Resumo:
- Segundo Jennifer Petriglieri, professora de comportamento organizacional do Instituto Europeu de Administração de Empresas (INSEAD), quando dois parceiros estão em busca de carreiras ativas é comum o surgimento de tensão, conflitos e sacrifícios;
- A especialista pesquisou casais para escrever um livro a respeito e fornece sugestões para alcançar a harmonia;
- Ela explica que apoiar um ao outro para investigar o que deve ser feito, ouvir as manifestações do companheiro e aceitar os sentimentos dolorosos sem tentar corrigi-los são posturas ideais para superar as dificuldades.
No novo livro de Jennifer Petriglieri, “Couples that Work: How Dual Career Couples Can Thrive in Love and Work” (“Como Casais com Carreiras Paralelas podem Prosperar no Amor e no Trabalho”), a professora de comportamento organizacional do Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead) explica objetivamente: casais “dual career” (em que ambos buscam sucesso profissional ativamente) “possivelmente enfrentam tensão, conflitos e sacrifícios”. No entanto, ela acrescenta que esta situação “também pode originar crescimento, satisfação e harmonia mútuos”. Logo, como casais com dupla carreira podem alcançar o segundo e não o primeiro resultado?
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Para descobrir, Jennifer -metade de um casal em que ambos trabalham (seu marido Gianpiero também é professor organizacional)- entrevistou 113 pares de profissionais com idades de 26 a 63 anos. Recentemente, realizei uma entrevista com ela a fim de saber mais sobre suas descobertas e obter seu conselho para casais com carreira dupla entre 50 e 60 anos. Veja, abaixo, os destaques.
O livro e a pesquisa de Jennifer me interessaram porque a maioria das sugestões que verifiquei, destinadas a cônjuges nesta situação profissional, se concentraram em seus relacionamentos pessoais, não na maneira como sua relação se cruza com seus objetivos de carreira.
Antes de compartilhar minha entrevista, deixe-me dizer que o que a professora ouviu dos casais foi, em uma palavra, desanimador.
Eles “raramente conversavam sobre forças sociais e psicológicas mais profundas”, escreve Jennifer. Além disso, não tiveram tempo para discutir “suas lutas por poder e controle, os papéis que esperavam desempenhar em suas vidas compartilhadas, suas esperanças e medos pessoais e expectativas conjuntas do que define um bom relacionamento e carreira, os quais exercem uma significativa influência sobre eles”.
O livro dela se baseia em três transições de vida para casais “dual career”.
A primeira, tipicamente vivenciada por casais mais jovens, lida com a pergunta: como podemos fazer isso funcionar?
A segunda questiona: o que, de fato, queremos? Essa mudança “geralmente é provocada por sentimentos de inquietação e opressão que dão lugar a questões existenciais de direção e propósito”, aponta Jennifer. “Isso requer que os casais descubram seus interesses e desejos únicos e renegociem os papéis que desempenham na vida um do outro.”
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Já a terceira aborda um tópico mais profundo: quem somos agora? O trabalho dos casais nesse estágio é “se reinventar no que diz respeito a suas realizações passadas e, simultaneamente, abrir possibilidades para o futuro”, explica Jennifer.
Depois que terminei de ler o livro, comecei a analisar o meu casamento de 27 anos de dupla carreira, e me esforçar (junto a meu marido) para investigar e descobrir onde poderíamos fazer alguns ajustes.
Aqui está minha conversa com Jennifer:
Forbes: O que os casais com carreira dupla na casa dos 50 e 60 anos fazem de errado?
Jennifer Petriglieri: Trata-se de desenvolver o hábito de ter conversas, que são o tecido do relacionamento, o que é importante para ele. Mas muitos casais ignoram este costume e caem na armadilha de um desequilíbrio de poder.
Pode haver um ressentimento pelo fato de um parceiro nunca ter realmente conseguido realizar algo que gostaria.
