Elas ainda são raridade nas posições de liderança das áreas financeiras das corporações que atuam no Brasil, mas, gradativamente, esse cenário vem mudando. Atualmente, apenas 10% dos CFOs (chief financial officers) são mulheres, segundo pesquisa da companhia de recrutamento Assetz. O número é ainda menor entre as empresas listadas na Bolsa de Valores nos últimos seis anos: apenas 3,8%.
Felizmente, no entanto, dados recentes sobre as contratações de CFOs mostram que as companhias estão optando cada vez mais por executivas na hora de definir quem fica com a cadeira. A consultoria Russell Reynolds Associates divulgou que, no primeiro semestre de 2021, 50% de seus clientes brasileiros contrataram mulheres para a posição, um salto de quase 30% em relação aos últimos quatro anos. De acordo com o levantamento, além da demanda por diversidade, a valorização das soft skills é um dos motivos por trás do salto nas estatísticas.
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Apesar das competências valiosas, elas demoram mais para chegar à liderança
O estudo da consultoria, batizado de “Tendências sobre as Lideranças de Finanças”, revelou que 80% das companhias cobram técnica e visão estratégica de seus diretores financeiros, enquanto 75% prezam pela parceria com o negócio. Além disso, as empresas também destacaram quesitos como a capacidade de lidar com investidores e de desenvolver equipes mais unidas.
Tais habilidades aparecem justamente atribuídas às lideranças femininas no estudo “O Perfil do CFO no Brasil”, conduzido pela Assetz. O relatório mostrou que apenas as mulheres indicaram o domínio da comunicação efetiva como um dos seus principais atributos, além de 62% delas se considerarem mais claras quanto às expectativas e a solução de problemas.
Outro ponto de destaque é que o desenvolvimento das competências comportamentais não facilita a jornada até o comando. A pesquisa mostrou que as executivas tendem a demorar, em média, dois anos a mais para alcançarem a posição de chief financial officer quando comparadas aos homens. Por fim, 85% das entrevistadas afirmam que conquistaram a vaga graças a promoções internas em empresas onde elas já trabalhavam.
De olho no aumento da presença feminina em cargos de CFO, a Forbes convidou cinco executivas que atuam como chief financial officers para contarem a sua trajetória e inspirarem mulheres que desejam traçar o mesmo caminho. Veja o que elas disseram na galeria abaixo:
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Divulgação Alessandra Segatelli, CFO LatAm da Pearson
Alessandra Segatelli é a atual chief financial officer para América Latina na Pearson Education, companhia mundial da área de educação. Ao longo de duas décadas de carreira, a executiva passou por empresas como Mead Johnson, Danone, Disney e Pepsico. É também professora do curso de ciências contábeis no Mackenzie e uma das cofundadoras do W-CFO Brazil.
Graduada em administração de empresas pela Universidade de São Paulo, Alessandra possui pós-graduação em administração industrial pela mesma instituição e MBA em gestão econômica pela FGV, além de ser mestre em finanças pelo Mackenzie.
A executiva conta que um dos fatores mais importantes em seu desenvolvimento profissional foi o apoio de outros líderes e colegas de equipe. “Eles me ensinaram que talento e habilidades técnicas são importantes, mas só é possível ser um bom líder quando se compreende a importância do trabalho em equipe. Confiar em suas capacidades, estar sempre aberto a aprender, respeitar opiniões e visões de mundo diferentes e compartilhar conhecimentos e experiências são qualidades que considero inestimáveis para inspirar, engajar e conduzir pessoas a atingirem resultados de alta performance”, afirma.
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Gabriel Quintão Silvia Vilas Boas, CFO LatAm da Natura &Co
Mãe de dois meninos, esportista e apaixonada pelas relações humanas, Silvia Vilas Boas é a chief financial officer responsável por toda a estratégia econômica do grupo Natura &Co – que detém as marcas Avon, Natura, The Body Shop e Aesop – na América Latina. Ao longo de mais de 20 anos de carreira, a executiva já foi VP de finanças da varejista Pernambucanas e superintendente de gestão no Banco Santander.
Formada em engenharia mecatrônica pela PUC-MG, Silvia também tem MBA em finanças pela FIA e especialização em gestão estratégica de recursos humanos pela Fundação Getulio Vargas. É, ainda, conselheira formada pela Fundação Dom Cabral (FDC). Além disso, cofundou o W-CFO Brazil, grupo sem fins lucrativos formado por mulheres executivas de finanças que tem o objetivo de apoiá-las mutuamente, promover a diversidade e inspirar novas profissionais e novas lideranças na área financeira.
Às mulheres que seguem uma trajetória nesse setor, Silvia reforça o valor da diversidade e da empatia. “Há uma potência enorme em acolher a própria diversidade, em se permitir ser muitas: mãe, executiva, líder e o que mais a impulsionar a aprender algo novo, rever conceitos, ouvir as pessoas, viver novas experiências. Essa flexibilidade certamente pavimentou a minha jornada até aqui.”
