A Lista Forbes Melhores CEOs do Brasil 2021 destaca 10 líderes que melhor enfrentaram o cenário de crise sanitária e econômica, mantendo ou elevando a relevância de suas marcas e os indicadores financeiros de seus negócios.
Como todo recorte, é esperado que profissionais igualmente merecedores tenham ficado de fora desta seleção – e a eles pedimos que se sintam representados pelos colegas perfilados a seguir.
Confira a lista completa:
Alexandre Birman, Arezzo
Ele nasceu mais ou menos junto com a outra “filha”de seus pais: A Arezzo, que está completamento 49 anos.
“Eu brinco que nasci numa caixa de sapatos”, diz Alexandre, que, apesar de ter no currículo o curso de administração de empresas e a participação no Owners and President Management Program, da Harvard Business School, orgulha-se de dizer que é sapateiro.
“Aos 12 anos fiz meu primeiro sapato”, lembra. “E nunca tive dúvidas do caminho profissional que queria seguir. Passei por todas as áreas da empresa, estudei fora, tive uma formação sólida dentro e fora de casa, e aos 18 anos criei a Schutz”, empolga-se. Desde 2011, após o IPO da Arezzo&Co (R$ 566 milhões), ele é CEO e CCO do grupo.
Perguntado sobre seus ídolos e gurus nos negócios e na vida, não titubeia: “Meu maior ídolo e amigo é meu pai, Anderson Birman, um homem visionário, que me ensina, me inspira e está sempre presente em minha vida”. Alexandre também cita James Collins e Dan Klein, cientista da computação que defende o “power of improvisation.”
Por falar em improvisação, como atravessou as turbulências impostas pela crise global? “A maior dificuldade foi o período de lojas fechadas. Então criamos mecanismos para desenvolver a venda remota. O resultado foi surpreendente, a omnicanalidade é uma realidade, e aqui na Arezzo trabalhamos sem parar para aprimorar e evoluir a experiência da cliente, para encantá-la”, conta.
“Acabamos de inaugurar o ZZHUB, um hub de inovação em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, que será uma incubadora de produtos e negócios digitais, o ambiente ideal para acelerar a inovação e aprimorar cada vez mais essa experiência.”
Triatleta, Alexandre faz do esporte uma verdadeira religião: “É minha forma de conexão interior mais pro- funda”. A mesma intensidade dos treinos, aconselha, deve ser levada ao mundo dos negócios. Essa intensidade pode ser vista no recente histórico de “ataques” que a Arezzo fez no mercado.
Em junho, o conselho de administração aprovou acordo para a aquisição da empresa de moda BAW Clothing por R$ 105 milhões (com expectativa de faturamento de R$ 80 milhões ainda em 2021). Em julho, anunciou sua entrada no segmento de calçados e bolsas femininos de preços mais acessíveis com a aquisição da My Shoes. Em outubro de 2020, anunciou a compra da rede de moda Reserva em uma operação de R$ 715 milhões. Seis meses depois, tentou fazer o mesmo com a Hering.
- Livro: “Great by Choice”, de James Collins (É meu livro de cabeceira, mostra como viveremos sempre em cenários imprevisíveis e incertos)
- Filme: “À Procura da Felicidade”, com Will Smith (Uma lição de vida e esperança, me marcou pelo exemplo de perseverança)
- Música: Todas do Queen
- Lugar: Minha casa, junto de minha esposa Gabriela e de meus filhos
Andrea Rolim, Kimberly-Clark
Economia, Marketing, Gestão de negócios, Governança Corporativa, Comunicação, Gestão Financeira… A formação da mulher que preside a Kimberly-Clark no Brasil é tão ampla quanto o alcance (140 países) e o portfólio da multinacional norte-americana, que no Brasil inclui marcas conhecidas como Huggies, Neve, Kleenex, Scott, Intimus…
A operação brasileira, que está comemorando 25 anos, é comandada pela paulistana Andrea Rolim desde setembro de 2020, depois de importantes passagens por Unilever, Grupo Pão de Açúcar, Yum! Brands e GSK.
Filha de mãe professora e pai bancário, ela diz à Forbes que se inspira em pessoas que usam o seu conhecimento para transformar, que são capazes de ter empatia de maneira genuína. “O que me move é o aprendizado. Gosto sempre de me desenvolver em novas atividades.”
