Resumo:
- As inseguranças fazem com as pessoas adiem determinadas tarefas e até percam oportunidades;
- O esgotamento, muitas vezes, dá sinais que ignoramos antes de se manifestar completamente;
- Aproveitar o tempo livre para fazer coisas que estão fora da zona de conforto ajuda a melhorar a autoestima ao descobrir que podemos fazer coisas nas quais nos julgamos péssimos.
Eu era, provavelmente, a última pessoa de quem se esperava que começasse a fazer um rap.
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Tive um problema de fala quando criança e precisei fazer tratamento fonoaudiológico durante o ensino fundamental. Na escola, as crianças sempre tiravam onda de mim por causa da minha voz. Para piorar, coloquei aparelho ortodôntico aos 12 anos e tive que usá-lo até a faculdade. Meus dentes eram tão tortos, que eu devo ser um estudo de caso em vários livros de medicina. Em resumo, eu tive vergonha da minha voz a vida toda.
Essa insegurança me impediu de fazer um monte de coisas pelas quais eu era entusiasmada e curiosa quando mais jovem, do cinema e do humorismo às oportunidades de liderança.
Mas, felizmente, eu era esquisita demais e quebrava regras demais para ter um emprego normal, então decidi ser empreendedora e abrir minha própria empresa aos 23 anos.
Obrigada a sair da minha zona de conforto
Ser empreendedora me obrigou a fazer muitas coisas com as quais eu não me sentia à vontade. Como única fundadora da empresa autossuficiente SalesFolk, eu fazia toda a parte de vendas e marketing no começo. Não tinha nenhuma dificuldade para criar textos persuasivos para meu site, campanhas de e-mail ou postagens em blogs, já que sempre tive talento para escrever. Porém, como sempre fui introvertida e desajeitada, vender era uma tarefa intimidante e emocionalmente exaustiva.
Então, fui ficando cada vez melhor em vender – tão boa, que consegui fechar um negócio de cinco dígitos com apenas um e-mail e um telefonema de 20 minutos.
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Eu também sempre adiava webinars e eventos online porque detestava a minha voz, e ouvir a gravação dela me fazia torcer o nariz. Surgiram oportunidades que eu não podia deixar passar, então me obriguei a participar dessas conferências na web. Eu ainda não gostava do jeito que minha voz soava, mas passei a me sentir à vontade com ela mais rapidamente do que imaginava. Algo que ajudou foi o fato de empresas bilionárias, como InsideSales.com e Hubspot, dizerem que meus webinars estavam entre seus conteúdos de melhor desempenho.
Muita gente falava que eu deveria produzir um curso online sobre captação por e-mail e prospecção de vendas, mas eu fazia corpo mole. Eu sabia que tinha sido pioneira em muitas das melhores práticas e criado os modelos de melhor desempenho no setor, mas, devido à minha insegurança, deixei de ganhar milhões de dólares.
Por fim, desenvolvi o curso e ele foi bem-sucedido e lucrativo, mas, se não fossem meus amigos e funcionários me azucrinando sem parar para que eu o desenvolvesse, isso não teria acontecido.
O mês em que tudo desmoronou
Aí veio 2018, um dos melhores e piores anos da minha vida. O ano começou bem intenso. Eu estava me preparando para lançar o software corporativo no qual vinha trabalhando havia quase um ano e finalizava uma proposta de livro que eu achava que poderia ser um best-seller do “New York Times”.
Então, de repente, tudo começou a desmoronar durante uma viagem de trabalho à Ásia.
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Em algumas semanas, recebi ameaças judiciais e descobri que funcionários desonestos estavam fraudando números. Além disso, pessoas pelas quais eu cheguei a ter profundo respeito estavam tentando me intimidar e me envergonhar para que eu apagasse conteúdos que tinha publicado porque acreditava firmemente que o público precisava vê-los.
