Você é uma profissional que está sempre disponível para as outras pessoas, sejam clientes ou colegas de trabalho. Se detecta uma maneira de melhorar as coisas, vai além para fazer com que elas aconteçam, não importa se isso significa atrasar o seu trabalho ou realizar tarefas de outros funcionários. Talvez você até aceite uma carga horária mais pesada em nome de “ser parte da equipe”.
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Além disso, o trabalho de muitas mulheres não termina quando elas saem do escritório. O sexo feminino é, frequentemente, responsável por cuidar dos filhos e lidar com as tarefas domésticas.
Estudos mostram que as mulheres assumem a maior parte da responsabilidade nos relacionamentos, tanto na carreira como na vida pessoal. E não apenas são mal pagas em todas as profissões, como muito desse trabalho invisível, conhecido como “trabalho emocional”, não é compensado ou reconhecido. De fato, um relatório recente das Nações Unidas descobriu que as mulheres realizam 2,6 vezes mais trabalho não remunerado do que os homens, uma vez que “empregos vitais, como cuidar dos filhos e as inúmeras tarefas que vêm com eles, como pegá-los da escola, além de responsabilidades como cuidar de pais idosos, administrar as despesas domésticas e realizar serviços como limpar e cozinhar”, acabam tornando-se obrigações femininas.
Os custos ocultos não param quando elas entram no escritório: pense em quanto tempo você gasta reescrevendo emails para não ofender alguém por parecer severa demais ou o número de vezes que a tarefa de tomar notas em uma reunião recaiu sobre você.
Farta da discrepância de gênero, Gemma Hartley escreveu uma história para a “Harper’s Bazaar” no ano passado intitulada “Women Aren’t Nags – We’re Just Fed Up” (“Mulheres Não São Rabugentas – Apenas Estamos Fartas”, em tradução livre). Com sinceridade, a escritora compartilhou sua frustração sobre assumir um trabalho mais emocional em seu próprio casamento. A história rapidamente se tornou viral, provocando uma conversa mundial sobre a desigualdade de gênero. Gemma, agora, é autora do livro “Fed Up: Emotional Labour, Women, e the Way Forward” (“Farta: Trabalho Emocional, Mulheres e o Caminho a Seguir”, em tradução livre), que explora a “carga mental” que as mulheres carregam.
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Na entrevista a seguir, ela ensina a identificar e gerenciar o trabalho emocional que pode afetar a sua carreira, e aborda como a questão fortaleceu o diálogo feminista sobre a maneira como as mulheres são socializadas.
FORBES: Como você define o trabalho emocional?
Gemma Hartley: Eu defino o trabalho emocional como a atividade não remunerada, muitas vezes despercebida, que envolve manter todos ao seu redor confortáveis e felizes. É a combinação do gerenciamento das emoções e da vida. Essa definição envolve muitos outros termos associados a esse tipo de tarefa: a carga mental, preocupação, invisibilidade. Muitas mulheres acham esse conceito de trabalho emocional uma chancela útil para pensar em todas as suas obrigações e compromissos emocionais e mentais subvalorizados.
F: Como o trabalho emocional é transferido para as carreiras das mulheres?
GH: A maneira como o trabalho emocional afeta a carreira das mulheres é dobrada, uma vez que é esperado que elas suportem a maior parte das atividades relacionadas a ele tanto em casa quanto no ambiente profissional. As mulheres que se preocupam com tudo em casa, provavelmente esticam sua capacidade mental ao limite, o que pode impedi-las de fazer seu melhor na carreira. Na profissão, a expectativa de que as mulheres abrandem suas respostas, gerenciem as emoções de seus colegas e tornem o ambiente “agradável” pode impedi-las de fazer as tarefas que as ajudará a progredir.
trong>F: Quais são os sinais mais comuns de alguém que está realizando muito trabalho emocional na profissão?