Empatia é o que explica sua principal preocupação na empresa: “Garantir a segurança e o bem-estar dos colaboradores e seus familiares, tanto física quanto mental”. Se a empresa prega o cuidado com os clientes, não seria diferente internamente, diz ela. “Os colaboradores dos escritórios foram direcionados para o trabalho remoto. Mantivemos os colaboradores das fábricas e dos centros de distribuição trabalhando presencialmente afinal, fornecemos produtos essenciais para a população e precisávamos manter nossas atividades. Estabelecemos protocolos rígidos da segurança e medidas de proteção e seguimos as orientações das autoridades globais de saúde.”
Outras duas habilidades citadas pela executiva como fundamentais a um bom gestor em cenários desafiadores são a resiliência e a adaptabilidade. “Precisamos nos adaptar a novos modelos de trabalho e até de relações familiares.”
Globalmente, o faturamento da Kimberly-Clark foi de US$ 19,1 bilhões em 2020 (contra US$ 18,5 bilhões em 2019).
A empresa não divulga dados regionais, mas a gestão de Andrea, primeira mulher a assumir a presidência da empresa no Brasil, mantém o crescimento de dois dígitos e avança em iniciativas de inclusão e diversidade (LGBTQIA+, gênero, gerações, PCD e raças).
Em um ano, as metas de sustentabilidade (como Carbon Free e Aterro Zero) também foram reforçadas, assim como ações sociais de janeiro a agosto de 2021, a empresa impactou mais de 500 mil pessoas na América Latina, com as doações no Brasil somando mais de 7 milhões de itens, além de doação em dinheiro
- Livro: “O Imperador de Todos os Males”, de Siddhartha Mukherjee, que fala sobre como os aprendizados e erros são importantes para chegarmos ao resultado esperado
- Filme: “Little Fires Everywhere”, série que retrata as relações entre as pessoas na sociedade e na família
- Música: Não consigo eleger uma só
- Lugar: Rio de Janeiro
Dennis Herszkowicz, Totvs
Cabeça fria. Para Dennis Herszkowicz – paulistano de 46 anos, descendente de judeus poloneses que chegaram ao Brasil nos anos 1920, essa é a habilidade essencial para enfrentar uma pandemia.
“Manter a cabeça fria é importante para conseguir tomar as melhores decisões”, justifica o executivo que está na presidência da Totvs desde novembro de 2018, sucedendo o fundador Laércio Cosentino.
“Algo que desenvolvemos muito foi a resiliência e a autonomia dos nossos times. Felizmente, a autonomia é um dos pontos fortes de nossa cultura.” Com investimentos de R$ 1,9 bilhão em pesquisa e desenvolvimento para mais de 40 mil clientes (micro, pequenos, médios e grandes), a TOTVS oferece plataformas para gestão de empresas de 12 segmentos de mercado, além de serviços financeiros e soluções de business performance.
Em 2019, a receita líquida foi de R$ 2,3 bilhões , no ano seguinte, R$ 2,6 bilhões. O primeiro semestre de 2021, nas palavras de Dennis, teve ótimos resultados, como a receita consolidada de R$ 763 milhões. No dia 21 de setembro, a companhia anunciou precificação de seu follow-on de oferta restrita em R$ 36,75 por ação. O capital social da empresa quase dobrou: foi de R$ 1,5 bilhão para R$ 2,9 bilhões.
“A Totvs é a provedora dos principais sistemas de gestão do país. Nossos clientes representam cerca de 25% do PIB. Nossos ERPs [Enterprise Resource Planning] são as aplicações mais críticas para essas empresas funcionarem. Portanto, a TOTVS não poderia parar nem por um minuto na pandemia.” Formado em marketing pela ESPM, Dennis atua há mais de 20 anos na área de tecnologia.
“Queria dar certo. E minha referência de dar certo era ganhar dinheiro rápido.” Para tanto, ao se formar, passou dois anos no mercado financeiro. No fim dos anos 1990, fundou a Gibraltar. com, empresa de e-commerce que durou de novembro de 1999 a outubro de 2000. Na sequência, foi diretor geral do DeRemate.com no Brasil.
