Quando Leo era criança, seu pai estava sempre no trabalho, no escritório, na sua mesa em casa ou “conversando” com seus alunos universitários. “Quando eu era bem pequeno”, conta ele, “eu implorava para que ele brincasse comigo à noite, quando voltava do escritório. ‘Papai está cansado’, ele dizia, enquanto afundava em uma cadeira. Eu agarrava seu braço e o puxava para que ele brincasse de caubói comigo, o que às vezes ele fazia, mesmo sem vontade. Em seguida, em um tom menos empolgado, ele respondia aos meus gritos de guerra com um distraído ‘bang, bang’. Mesmo nesses dias, lembro de me sentir bravo por ele estar tão cansado e desinteressado em minhas fantasias e dramas de infância.” O pai de Leo morreu aos 51 anos de um ataque cardíaco após um dia inteiro no escritório. “Eu tinha 24 anos quando ele morreu”, diz Leo. “Estou agora com 42 anos e 51 não parece tão velho. Meu pai trabalhou durante a maior parte da minha infância, e ele nunca esteve por perto durante a minha vida adulta. “
Infância perfeita? Sério?
Muitos filhos adultos de workaholics (ACOWs, na sigla em inglês) acreditam que tiveram uma infância perfeita. Se seu pai bebeu demais, você pode apontar para a garrafa; se sua mãe estava viciada em pílulas, as drogas podem explicar as mudanças de humor incomuns. Mas se você cresceu em um lar workaholic, não há um motivo óbvio para seus sentimentos de confusão, culpa e inadequação. O trabalho é o vício mais bem vestido e que melhor camufla outros problemas na família.
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No entanto, de acordo com pesquisas, adultos com pais viciados em trabalho carregam cicatrizes psicológicas das quais muitas vezes não percebem. Os filhos de workaholics frequentemente se transformam em adultos invejados por todos: responsáveis, voltados para a realização, capazes de assumir o controle de qualquer situação. Pelo menos é assim que eles aparecem para o mundo exterior. Por dentro, muitas vezes se sentem como crianças que nunca conseguem fazer nada certo, tentando se manter em dolorosos padrões de perfeição.
Minha equipe de pesquisa na Universidade da Carolina do Norte conduziu o primeiro estudo sobre ACOWs e descobriu que eles tinham níveis mais altos de depressão e ansiedade do que a média da população adulta, além de terem maiores chances de acreditar que acontecimentos externos controlam suas vidas. Esses adultos também costumavam ter um problema maior com a autoconfiança e a dependência de terceiros para a tomada de decisões. Algo semelhante ao que foi relatado em uma pesquisa com filhos de alcoólatras, embora os parentes de workaholics tenham apresentado taxas ainda mais altas de doenças mentais e de parentificação – quando uma criança assume o comportamento de um adulto.
Essas descobertas são como as histórias de casamentos fracassados ou de casos de depressão em adultos que aparentemente tiveram uma infância perfeita. A ética de trabalho norte-americana nos impede de culpar um pai pelo trabalho compulsivo e até de ver o workaholismo como algo problemático. Então, se você for como a maioria dos ACOWs, ao examinar sua vida supostamente perfeita fica fácil concluir que “algo deve estar errado comigo”. Afinal, os pais desse tipo costumam ser elogiados – muito bem-sucedidos e responsáveis, ocupando cargos de liderança. Seus resultados impressionantes são motivo de aprovação pela sociedade, pelos moradores locais e até pela igreja. Assim, muitos filhos se repreendem por reclamar algo que todos a sua volta batem palma. E é por isso que o workaholismo é considerado o mais bem vestido de todos os vícios.
Perfil de filhos adultos de workaholics
Se você é o filho adulto de um workaholic, é provável que ou evite entrar em um relacionamento ou se reinvente para agradar seu parceiro. Por dentro, é como se você se sentisse aprisionado, muitas vezes materializando essa decepção ou depressão ao longo da vida. Você pode ter um certo padrão de se envolver em relações longas com pessoas a quem está sempre tentando agradar, embora elas estejam frequentemente decepcionadas ou até mesmo distantes. Em outras palavras, você se envolve com quem o faz lembrar emocionalmente do seu pai viciado em trabalho.
