A cada ano de trabalho que passa, percebo que as promoções se tornam cada vez mais místicas. O colega que você nunca pensou que iria avançar, de repente, recebe um aumento. Um outro, que definitivamente não merece, recebe uma promoção. E seu conhecido, que não é mais inteligente e nem trabalha mais, também sobe de cargo de maneira ágil. Mas você também recebe aquela promoção mais rápido do que esperava. Você é reconhecido por um trabalho que considerava comum. E recebe um aumento no momento mais inesperado.
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Depois de uma década assistindo a esses ciclos de promoção, percebi que eles se tornam cada vez mais complexos.
Em geral, as promoções no trabalho ainda imitam o que podem ser consideradas “promoções” na escola. Você se sai bem em uma aula introdutória e, em seguida, avança para a próxima. Esse processo, por mais inadequado que seja, é o mesmo para o reconhecimento profissional. Consiga um bom resultado e você se destacará. Mas a habilidade necessária para ganhar destaque em sua posição não corresponde, necessariamente, ao conjunto de habilidades necessárias para a posição que almeja.
É comum ver profissionais desenvolvedores de software que são promovidos e, em seguida, gerenciam mal as tarefas; repórteres que são designados a editores e, depois, publicam textos mal editados; analistas de negócios que são promovidos e passam a desempenhar de forma insatisfatória o trabalho de vendas. Em suma, o problema da promoção está em toda parte.
Na verdade, é tão comum que há toda uma teoria gerencial em torno disso: o Princípio de Peter.
O Princípio de Peter
Na maioria das organizações, o Princípio de Peter é definido como o fenômeno em que funcionários continuam sendo promovidos até atingirem um limite máximo de habilidades e, provavelmente, fracassarem. No livro que leva o mesmo nome, “Princípio de Peter”, de Laurence Peter e Raymond Hull, os autores descrevem o conceito de forma mais sucinta. “Em uma hierarquia, todo empregado tende a subir ao seu nível de incompetência.”
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No início de sua carreira ou em um novo emprego, você pode ser promovido, mas chegará a um ponto em que não possui mais as habilidades necessárias para o trabalho. É então que falha. O Princípio de Peter postula que esse é quase um conceito universal, que todos em algum momento irão experimentar. E eu acredito que isso seja verdade.
Mas, se esse é realmente um problema universal, seria justo perguntar: estamos todos fadados a cair no Princípio de Peter, ou há uma saída?
Eu estive estudando por conta própria a trajetória do sucesso profissional nos últimos 10 anos e, para responder a essa pergunta, aponto três estruturas a serem consideradas.
Foco no crescimento da produtividade (e não da renda)
Muitas pessoas, quando entram no mercado de trabalho, estão preocupadas com quanto dinheiro vai ganhar. Mas o que realmente importa é a quantidade de dinheiro que você faz em relação ao valor que gera como funcionário. Em equilíbrio, você recebe o que acha que vale. Se permitir que sua renda aumente mais rapidamente que sua produtividade, o Princípio de Peter se torna uma armadilha.
Em vídeo explicativo, intitulado “How The Economic Machine Works” (“Como Funciona a Máquina Econômica”, em tradução livre), o investidor Ray Dalio oferece uma conclusão semelhante: “Não tente aumentar sua renda mais rapidamente do que a produtividade, pois você acabará se tornando um profissional com pouca capacidade de concorrer com outros”.
Se a sua renda aumenta mais rápido do que sua produtividade, você acabará recebendo um valor incompatível com o mercado. No início, provavelmente sentirá que subiu na carreira, ao começar a ganhar mais dinheiro do que seus colegas, mas isso rapidamente entrará em colapso se não houver crescimento de produtividade. Seu salário será recalibrado de volta para corresponder às suas atividades até atingir um ponto de equilíbrio.
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“Faça tudo o que puder para aumentar a produtividade, porque, a longo prazo, isso é o que mais importa”, diz Dalio.
Não confunda cargo com conjunto de habilidades
À medida que as pessoas avançam em uma corporação e mergulham em suas políticas internas, é fácil perder de vista o conjunto de habilidades que estão desenvolvendo e, talvez mais importante, perder de vista como essas competências são valorizadas no mercado. Muitas pessoas confundem cargo com conjunto de habilidades.
Se você não está desenvolvendo competências excepcionais de forma proativa, pode facilmente cair novamente no Princípio de Peter.
Digamos que você tenha um bom salário. Se seu conjunto de habilidades não for exclusivo ou acima da média, os novos profissionais rapidamente têm a possibilidade de desenvolvê-lo e de se oferecer para fazer o mesmo trabalho por um salário menor. As empresas substituirão funcionários por mão-de-obra mais barata e igualmente efetiva, o que também pode ser chamado de efeito de substituição.
Se o seu conjunto de habilidades não for algo incomum, você pode ter de escolher entre corte salarial ou demissão. Ou seja: desenvolva habilidades de alta demanda, mas pouca oferta.
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Aplique a “teoria secreta” de Neil Gaiman
Com o passar do tempo, a maioria dos profissionais percebe que as promoções não se baseiam apenas no seu trabalho. Em uma palestra na Universidade das Artes, na Filadélfia, Pensilvânia (EUA), o escritor Neil Gaiman presenteou o público com sua “teoria secreta” para conseguir um trabalho autônomo. Mas acredito que o verdadeiro segredo é que essa teoria se aplica a todos os tipos de trabalho.
“O segredo para o trabalho de freelancer é útil para qualquer um que pensa em se tornar autônomo, qualquer que seja a área. Aprendi fazendo histórias em quadrinhos, mas isso se aplica para outros campos também”, conta Gailman. “Pessoas são contratadas porque, de alguma forma, elas são contratadas. E continuam trabalhando porque desempenham bem sua função, são fáceis de se conviver e entregam o trabalho a tempo”, acrescenta.
“Não é necessário ter as três características, duas delas já são suficientes. Seus colegas de trabalho toleram o quão desagradável você é se o seu trabalho for bom e se entregá-lo a tempo. Eles vão perdoar o atraso se fizer um bom trabalho e se gostarem de você. E você não precisa ser tão bom quanto os outros se entregar dentro do prazo e for uma boa companhia.”
Para resumir a teoria de Gaiman: desenvolver habilidades únicas é apenas uma peça do quebra-cabeça. Descubra as duas áreas em que mais se destaca e as aprimore. Se você se classificar como acima da média em todos os três quesitos, provavelmente está superestimando suas capacidades. No entanto, se acontecer de você se encontrar em um trabalho fora de suas capacidades, mas estiver disposto a se esforçar para aprender, é possível focar em seus dois quesitos de destaque enquanto aprende lentamente as habilidades necessárias. Assim, o Princípio de Peter não tem como derrubá-lo.
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