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Divulgação Viviane Valente, CFO da Tigre
Vivianne Cunha Valente iniciou sua carreira financeira na Ambev ainda nos anos de 1990. Graduada em administração de empresas pela Universidade Federal da Bahia, pós-graduação em finanças pela Fundação Getulio Vargas e MBA executivo pela Business Scholl de São Paulo – além de formações executivas pela Fundação Dom Cabral, Insead, Universidade de Chicago e Toronto -, a executiva chegou a atuar como financial adviser e finance coordinator ao longo de sua trajetória. Só 20 anos depois foi chamada para assumir, pela primeira vez, a posição de chief financial officer, na época na Companhia Brasileira de Cartuchos.
De lá para cá, Viviane foi diretora financeira de outras três empresas – a multinacional de inteligência de mercado Ipsos, a startup de processamento de transações Elavon e, por último, a fábrica de plásticos e tubulações Tigre – onde permanece até hoje.
Uma das recomendações da executiva é ficar atento à necessidade tanto de experiência técnica quanto de desenvolvimento das soft skills. “Independentemente de ser mulher, para ser um CFO sólido é essencial ter uma experiência rica em controladoria, planejamento financeiro e tesouraria. Além dessas matérias técnicas, atuar em empresas diversas faz toda a diferença, sejam elas brasileiras, multinacionais, B2B ou B2C. As experiências trazem desafios distintos de aplicação dos temas e nos dão repertório. É importante fazer com que suas características femininas sejam vantagens competitivas, principalmente neste momento em que, finalmente, cultura e soft skills (ou human skills) são diferenciais. Também é preciso buscar equilíbrio emocional e adotar um tom de comunicação assertivo e empático”, sugere.
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Divulgação Flávia Schlesinger , CFO da Pepsico Brasil
Há quase 30 anos no mercado, Flávia Schlesinger está à frente de toda a organização financeira da PepsiCo no Brasil, uma das líderes mundiais no setor de alimentos e bebidas que, só no último ano, reportou receita líquida de US$ 70 bilhões. Desde seu ingresso na companhia, em 2016, Flávia vinha atuando como diretora sênior de finanças, até que acabou promovida ao cargo de CFO há pouco mais de um ano. Hoje, ela é responsável por supervisionar um grupo de mais de 500 funcionários.
Bacharel em administração de empresas pela PUC-SP e com MBA executivo pela Joseph Katz Business School da Universidade de Pittsburgh, Flávia é também vice-presidente da diretoria executiva do IBEF (Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças), onde atua na comissão de governança do IBEF Mulher e na diretoria vogal. Na PepsiCo, é, ainda, mentora do programa Mulheres com Propósito, que apoia o empoderamento feminino por meio do empreendedorismo.
Para outras mulheres que desejam chegar a uma posição de liderança na área financeira, a executiva aconselha que elas acreditem verdadeiramente em seu potencial. “Não permita que digam que esse lugar não é para você. Capacite-se, informe-se e inspire-se em mulheres que chegaram lá. Saiba que você também pode! Busque se colocar em ambientes que a desenvolvam e tenham políticas de equidade genuínas”, afirma.
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Divulgação Joana Lopes, CFO da Bayer Crop Science
Joana Lopes se define como alguém que gosta de cozinhar, viajar, ler e estar com os amigos. Atualmente, a executiva também é a líder de finanças da divisão Crop Science da Bayer na América Latina. Há mais de 20 anos nesse mercado, ela já foi chief financial officer de companhias como Johnson & Johnson e Pernod Ricard.
Formada em engenharia de produção pela Escola Politécnica de Engenharia da Universidade de São Paulo e com MBA executivo pela Universidade de Michigan, Joana diz que as mulheres não precisam deixar de ser elas mesmas para se tornarem líderes de sucesso. “Para mim, por exemplo, sempre foi importante estar perto das minhas filhas: estar em casa antes de irem dormir, estar presente nos jogos da escola etc. Claro que isso demanda uma dedicação adicional em outros horários e também uma boa organização do suporte que temos em casa e na escola, mas esse equilíbrio pessoal-profissional sempre foi um fator decisivo para eu seguir evoluindo feliz na minha carreira profissional”, conta.
Outro ponto que a executiva destaca é o desenvolvimento constante. “Não se acomode e siga buscando oportunidades de aprendizado e crescimento profissional. Tudo isso fica mais fácil se você trabalhar em lugares que tenham valores semelhantes aos seus, com pessoas que façam você se sentir bem.”
Alessandra Segatelli, CFO LatAm da Pearson
Alessandra Segatelli é a atual chief financial officer para América Latina na Pearson Education, companhia mundial da área de educação. Ao longo de duas décadas de carreira, a executiva passou por empresas como Mead Johnson, Danone, Disney e Pepsico. É também professora do curso de ciências contábeis no Mackenzie e uma das cofundadoras do W-CFO Brazil.
Graduada em administração de empresas pela Universidade de São Paulo, Alessandra possui pós-graduação em administração industrial pela mesma instituição e MBA em gestão econômica pela FGV, além de ser mestre em finanças pelo Mackenzie.
A executiva conta que um dos fatores mais importantes em seu desenvolvimento profissional foi o apoio de outros líderes e colegas de equipe. “Eles me ensinaram que talento e habilidades técnicas são importantes, mas só é possível ser um bom líder quando se compreende a importância do trabalho em equipe. Confiar em suas capacidades, estar sempre aberto a aprender, respeitar opiniões e visões de mundo diferentes e compartilhar conhecimentos e experiências são qualidades que considero inestimáveis para inspirar, engajar e conduzir pessoas a atingirem resultados de alta performance”, afirma.
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