GH: Se você é aquela pessoa com quem os demais sempre contam para organizar as festas e happy hours do escritório, ou descobre que seu tempo é consumido por colegas “que pegam ideias suas” ou pedem conselhos (sem reciprocidade), o trabalho emocional desempenhado provavelmente está diminuindo seus objetivos de carreira. É uma posição difícil de ocupar, porque as mulheres que deixam de lado as expectativas estabelecidas para o trabalho emocional são, muitas vezes, negativamente rotuladas por não quererem arcar com essa tarefa baseada no cuidado. Mesmo quando está claro que a mesma expectativa não existe para os colegas do sexo masculino, supomos que elas são “simplesmente melhores nessas coisas” naturalmente e, portanto, devem estar inclinadas a fazê-lo.
F: O que pode ser feito para lidar com o estresse do trabalho emocional tanto na carreira quanto no “terceiro turno” em casa?
GH: A melhor forma de aliviar o estresse do trabalho emocional, em ambos os ambientes, é tornar claro suas prioridades e limites quando se trata deste assunto. Você precisa estar ciente de quando o trabalho emocional é positivo ou necessário e quando não é – a atividade não é especificamente ruim, mas é fácil ficar sobrecarregado com todas as demandas direcionadas para o seu tempo e sua energia mental.
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F: Qual foi sua reação quando a história da “Harper’s Bazaar” se tornou viral? Como você lidou com a repercussão?
GH: Eu já escrevi artigos que se tornaram virais antes, mas nada nunca havia atingido uma circulação tão alta [foi compartilhado nas redes sociais quase 1 milhão de vezes]. Fiquei completamente surpresa com o número de pessoas que se identificaram com a história, e é por isso que mergulhei mais fundo no tema do trabalho emocional e decidi escrever um livro sobre o assunto. Estou longe de ser a primeira pessoa a explorar essa definição expandida de trabalho emocional, mas acho que meu artigo saiu em um momento decisivo – logo antes do movimento #metoo de Tarana Burke ressurgir – e as mulheres estavam, literalmente, fartas do desequilíbrio continuado que elas vivenciam em tantas áreas de suas vidas. A maior parte da reação com que lidei foi sobre o fato de que meu artigo não apresentava múltiplos ângulos, porque se concentrava bastante na minha experiência pessoal. Essa é uma crítica construtiva que eu pude levar em conta quando escrevi o livro, certificando-me de que eu olhava para o trabalho emocional de diferentes perspectivas. Quanto aos trolls e ativistas dos direitos dos homens? Seus emails foram para o lixo sem serem abertos.
F: Você disse que inúmeras pessoas (homens e mulheres) entraram em contato com você desde que o artigo se tornou viral. Você pode compartilhar um pouco do impacto que teve? Como isso mudou seu próprio relacionamento?
GH: Eu acho que o maior impacto do meu artigo sobre trabalho emocional foi que ele aumentou a conscientização em torno desse “tarefa sombria” que as mulheres fazem. Eu ouvi homens dizendo que estavam ouvindo aquilo pela pela primeira vez e prometendo se comprometer a fazer melhor. Eu ouvi de casais queer (pessoas não binárias) que haviam notado que essas dinâmicas heteronormativas caíram em seus relacionamentos. Mas, mais comumente, eu ouvi de mulheres que se sentiram representadas porque eu tinha ajudado a esclarecer o fato de que o trabalho emocional é trabalho e, além disso, é valioso. Há muita dor em sentir-se invisível, e é exatamente o que o sexo feminino sente quando realiza trabalho emocional.
Tornar-me mais consciente do trabalho emocional mudou drasticamente o meu próprio relacionamento. Meu marido suportou conversas intermináveis sobre o assunto enquanto eu escrevia meu livro, e acho que nós dois saímos disso com uma melhor compreensão um do outro e de nós mesmos. Agora que podemos ver claramente o trabalho emocional em nossa casa, somos mais capazes de lidar com isso juntos.
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F: Como é o equilíbrio trabalho-vida para você hoje? (Se é que realmente existe um período de equilíbrio entre carreira e vida pessoal, já não tenho tanta certeza…)
GH: Eu acho que o “equilíbrio” perfeito é um mito. É empurrar e puxar, mas eu tento não me machucar com isso. Ninguém pergunta aos homens se eles aspiraram a casa ou lavaram a roupa enquanto estão arrasando no escritório. Então eu tento não minar meu sucesso ao apontar para coisas que não foram feitas em outras áreas da minha vida.