Por 15 anos, atuou na Linx. Entre 2012 e 2017, foi CFO e diretor de Relações com Investidores, responsável pelo IPO em 2013 e 20 aquisições no período. “O maior aprendizado que tive, e que tento passar adiante como gestor, é ter bom senso. Isso parece simples e óbvio e é mesmo”, aconselha o executivo, corintiano fanático, que, entre os líderes do passado, admira Winston Churchill, Franklin Roosevelt e David Ben Gurion.
Longe do trabalho, Dennis adora ler, cozinhar, jogar tênis e ficar com a família (dois filhos “esportistas natos”: Daniel, 11 anos, futsal; e David, 13, hipismo).
- Livro: “Memórias da Segunda Guerra Mundial”, de Winston Churchill
- Filme: “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg
- Música: “A Fórmula do Amor”, de Kid Abelha
- Lugar: Mitzpe Ramon, no deserto do Negev, em Israel
Fabio Venturelli, São Martinho
“Eu lembro que nos primeiros dias de confinamento, minha esposa descobriu onde ficava a cozinha de casa, e isso me chamou a atenção. Depois, vejo ela fazendo bolo… E noto todo mundo postando bolo nas redes sociais…”, recorda Fabio Venturelli, paulistano de 55 anos, engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica (USP), na São Martinho desde outubro de 2007. Aí, veio o clique.
“Se tem uma coisa que a gente produz, e pode dar algum conforto em um momento de stress social, emocional tão grande, é o açúcar!” Fabio reuniu a diretoria e trouxe a ideia: Será que a gente consegue virar toda a produção para açúcar e produzir muito pouco etanol, agora que ninguém está usando carro? Vamos aproveitar a janela em que o Brasil não exporta muito açúcar, no começo da safra, de abril a junho. E a turma comprou minha ideia, vamos em frente!”, continua Fabio sobre a estratégia vencedora de uma das maiores empresas do setor sucroenergético do país, com poder de moagem na casa dos 24 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra.
A origem da companhia remete a 1914, quando a família Ometto chegou da Itália e montou seu primeiro engenho de cana, o Sítio Olaria. Açúcar foi produzido pela primeira vez na Fazenda Boa Vista, em 1932. Hoje, a São Martinho faz a gestão de 350 mil hectares de área agricultável e quatro usinas em operação. O faturamento na safra 2019/20 foi de R$ 4,1 bilhões, número que saltou para R$ 4,6 bilhões em 2020/21.
Com a decisão de começar a produzir açúcar, a empresa criou um protocolo próprio de segurança e trouxe tranquilidade para a família de seus 13 mil colaboradores. “A gente virou muito rápido a produção, os navios viram que tinha carga, embarcamos o açúcar e o preço do produto começou a subir. Aí, quando entra- mos com a produção de etanol, o preço da gasolina já não estava tão ruim. Na maior adversidade possível, tivemos o melhor resultado da história.”
Apaixonado por esportes, praticante de tênis e torcedor do Palmeiras graças à paixão herdada do avô Américo, Fabio conta: “Sempre idealizei, e a gente construiu, uma companhia que fosse resiliente a ponto de gerar resultado mesmo nos piores momentos”.
Para os planos dos próximos dez anos, duas palavras regem o futuro: digital e inovação. “Fizemos a primeira operação agroindustrial do mundo em 5G, com uma ultraprecisão, integrando o campo com a indústria [parcerias com Ericsson e Vivo]. Criamos uma plataforma e, em poucas semanas, 152 startups do mundo inteiro se inscreveram com o desenvolvimento de tecnologias para o agronegócio.”
- Livro: “Younger Next Year”, de Chis Crowley e Henry S. Lodge
- Filme: “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola
- Música: “Can’t Take My Eyes Off You”, de Frankie Valli
- Lugar: Na praia com a família. As favoritas: Noronha, Trancoso, Mikonos, Sardenha, Miami e Havaí
Geraldo Thomaz, VTex
O jeito de garotão carioca (“Sou nascido e criado no Rio”) é a marca registrada desse engenheiro mecânico que enveredou com enorme sucesso para o ramo de tecnologia.
