Os baby boomers e a geração X fizeram parte da linha de frente do mercado de trabalho por muito tempo. Mas, com a contínua admissão de profissionais mais jovens, o preconceito geracional aumentou os desafios para o público mais maduro se recolocar ou ascender na carreira. Apesar disso, diversas mulheres com mais de 50 anos seguem provando a importância da liderança feminina experiente nas equipes.
Christiane Aché, diretora do programa Advanced Boardroom Program for Women (ABP-W) da Saint Paul Escola de Negócios, diz que, há anos, os profissionais 50+ são considerados cartas fora do baralho pelas corporações. “Isso é o que acontece com a maioria deles. E, no caso das mulheres, é ainda mais marcante, já que poucas delas ocupam cargos de liderança.”
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Para a especialista, as discussões sobre diversidade que ganharam força no último ano têm sido fundamentais para ajudar a transformar essa realidade. “O processo ainda é longo, mas a sabedoria dos mais antigos já começa a ser valorizada. Em alguns lugares, vemos até quatro gerações trabalhando em conjunto.” A diretora afirma que essas mudanças ajudam a impulsionar a colaboração entre os times, mas só são possíveis se todos estiverem dispostos a desafiar o status quo.
Para o empreendedor Mórris Litvak, mesmo com o envelhimento da população brasileira, a discriminação por conta da idade ainda é recorrente. “Este é um assunto que está longe de ser prioridade, não existe nenhum tipo de incentivo. Na maioria dos casos, essas pessoas são vistas como desatualizadas.” Fundador da Maturi, startup direcionada às pessoas 50+ que desejam voltar ao mercado de trabalho, Litvak diz que reinseri-los nas corporações envolve questões sociais e estratégicas, já que a diversidade de perfis contribui – e muito – para entender e resolver desafios mercadológicos.
“A questão estética entre os gêneros também é muito forte. O fato de ser grisalho é uma coisa bacana para os homens. Já para as mulheres, é um indicativo de envelhecimento, o que faz com que elas comecem a ser descartadas entre os 40 e 45 anos. Eles podem chegar aos 60 anos sem passar por isso.” O executivo frisa que, por conta disso, as mulheres costumam optam por investir em empreendimentos próprios por saberem que as chances são mais restritas.
Conheça, na galeria de imagens abaixo, 5 executivas brasileiras que desafiam essa realidade e se mantêm em cargos C-level em grandes empresas:
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Divulgação Andrea Rolim
Andrea é CEO da Kimberly-Clark, multinacional norte-americana líder no segmento de higiene pessoal, desde setembro de 2020. Com mais de 25 anos de experiência, sempre quis liderar grandes times e influenciar significativamente a agenda de uma corporação. “Para isso, busquei movimentações que pudessem me proporcionar base para seguir nessa trajetória. É preciso estar disposta a assumir o alto nível de dedicação que a atividade requer.” Ela já passou por empresas como Unilever, GSK e Yum! Brands e não pretende parar tão cedo. “A idade não me define em nada, não deveria jamais ser uma ‘nota de corte’. Tenho planos para os próximos anos e me preparo todos os dias para continuar produtiva.”
A presidente ressalta que a inclusão deve ser trabalhada amplamente, envolvendo também recortes raciais, de classe, orientação sexual e identidade de gênero, pessoas com deficiência (PCDs) etc. “Em um mundo com a complexidade de hoje, a alternativa que temos é equilibrar e combinar as diversas capacidades e experiências que as pessoas podem oferecer.” Quando há essa pluralidade, Andrea observa que a complementaridade é o que move a organização.
Na Kimberly-Clark, segundo a CEO, 41% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. De todas as contratações feitas no último ano, 50% foram de profissionais do sexo feminino. “Ainda existem estigmas que dificultam a ascensão das mulheres. Muitas são sobrecarregadas por uma questão cultural, de assumir mais as funções dentro de casa e com os filhos. Precisamos reconhecer que nenhuma mulher tem super poderes e consegue fazer tudo.” A fim de amenizar essa situação, a multinacional proporciona benefícios exclusivos para mães e gestantes. “As pessoas definem quem é a empresa e como ela atua. Se não contemplarmos outras vivências, certamente teremos menos potencial para obter soluções e resultados mais ricos.”
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Divulgação Chieko Aoki
Proprietária da rede Blue Tree Hotels, Chieko confessa que, quando começou a carreira, imaginava que com 50 anos já estaria aposentada. “Não planejei minha vida profissional a longo prazo. Focava no presente e no que poderia entregar naquele momento. Uma coisa leva à outra e fui me envolvendo cada vez mais. Assim o tempo acabou passando.” Como CEO na companhia que fundou, acompanhou todas as inovações tecnológicas e do mercado hoteleiro desde 1997.
