A união entre o melhor do trabalho híbrido e as vantagens do home office pode estar no metaverso. Assim como promete mudar a comunicação nas redes ou a maneira como compramos algo, esse ambiente artificial também pode trazer uma nova experiência de trabalho, revendo as relações e reduzindo a fadiga digital, por exemplo. No Workrooms, plataforma desenvolvida pelo Meta (o antigo Facebook), em fase de testes desde setembro de 2021, funcionários vestem um óculos de realidade virtual e se veem transportados para uma sala de conferências também virtual. Cada pessoa é representada por um avatar e pode interagir com computadores, projetores e uns com os outros. Ainda em fase de desenvolvimento, a tecnologia permite que profissionais interajam em um ambiente completamente virtual. A tendência está atraindo investimentos de gigantes do setor de tecnologia, como o Facebook, Microsoft e NVIDIA.
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Uma das questões que o metaverso corporativo pretende lidar é o sentimento de solidão que afeta a produtividade e a saúde mental de profissionais que passam muito tempo isolados. De acordo com um relatório divulgado pela empresa de gerenciamento de mídias sociais Buffer, feito com 2,3 mil profissionais de 5 países diferentes, 16% elencaram a falta de contato com outras pessoas como seu grande desafio — colocando o tópico em segundo lugar da lista, junto com a dificuldade no trabalho colaborativo. ‘No metaverso, você se sente como se estivesse ao lado de alguém, tendo experiências visuais e sensoriais durante esse processo”, diz Wagner Salles, professor em Gestão de Recursos Humanos da Universidade Veiga de Almeida. O design organizacional também pode sofrer mudanças. Com o metaverso, modelos de trabalho mais verticalizados, com menos hierarquias e mais colaboração, ganham força. “Entendo que o mercado de hoje já está nesse caminho. Mas o metaverso tende a aprofundá-lo ainda mais.”
O metaverso e as transformações no mercado
A entrevista de emprego vai ser outro momento que pode mudar com o uso de realidade virtual nas companhias. A nova tecnologia vai permitir que entrevistas, provas e dinâmicas em grupo aconteçam no metaverso. Sem dizer que, sem a necessidade de deslocamento, quem presta serviços ou precisa se deslocar durante o dia, ganha tempo. “O metaverso pode favorecer o profissional no regime de trabalho intermitente, que pode estar em uma empresa de manhã e em outra à tarde”, diz Salles.
A mudança exigiria adaptações de empresas e funcionários. Interagir virtualmente em tal nível de imersão vai demandar uma série de novas condutas e dinâmicas sociais. “As discussões sobre comportamento nas redes sociais podem ser transferidas para o metaverso. O que seria uma fake news no metaverso?”, diz Salles. Dentro desse pacote de boas práticas também entram normas de etiqueta, padrões de socialização e até mesmo a forma como cada profissional criaria seu avatar. Não existem, ainda, definições sobre o responsável por regulamentar e fiscalizar esses ambientes, especialmente para o caso de trabalhadores a serviço de empresas estrangeiras, ou sobre quem vai lidar com questões como assédio moral e sexual, assim como a definição de privacidade e saúde do trabalho. “Ainda não temos no Brasil uma regulamentação clara para o trabalho remoto, que dirá para o metaverso.”