Simultaneamente construímos nossas carreiras, estabelecemos esses compromissos com a família e começamos a questionar se este é o caminho que realmente queremos seguir. Esta é uma situação muito ameaçadora para um casal.
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Ao ver meu parceiro começar a questionar seu trabalho, sua direção na vida, é fácil pensar que isso tem algo a ver com o nosso relacionamento e eu não sou boa o suficiente. O que há de errado com o que temos?
F: O que os casais “dual career” de meia idade devem fazer ou melhorar?
JP: A chave é apoiar um ao outro e investigar o que precisa ser feito. É preciso coragem para apoiar nossos parceiros nessa exploração, porque ela é assustadora.
O que ocorre são duas circunstâncias: tentamos apressar nosso companheiro neste processo ou o evitamos desde o início. Quando chegamos a esse estágio de nossas vidas e carreiras, precisamos de um empurrão amoroso para nos afastar da zona de conforto e dizer: “não vamos resolver isso a menos que corramos alguns riscos e exploremos caminhos diferentes”.
Você precisa se afastar da segurança e isso não é dizer que está tudo bem. Os casais precisam confiar bastante um no outro para fornecer esse apoio e quando o fazem, realmente despertam grandes mudanças.
Apoie genuinamente os esforços de seu parceiro para explorar alternativas de carreira e experiências com diferentes caminhos. Ter interesse, ouvir e conversar sobre seus dilemas são posturas que contribuem para solucionar o conflito. Além disso, ouvir as manifestações de seu companheiro e aceitar os sentimentos dolorosos sem tentar corrigi-los é a melhor ajuda que você pode oferecer.
Uma vantagem de integrar um casal em que ambos trabalham é que você obtém experiência de mundos diferentes. O parceiro pode oferecer contato com outras pessoas, sugerir outras direções e incentivar a prática de atividades paralelas para ter uma ideia de caminhos alternativos.
Este pode ser outro período de aceleração na carreira. Em quase todos os campos de atuação, é possível trabalhar como freelancer ou durante meio período, ser empreendedor e realizar projetos, entre outros. Essas possibilidades fornecem às pessoas, nesta fase de suas carreiras, horizontes muito mais amplos do que tinham no passado.
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Nós queremos alguém nessa jornada de desenvolvimento conosco. Os casais que acertam questionam: “De que forma aproveitaremos esta situação como um momento crucial e não nos deixaremos abalar com a perda?” Esses são os companheiros que traçam um caminho ao longo do qual podem viajar com um propósito renovado.
F: O que os casais de carreira dupla devem fazer ao se aproximar da aposentadoria?
JP: Este é um período em que realmente podemos nos concentrar mais amplamente na comunidade, nos amigos, no voluntariado e em outros assuntos que nos interessam. Pode ser um momento para voltar e se reconectar com um hobby perdido.
Uma paixão compartilhada é algo com o qual ambos podem se envolver sem contar suas carreiras ou filhos. É uma expressão de quem vocês são como casal e uma maneira importante de manter um senso compartilhado do significado de “nós”.
É possível também começar algo novo juntos, como a prática de projetos paralelos ou a união de suas carreiras. É por meio da realização conjunta de atividades que realmente o casal “se mantém vivo”.
Dedique um tempo para apreciar a confusão juntos.
F: Alguma surpresa revelada pela sua pesquisa?
JP: Sim. Os casais mais bem-sucedidos, que se sentiam bem com suas carreiras e relacionamentos, também eram os que tinham vidas mais desafiadoras, com calendário de viagem e trabalhos estressantes, por exemplo. Como eles não podiam conversar com ninguém no no ambiente profissional sobre medos e preocupações, desabafavam um com o outro.
Além disso, esses casais reconhecem que isso não é uma “guerra comercial”, ou seja, não se trata de fazer um favor ao parceiro e sim fornecer um tipo diferente de suporte.
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