Diante da pandemia de Covid-19, acredita ser fundamental ter uma mentalidade disruptiva e afirma que, agora, depara-se com dificuldades maiores. “No meu setor, por exemplo, as pessoas viajavam para resorts nas férias. Existiam férias. Hoje, você pode estruturar sua vida para que todo dia seja de lazer e também de trabalho.” Chieko comenta que, para os que nasceram nessa era, essas mudanças são típicas, mas, para ela, esses avanços são trabalhosos.
A executiva alerta que a inteligência artificial poderá até conduzir o futuro das corporações, mas as habilidades socioemocionais serão um diferencial para as contratações. “A excelência técnica é uma exigência mínima. Nós temos total capacidade para potencializar as equipes e empreendimentos. A liderança deve ter um olhar empático e de zelo inerente à energia feminina.” Chieko reforça que o networking é fundamental nesse processo, porque, a partir dele, cria-se uma rede de apoio e indicações que aumentam as chances de as mulheres chegarem ao alto escalão.
Por outro lado, os preconceitos relacionados à idade podem ser desfeitos a partir do instante em que o profissional se mostra aberto ao mercado, motivado a manter um perfil sem autoridade e rispidez. “O foco é quebrar as barreiras que nos limitam. No Japão, existem muitos idosos que continuam ativos. Às vezes, eles até se reinventam para permanecer evoluindo e sendo úteis.” A CEO conclui que, para ela, essa renovação diária é uma revolução, em que a curiosidade e vontade por aprender são elementos que mantêm o espírito jovem da geração baby boomer.
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Divulgação Cristina Palmaka
Cristina é CEO da SAP, corporação alemã de softwares e gestão empresarial, para a América Latina e Caribe há oito meses. Na companhia há mais de sete anos, ela diz que não traçou como principal objetivo se tornar presidente de uma multinacional. “Sempre busquei trazer verdade naquilo que estava fazendo e as oportunidades foram aparecendo. Considero que estar nessa posição foi um mix de preparação e coragem. O mais importante para mim não é o cargo em si, mas continuar agregando valor.”
Com passagens por empresas como Microsoft e HP, a executiva começou a estagiar com 16 anos na Philips e, ao ser efetivada, aos 17, nunca mais parou. “Quando era jovem, pensava que nessa época já teria parado de trabalhar. Agora, já até passei dos 50 e ainda me sinto muito motivada e energizada.” No começo da carreira, ela não notava o fato de ser uma das únicas mulheres na área, mas, com a ascensão profissional, a desigualdade de gênero chamou sua atenção. “Não via vantagens ou desvantagens, acreditava que as conquistas estavam relacionadas apenas ao merecimento. Com 24 anos me tornei gestora e notava cada vez mais essa disparidade nos cargos.” Foi ao conquistar um lugar no alto escalão que Cristina entendeu a responsabilidade de ajudar outras mulheres e as novas gerações.
Para ela, é necessário fornecer respaldo para o público feminino desde a base da pirâmide, para que as mulheres consigam crescer nas empresas. “Muitas vezes, elas mesmas se subestimam. É possível estar casada, divorciada, ter filhos e construir uma carreira. Essas barreiras não estão somente nas organizações. No geral, a sociedade já determina um papel para a mulher que está longe da liderança.”
Ao pensar na idade como um dos desafios no mundo corporativo, Cristina diz que, em vez de ser um empecilho, isso lhe traz mais confiança e maturidade para gerenciar a equipe. “Já passei por diversas fases na minha profissão. Hoje, quando alguma situação mais tensa aparece, brinco que olharei na minha caixinha de ferramentas. Sigo sem ter respostas para tudo. A diferença é que agora tenho mais tranquilidade de assumir quando não sei.” A executiva afirma que essas diversidades, tanto de gênero quanto etária, são o que trazem inovação para os projetos e subsídios para os funcionários produzirem de forma mais eficiente.
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Divulgação Tânia Cosentino
Presidente da Microsoft, transnacional norte-americana de softwares e eletrônicos, Tânia acumula mais de 35 anos de experiência. Já atuou em companhias como Rockwell Automation e Schneider Electric e afirma que, na empresa atual, as mulheres representam 38% do quadro de country managers ao redor do mundo. “Fui promovida para essa posição aos 53 anos. Durante o processo de seleção, um dos vice-presidentes executivos me perguntou o quão disposta eu estava para aprender nesta fase da minha carreira.” Apesar da transição radical, essa oportunidade de encarar um novo setor em um momento de mudanças contínuas foi o que a motivou para reiniciar a trajetória.
“Estou em um mercado vibrante e transformador. Vivencio todos os dias a missão de empoderar pessoas e organizações a conquistarem mais.” Na posição de general manager, traça metas para acelerar os processos da companhia, garantir o bem-estar dos colaboradores e continuar apoiando as maiorias que são sub-representadas. “No mercado de trabalho, ainda vejo um avanço lento para resolver problemas como a falta de equidade nas funções e igualdade salarial.”