Estava tudo uma droga. E então, para piorar, meus pais descobriram que tinham diferentes tipos de câncer no período de uma semana. Minha vida estava um pandemônio, e eu também estava me sentindo mal por não passar mais tempo com a família e outros entes queridos.
Foi quando a estafa me atingiu como uma tijolada.
Acho que eu estava à beira do esgotamento havia pelo menos um ano, talvez mais. Ignorei todos os sinais de aviso e me forcei até o ponto em que olhar para uma tela me deixava tão enjoada, que eu sentia o ácido subir para a minha boca.
Fiquei vivendo um caos completo por meses. Tive de tirar um bom tempo de folga e fazer um exame de consciência para voltar a melhorar.
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O que você faz quando de repente tem tempo de novo?
É bem estranho de repente ter tempo livre, depois de camelar ininterruptamente por anos. Eu nem sabia o que fazer comigo quando não estava trabalhando.
Foi nessa época que descobri o rap.
Quando adolescente, eu conhecia cada verso de centenas de álbuns de rap, mas, sendo uma garota loira de voz suave e aguda, nunca pensei, nem de longe, que fazer esse gênero de música fosse possível para mim.
Eu tinha escrito algumas canções e esquetes de humor para amigos ao longo dos anos, mas um novo mundo de possibilidades se abriu quando ouvi Yolandi Visser fazendo rap. Cantora do grupo de rap sul-africano Die Antwoord, ela também tem uma voz bastante aguda. Mas ela assume sua voz e a faz trabalhar em seu favor.
Eu não decidi logo de cara que queria experimentar o rap, mas sem dúvida me inspirei em artistas do sexo feminino como Yolandi, Awkwafina e Tierra Whack, que pareciam quebrar os padrões e “assumir sua estranheza”. E eu também queria fazer isso.
Queria desesperadamente uma oportunidade de me expressar de maneira autêntica e criativa, sem aquelas restrições todas do mundo corporativo.
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Como o rap me salvou e me ajudou a descobrir o meu alter ego, Razzlekhan
Tive a ideia maluca de uma canção que eu simplesmente precisava fazer. A música me apareceu às 9 horas da manhã de uma terça-feira, quando eu estava totalmente sóbria e escrevi tudo em cerca de 30 minutos.
Na superfície, é uma história doida e absurda na linha do filme “Madrugada Muito Louca”, mas, no fundo, é uma alegoria do Vale do Silício, repleta de simbolismo.
Só que eu não fazia ideia de como criar um rap. Como eu não tinha habilidades musicais, decidi procurar um produtor que fizesse uma batida para mim. Um amigo sugeriu pesquisar no SoundBetter, onde encontrei o Keyzus. Ele foi além e me ajudou a melhorar o meu ritmo e a minha fluidez, e nós nos entrosamos porque ambos somos sinestésicos.
Agora, tenho sete músicas prontas – e vêm outras por aí – com a minha identidade de rapper, Razzlekhan.
É claro que não estou tentando ganhar um Grammy com a minha voz, mas estou viciada no rap. Sei que ainda tenho muito que melhorar, mas é disso que eu gosto, e pretendo continuar fazendo rap aos 80 anos, entre um desenvolvimento de software e outro.
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Meu conselho para descobrir sua própria paixão:
1. Para se inspirar, procure interesses que você teve quando mais jovem, já que eles geralmente estão próximos da sua essência mais íntima;
2. Decida se você quer que essa atividade seja social, solitária ou uma combinação das duas coisas. Você é introvertido ou extrovertido? Pode ser que você precise de uma atividade mais introvertida para ter tempo de refletir e recarregar as baterias, ou, quem sabe, precise de algo mais social para se conectar com outras pessoas?;
3. Tente encontrar algo que seja desafiador e tire você da sua zona de conforto. Você provavelmente descobrirá que é capaz de fazer muito mais do que achava possível. Você ganha uma bela dose de confiança quando domina algo em que antes era péssimo.
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