Moradora da periferia de Guarulhos e a segunda entre sete irmãos, Rebeca Andrade, de 22 anos, fez história na Olimpíada de Tóquio ao se tornar a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha na competição. Sua apresentação ao som de “Baile de Favela” rendeu uma relação de amor à primeira vista com o público. Depois, viria a prata na classificação do individual geral e o ouro nos saltos.
Para chegar ao pódio, Rebeca precisou superar uma série de lesões que a tiraram de algum dos campeonatos mais importantes do esporte, bem como a falta de estrutura financeira que fazia faltar dinheiro até para a condução.
LEIA MAIS: O que os atletas olímpicos nos ensinaram sobre inteligência emocional
Nesta quinta (25), em uma live com Antonio Camarotti, CEO e Publisher da Forbes, a ginasta falou de sua trajetória e contou que planeja ir além. “Como atleta, já cheguei ao topo, mas quero continuar mostrando meu trabalho e inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo”, afirma. “O esporte educa, traz cultura, transforma.”
Veja, na galeria abaixo, cinco vezes em que Rebeca Andrade poderia ter desistido, mas escolheu seguir em frente:
-
Lindsay Wasson/Reuters Na infância, faltava dinheiro até para a condução
Rebeca Andrade começou cedo no esporte – entre os 4 e 5 anos, ela já estava no ginásio, na época em um projeto social apoiado pela prefeitura. A responsabilidade de levá-la até o local de treino foi delegada para o irmão mais velho, já que a mãe, Rosa Santos, trabalhava o dia inteiro como empregada doméstica para dar conta de sustentar sozinha os sete filhos. No início, os dois percorriam o caminho de ônibus usando o dinheiro deixado pela matriarca da família. Com o passar do tempo, no entanto, as coisas apertaram e o gasto precisou ser cortado. Os dois chegaram a percorrer a pé o trajeto de quase duas horas – até que o irmão conseguiu comprar uma bicicleta. “Tinha chão para chegar no ginásio, tinha chão para a gente comer, mas tudo valeu a pena”, conta. O apoio dos familiares, segundo ela, foi fundamental. “Faziam isso porque me amavam e acreditavam em mim.”
-
Reprodução/Instagram Aos 10 anos ela foi morar longe da família
Rebeca se mudou sozinha para Curitiba para treinar profissionalmente quando tinha 10 anos. “Nessa época, eu já morava com os meus treinadores durante a semana, então a mudança não foi tão impactante”, diz. “Mesmo assim, foi difícil saber que eu não veria meus irmãos e minha mãe.” A mudança, que poderia ter sido traumática, foi encarada por ela como uma confirmação de que a ginástica era o seu caminho. E, mesmo tão jovem, a atleta já era movida por um propósito claro: “Eu via aquilo como uma forma de melhorar a vida de toda a minha família, então fiz tudo com muito amor”.
-
Reuters Lesões a afastaram do ginásio por 24 meses
Ao longo da sua carreira no esporte, Rebeca teve três lesões que adiaram o sonho do pódio olímpico. Em 2014, uma cirurgia no pé a tirou das Olimpíadas da Juventude de Nanquim; em 2015, um rompimento no joelho direito a desclassificou do Pan; e em 2019 o mesmo problema ressurgiu durante o Campeonato Brasileiro de Ginástica Olímpica. Entre idas e vindas do hospital, a atleta pensou em desistir. Nesse momento, a presença da mãe foi mais importante do que nunca. A ginasta conta que foi a dona Rosa que a convenceu a permanecer no esporte. “Ela disse que eu era capaz, que sabia que eu conseguiria. E ela estava certa.”
-
Reprodução/Instagram Nenhum brasileiro tinha chegado até ali
Rebeca nunca escondeu sua admiração por Daiane dos Santos, um dos maiores ícones da ginástica artística nacional. Quando o assunto era o pódio olímpico, no entanto, ela não podia se inspirar em ginastas conterrâneas, já que nenhum brasileiro tinha conseguido chegar tão longe. O pioneirismo era um ponto de insegurança. Como se não bastasse, o mundo colocava a americana Simone Biles como potencial campeã de quase todas as disputas. Nada que assustasse Rebeca. “Mesmo com as vitórias em outras competições, eu tinha um objetivo: trazer uma medalha olímpica. Isso me motivava.”
-
Anúncio publicitário -
Reprodução/Instagram Do dia para a noite, a pandemia interrompeu a preparação para os Jogos
Antes do início da pandemia e da Olimpíada de Tóquio, Rebeca passou por um processo de concentração, com uma rotina de treinos intensa e uma forte preparação psicológica. Tudo isso desabou quando, no dia 24 de março de 2020, o comitê internacional anunciou que a competição seria adiada em razão da disseminação de Covid-19. “Comecei a chorar, suar”, conta ela, que estava ao lado da equipe no momento. “Eu falava que aquela era minha chance, que eu preciso ir para as Olimpíadas de qualquer forma.” Depois de ser mandada para casa por quatro meses, a atleta percebeu que o tempo a mais para a preparação seria um grande aliado para o seu desempenho e sua recuperação física. “Foi um divisor de águas, eu cresci muito e me conheci demais nesse período. Deu tudo certo.”
Na infância, faltava dinheiro até para a condução
Rebeca Andrade começou cedo no esporte – entre os 4 e 5 anos, ela já estava no ginásio, na época em um projeto social apoiado pela prefeitura. A responsabilidade de levá-la até o local de treino foi delegada para o irmão mais velho, já que a mãe, Rosa Santos, trabalhava o dia inteiro como empregada doméstica para dar conta de sustentar sozinha os sete filhos. No início, os dois percorriam o caminho de ônibus usando o dinheiro deixado pela matriarca da família. Com o passar do tempo, no entanto, as coisas apertaram e o gasto precisou ser cortado. Os dois chegaram a percorrer a pé o trajeto de quase duas horas – até que o irmão conseguiu comprar uma bicicleta. “Tinha chão para chegar no ginásio, tinha chão para a gente comer, mas tudo valeu a pena”, conta. O apoio dos familiares, segundo ela, foi fundamental. “Faziam isso porque me amavam e acreditavam em mim.”
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.