Na perspectiva de Tânia, os homens possuem mais acesso ao capital e, com a pandemia, essas desigualdades foram ampliadas. “Quando comecei no mundo corporativo, era comum escutar outra mulher falando: ‘Eu batalhei para chegar até aqui e, por isso, não vou facilitar para ninguém’. Triste pensamento. Hoje me orgulho de exercer a sororidade, ainda mais em um momento como esse.” A executiva se responsabiliza por contribuir com esse avanço e acredita no poder da diversidade das equipes como um agente que traz benefícios em todas as instâncias. “Ser capaz de gerenciar diferentes gerações é um grande desafio. Os jovens encaram as novidades de uma forma diferente. Já as mulheres mais velhas agregam com experiência e sensibilidades.”
Tânia também revela que ter participado de uma “mentoria reversa” ampliou sua visão sobre o mundo digital e novas possibilidades de contato. “Elegi uma mentora da geração Y. Ela com 28 anos e eu com 50. Nossas conversas foram ótimas. Entendi o que os jovens esperam de um líder e como eles enxergam o impacto da tecnologia no planeta e na sociedade. Enxerguei o meu lado millennial.” Para ela, a comunicação é o que permite a convivência positiva entre os grupos e ser receptivo a isso é o que mantém profissionais mais experientes no mundo corporativo.
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Virginia Vaamonde
Virginia é CEO da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação, organização sem fins lucrativos que desenvolve e mantém padrões globais para comunicação empresarial, desde 2014. “Após a empresa que trabalhava ter encerrado as atividades em São Paulo, tive que me recolocar no mercado. A GS1 surgiu para mim nessa época.” A executiva está na entidade há mais de 23 anos, e já passou pela diretoria de diversas áreas, como marketing, relações institucionais, inteligência de mercado etc.
Em comparação ao início da carreira, Virginia vê um mercado mais receptivo, no qual lideranças como Ngozi Okonjo-Iweala, da Organização Mundial do Comércio (OMC), mostram que as mulheres podem sim ocupar altas posições. “Pode parecer ingênuo da minha parte, mas nunca pensei se estava enfrentando dificuldades ou não. Devemos estar prontos e ter inteligência emocional suficiente para superar qualquer impasse. Essa maturidade vem com o tempo.”
Virginia afirma que é comum a sociedade normalizar a falta de mulheres nos espaços e isso se reflete em como as corporações distribuem suas vagas. “A GS1 está em mais de 150 países e conseguimos formar um time mais consciente. Se todos pensarem igual ou tiverem vivências parecidas, nunca haverá contraposições, o que não agrega nada.” Para ela, essa evolução é um caminho sem volta ainda com diversos passos a serem dados, mas celebrar as conquistas precisa ser uma prática constante. “Independentemente de qual for o cargo, é importante sempre se esforçar para entregar o melhor. A determinação, entusiasmo e perseverança foram ferramentas que me ajudaram nesse processo de ascensão.”
Andrea Rolim
Andrea é CEO da Kimberly-Clark, multinacional norte-americana líder no segmento de higiene pessoal, desde setembro de 2020. Com mais de 25 anos de experiência, sempre quis liderar grandes times e influenciar significativamente a agenda de uma corporação. “Para isso, busquei movimentações que pudessem me proporcionar base para seguir nessa trajetória. É preciso estar disposta a assumir o alto nível de dedicação que a atividade requer.” Ela já passou por empresas como Unilever, GSK e Yum! Brands e não pretende parar tão cedo. “A idade não me define em nada, não deveria jamais ser uma ‘nota de corte’. Tenho planos para os próximos anos e me preparo todos os dias para continuar produtiva.”
A presidente ressalta que a inclusão deve ser trabalhada amplamente, envolvendo também recortes raciais, de classe, orientação sexual e identidade de gênero, pessoas com deficiência (PCDs) etc. “Em um mundo com a complexidade de hoje, a alternativa que temos é equilibrar e combinar as diversas capacidades e experiências que as pessoas podem oferecer.” Quando há essa pluralidade, Andrea observa que a complementaridade é o que move a organização.
Na Kimberly-Clark, segundo a CEO, 41% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. De todas as contratações feitas no último ano, 50% foram de profissionais do sexo feminino. “Ainda existem estigmas que dificultam a ascensão das mulheres. Muitas são sobrecarregadas por uma questão cultural, de assumir mais as funções dentro de casa e com os filhos. Precisamos reconhecer que nenhuma mulher tem super poderes e consegue fazer tudo.” A fim de amenizar essa situação, a multinacional proporciona benefícios exclusivos para mães e gestantes. “As pessoas definem quem é a empresa e como ela atua. Se não contemplarmos outras vivências, certamente teremos menos potencial para obter soluções e resultados mais ricos.”
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