Basta dizer que a VTex, que Geraldo Thomaz fundou no ano 2000 ao lado colega de UFRJ Mariano Gomide (também seu colega de caça submarina), é uma das maiores desenvolvedoras de tecnologia para comércio digital (com foco em cloud commerce) do mundo, com clientes como Sony, Walmart, Whirlpool, Coca-Cola, Stanley Black & Decker, AB InBev e Nestlé, além de 2.500 lojas online ativas em 32 países.
Considerada visionária, em 2020 a VTex recebeu aporte de US$ 365 milhões (Softbank, Tiger Global, Lone Pine Capital, Constellation e Endeavor Catalyst), o que elevou seu valor para US$ 1,7 bilhão.
Mesmo com essa boa notícia em plena pandemia, houve momentos de apreensão. “Não saber o que seria do dia seguinte gerou inicialmente uma paralisia em todos nós”, lembra Geraldo. “Nesse contexto, como a incerteza e a volatilidade eram e são cada vez mais inevitáveis, aproveitamos nossa atuação global para compreender como a pandemia tem afetado outros países e assim buscar as melhores formas de enfrentar os desafios trazidos por ela.”
Na crise sanitária global, ele aprendeu que “uma vida intensa e boa tem momentos bons e momentos difíceis – e que o segredo é lidar com os momentos difíceis com a mesma serenidade e a mesma energia com que lidamos com os momentos bons”.
A estratégia parece estar dando certo: em 2020, a empresa teve receita de US$ 99 milhões, um crescimento de 95% em relação a 2019; e só no primeiro semestre de 2021, o caixa registrou a entrada de US$ 56,8 milhões. Para o 2022 que se aproxima, a expectativa de Geraldo é realista: o ano ainda será altamente afetado pelos efeitos da pandemia.
“Todos ainda viveremos períodos de grande ansiedade. Falando especificamente do negócio, o crescimento de novas lojas online deve continuar. O mundo mudou, e a aceleração do comércio eletrônico veio para ficar.”
O lado bom de tudo isso: “Tenho três filhas superinteressadas em descobrir o mundo em que vivem. Esse é o meu maior prazer fora do trabalho: vê-las crescer. A pandemia teve um papel impressionante em me aproximar ainda mais delas”
- Livro: “Chatô: O Rei do Brasil” (Nada é perene: muita gente nunca ouviu falar da TVTupi)
- Filme: Já vi muitos filmes bons, todos têm seu tempo na minha cabeça e se vão
- Música: “In My Life”, dos Beatles, e “Reconvexo”, de Caetano Veloso
- Lugar: Rio de Janeiro
João Vitor Menin, Banco Inter
Começo a conversa com João Vitor com uma “bronca”: por que o Banco Inter, do qual é acionista e CEO, deixou de ser patrocinador do São Paulo FC? Ele ri e desconversa, como bom gestor (e mineiro) que é: “Foram quatro anos muito bons de parceria com o clube”.
As atenções do banco digital estão voltadas para “fora das quatro linhas”: internacionalização, aumento da base de clientes (que atingiu a marca de 12 milhões no fechamento do segundo trimestre, mais que o dobro do 2T20), aprimoramento dos serviços (foram transacionados R$ 9,4 bilhões em cartões no segundo trimestre, alta de 217% ano a ano e de 24,4% diante do 1T21) e várias outras ações operacionais e estratégicas. Nesse segundo grupo entra a ampliação da parceria (ou mesmo uma possível fusão) com a Stone, para quem o Banco Inter vendeu uma fatia minoritária em junho.
Nascido há 39 anos em Belo Horizonte, filho de Rubens Menin (dono da construtora MRV, do próprio Banco Inter e mais recentemente da CNN), conta que sua família sempre foi marcada pelo empreendedorismo e pela educação, graças à influência da mãe professora.
Está no Inter desde 2004, quando entrou como estagiário depois de passar quatro anos na MRV – o último deles cumprindo meio período em cada uma. Formado em engenharia civil com MBA pelo Ibmec de BH, encontrou nos números (especialmente os ligados a finanças, e não a cálculos estruturais) sua vocação. Contrastando com seu estilo low profile, diz admirar o espírito ousado de Elon Musk.
Sobre a pandemia, assunto inevitável quando se fala em gestão em tempos recentes, diz orgulhar-se do modo como engajou todos os colaboradores na travessia da “tempestade” e na adoção do modelo home-office de trabalho – “que só não teve 100% de adesão porque eu vim todos os dias para o escritório”.
