Vamos fazer de conta que um gênio da lâmpada apareceu e lhe ofereceu um presente: você ganhou um dia completamente seu, na próxima segunda-feira. Sem responsabilidades, obrigações ou preocupações. O verdadeiro day off. Você pode fazer o que quiser, onde quiser. Na verdade, você tem a chance de passar 8 horas em qualquer lugar do mundo. Vamos fazer um teletransporte para lá logo cedo e o retorno acontecerá no fim da tarde. Para onde você deseja ir?
Vou deixar mais uma linha de texto para você pensar nessa resposta. Onde você quer passar o horário comercial da sua próxima segunda-feira? Escolhi esse dia de propósito, para dar uma mínima chance para algo que seja profissional. Mas eu aposto todas as minhas fichas que você não pediu para o gênio para ficar no seu trabalho.
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A pergunta que está por trás dessa brincadeira é mais séria: se você pudesse escolher, onde estaria enquanto está trabalhando? Não estou falando de trabalhar remotamente. É sobre onde seu coração e seus pensamentos estão enquanto seu corpo está no emprego.
Tem gente que coloca uma imagem paradisíaca no fundo de tela do computador. Outros deixam um porta-retrato com uma imagem da família na posição de destaque na mesa. E ainda tem gente que pendura um calendário com as 7 maravilhas do mundo na parede do escritório. Por que fazemos isso?
Pode ser que a gente simplesmente esteja trazendo uma pequena boa lembrança à nossa rotina. Mas tendo a acreditar que muitas vezes não estamos apenas decorando a nossa estação de trabalho, podemos estar tentando dizer algo para nós mesmos. Estamos colocando um lembrete que pisca o dia inteiro: “eu não queria estar aqui”.
Calma, esse texto não existe para defender a teoria de que não devemos ter fotos dos filhos no trabalho. Eu também gosto de lembrar dos meus. Mas o que aconteceria se a gente almoçasse um prato de chuchu cozido todos os dias pensando em um Big Mac?
Se o seu trabalho é um suplício, o último lugar onde você gostaria de estar ou um “mal necessário”, a gente tem um problema para resolver. Com o tempo, isso certamente vai provocar sentimentos de tristeza que acabam refletindo não apenas na nossa performance, mas na nossa satisfação de vida. Eu entendo que o trabalho nunca vai ser tão prazeroso como um fim de semana de férias. Mas ele ocupa tempo demais na nossa agenda para não ser algo que traz coisas boas.
Se a vida fosse um banquete, ouso dizer que o trabalho seria o prato principal. Não por ser o mais importante, mas pela proporção que ele ocupa. E não faz sentido participar de um jantar sem desfrutar o prato principal. Nós passamos mais da metade da vida adulta trabalhando. Como podemos ajustar as nossas intenções para querer estar ali?
Talvez o segredo esteja em mudar a forma como vemos o nosso trabalho. Trabalhar é servir, uma atividade que muda o mundo e constrói a realidade. Trabalhar é ser útil, ajudar os outros e suprir a necessidade do próximo. Trabalhar é um “bem necessário”, porque o mundo precisa do seu trabalho. O trabalho não é uma barreira para os seus propósitos de vida, talvez ele seja justamente o meio.
Sei que nunca vamos colocar um porta-retrato com uma foto do escritório na nossa sala de casa. Mas hoje o convite é para que você repense a relação que tem com ele. E para que coloque uma generosa porção de molho especial nesse chuchu. Bom apetite!
João Branco é CMO do McDonald’s. linkedin.com/in/falajoaobranco / Instagram @falajoaobranco
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