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Milhões de filhos adultos de workaholics estão sofrendo e não entendem o porquê. Em muitos casos, eles não sabiam que os pais eram compulsivos e nem como isso interferia na sua vida durante a infância, e muito menos o papel que isso continua tendo até hoje na sua saúde mental. Os ACOWs costumam se atrapalhar muito nos relacionamentos – eles são, geralmente, autocríticos, ansiosos, deprimidos e dispostos a mudar por quem quer que esteja com eles no momento. Se você é um deles, pode se enquadrar no perfil deste grupo:
- Conformistas;
- Autocríticos;
- Autodepreciativos por não serem capaz de atender às expectativas dos outros;
- Propensos à depressão;
- Sentem necessidade de aprovação e de compensar a própria inadequação;
- Perfeccionistas em relação ao próprio desempenho e realizações;
- Sérios, com dificuldade em se divertir;
- Propensos a sentimentos de deslealdade e culpa por reconhecerem um problema na sua “família perfeita”, que, aparentemente, lhes deu tudo;
- Zangados e ressentidos;
- Propensos a ansiedade generalizada;
- Fracassados em relacionamentos íntimos durante a idade adulta;
- Com senso de identidade subdesenvolvido.
Os pais workaholics costumam dar tudo que os filhos precisam durante a infância, com exceção do mais importante – a conexão emocional. Poucas pessoas entendem a situação dos ACOWs e simpatizam com a sua dor, já que, do ponto de vista de fora, eles parecem ter tudo: uma casa espaçosa, os melhores carros, as melhores escolas e talvez até as férias mais desejadas à beira-mar. Se eles reclamam, são vistos como ingratos. Se você é uma dessas pessoas e se identifica com essas situações, considere por em prática as seguintes etapas para se tornar mais completo e, consequentemente, aumentar suas chances de subir na carreira.
Veja, na galeria de fotos a seguir, 8 etapas para reiniciar sua carreira:
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Getty Images/TravelCouples Entenda o problema
Aprenda tudo o que puder sobre workaholism. Entender o que motivou seu pai e sua mãe a entrar nesse vício ajudará você a se conhecer melhor e entender mais sobre o seu passado.
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Getty Images Procure se conhecer
Desenvolva um plano de autocuidado e reconheça que você vale mais do que acha. Comece a preencher o vazio descobrindo seu verdadeiro eu. O que você gosta, ama e sente? O que você quer?
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Rido franz/Getty Images Se cobre menos
Diminua seus padrões de perfeição. Aprenda a jogar, se divertir e se deixar levar. No local de trabalho, delegue tarefas e aprenda a ser menos autocrítico, permitindo-se cometer erros.
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Luis Alvarez/ Getty Images Seja gentil
Aprenda a se afirmar e a usar uma voz carinhosa ao conversar consigo mesmo. Apoie a si mesmo como indivíduo – não apenas medindo seu valor pelo que você produz ou realiza.
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Nitat Termmee/ Getty Images Tenha uma válvula de escape
Pratique exercícios que ajudem no combate ao estresse, como ioga, meditação e outras técnicas de relaxamento para se concentrar mais no momento presente.
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Getty Images Espontaniedade: por que não?
Desenvolva a flexibilidade criando atividades espontâneas e impulsivas, além de dar as boas-vindas à diversão e às risadas. Quem sabe indo à praia no último minuto ou caminhando descalço e sem guarda-sol durante uma chuva de verão.
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Getty Images Liberte-se
Permita-se a liberdade de ser imperfeito, como passar uma semana sem arrumar a cama ou encontrar um hobby que estimule o lado mais irracional, seja na pintura ou na dança.
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Getty Images/damircudic Seja grato
Sentir gratidão por pessoas e coisas presentes na sua vida pode ajudar a transformar os pensamentos negativos em positivos. Pode trazer você de volta ao presente e aumentar seu sentimento de admiração. Vamos lá: pense agora em cinco pessoas ou coisas pelas quais você é grato.
Entenda o problema
Aprenda tudo o que puder sobre workaholism. Entender o que motivou seu pai e sua mãe a entrar nesse vício ajudará você a se conhecer melhor e entender mais sobre o seu passado.
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