, é uma grande perda de tempo e desperdício de energia. De acordo com a neurociência, isso acontece quando usamos demais a parte lógica do cérebro e desligamos a sabedoria da parte intuitiva. O trabalho com pessoas que se preocupam demais consiste, primeiro, em fazê-las descobrir como reconhecer quando estão fazendo isso e, depois, como passar para o lado sensível do cérebro e começar a dar mais voz a esta parte.
FORBES: Como dar mais voz aos sentimentos?
Shelley: Primeiramente, é preciso reconhecer quando estamos nos preocupando demais com alguma coisa, e a maioria das pessoas consegue fazer isso. É quando nos pegamos dizendo a nós mesmos: “Isso está levando tempo demais”. Nestes momentos, precisamos reconhecer e dar um passo para trás.
É importante perceber a sensação insistente que vem de dentro e dar a ela um nome. A nossa sociedade ensina a honrar tanto o pensamento que, quando temos essa sensação insistente, que nos impede de tomar uma decisão, apenas a ignoramos porque pensamos que não deveríamos estar sentindo nada. Não há espaço para sensações no trabalho.
É preciso perceber a sensação e dar a ela um nome. O processo pode soar como algo assim: “Por que eu estou tornando isso tão difícil?”. Você percebe que a resposta é algo do tipo: “Eu estou desconfortável sobre como esta decisão será percebida pelos meus colegas” ou “Eu tenho medo que o meu chefe não apoie este novo caminho”. Isso é entender o nome da sensação – “eu estou desconfortável, estou com medo, estou preocupado.” Quando nomeamos a sensação, ela deixa de fazer parte do subconsciente e entra no consciente, onde podemos começar a habilmente desvendá-la e entendê-la.
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FORBES: Digamos que um profissional de 30 anos de idade esteja tentando conquistar uma nova posição na empresa em que trabalha. Talvez ele esteja pensando demais antes de tomar esta decisão. Como ele deveria equilibrar os pensamentos/sensações?
Shelley: Este é um ótimo exemplo. Em primeiro lugar, ele provavelmente sabe que está pensando demais porque está vivendo uma frustração. “Eu analisei isso. Fiz uma lista de prós e contras. Olhei para a situação de todos os ângulos possíveis, mas ainda não consigo tomar uma decisão e estou exausto. Não estou dormindo.” Estes são pensamentos comuns e sintomas de analisar demais alguma situação.
O que eu diria é que não é uma má ideia fazer uma lista de prós e contras, mas as sensações devem fazer parte dela. É importante olhar para as razões pelas quais se quer tentar, por que se está hesitando, dar um passo para trás. Dar a si mesmo uma chance de considerar o que estiver vindo de dentro.
FORBES: Que conselho você daria para as pessoas que querem começar a mudar esse hábito ainda hoje?
Shelley: É importante que, quando se sentir insegura sobre uma decisão, a pessoa dê um passo para trás e entenda o que está sentindo. “O que me segura? Como eu me sinto em relação a isso?”. Muitas vezes, só isso é suficiente para superar essa sensação e tomar a decisão.