“Tirando as primeiras semanas, de muitas incertezas, 2019 e 2020 foram anos muito bons para nosso negócio. Terminamos 2020 com 8 milhões de clientes e vamos terminar 2021 com 16 milhões ou mais”, afirma.
Depois do IPO de 2018, no qual levantou R$ 722 milhões, o Banco Inter fez três follow-ons, o mais recente em junho deste ano, com captação de R$ 5,5 bilhões (sendo R$ 2,5 bilhões da Stone). “Foi espetacular, um sucesso absoluto.”
Como conselho de gestão – mas que serve para a vida de forma geral – ele diz: “Seja o protagonista de sua carreira e de sua vida”. Protagonismo que João Vitor espera alcançar no setor bancário brasileiro – incluindo os grandes e tradicionais bancos “físicos” – em um futuro muito próximo.
- Livro: “Os Mercadores da Noite”, de Ivan Sant’Anna
- Filme: “Um Bom Ano”, de Ridley Scott
- Música: Bossa nova (qualquer uma, de preferência na praia)
- Lugar: A sala da minha casa
Juliana Azevedo, P&G
A história de dedicação de Juliana Azevedo à P&G daria um filme: a atual CEO no Brasil entrou na companhia em 1996 como estagiária na área de marketing, trabalhando com produtos de cuidados femininos e para o bebê.
Uma vez efetivada, galgou a posição de gerente de produto. Depois, assumiu o posto de diretora para as marcas de beleza no Brasil, como Pantene e Head&Shoulders.
“Nesse cargo, acumulei a função de diretora de vendas e comecei a ter uma experiência fora do mercado de marketing. Alguns anos mais tarde, fui promovida a VP de Beleza para América Latina – foi quando passei a ter uma visão de operação mesmo.
Por último, antes de voltar ao Brasil como CEO, atuei como VP Global para as marcas de cuidados femininos da P&G, coordenando desde estratégias até desenvolvimento de produtos e comunicação em mais de 152 países. São 25 anos de P&G”, contabiliza a paulistana, filha de empresários, formada em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP e em direito pela PUC.
A companhia de 181 anos de tradição atinge quase 5 bilhões de pessoas ao redor do mundo. O lema da P&G quando a pandemia bateu no Brasil foi “cuidar e abastecer”. “O primeiro desafio foi cuidar da saúde física e mental dos nossos funcionários. Ao mesmo tempo, tomamos como missão abastecer a comunidade com produtos essenciais para a higiene e cuidado.”
Juliana conta que a companhia trouxe estratégias e ações de benefício à ciência. “Demos apoio financeiro para o grupo da Dra. Ester Sabino, que sequenciou o genoma da Covid-19. Atuamos em locais de vulnerabilidade, doamos 2.500 metros cúbicos de oxigênio em Manaus, 80 toneladas de alimentos e R$ 40 milhões em produtos, e mais de meio milhão de máscaras descartáveis. Tivemos uma mobilização enorme dos funcionários. Juntos, nós nos tornamos melhores cidadãos.”
Entre ídolos e nomes que a inspiram, a CEO colocou os pais em primeiro lugar. “Me inspiro com mentores como Melanie Healey, que me contratou na P&G e me acompanha até hoje, e profissionais maravilhosos que cruzaram meu caminho, como Nizan Guanaes. O trabalho em alguns conselhos me presenteou com o contato (e até amizade) com gigantes como Rachel Maia e Edu Lyra.
Em 2022, os três focos principais serão: impacto na comunidade, equidade e inclusão e sustentabilidade ambiental. “Nos comprometemos a ser neutros em carbono até 2040, com projetos como a restauração de parte da mata atlântica.” Nas horas vagas, Juliana gosta de viajar e curtir o filho, “que está numa fase muito interessante de descobertas da pré-adolescência”. Na pandemia, iniciou uma prática que deve continuar: ioga
- Livro: “Thank You For Disrupting”, de Jean-Marie Dru, e “Pequeno Manual Antirracista”, de Djamila Ribeiro
- Filme: “Perfume de Mulher”, de Martin Brest, e “…E o Vento Levou”, de Victor Fleming
- Música: Os musicais da Broadway são uma paixão antiga. “O Fantasma da Ópera” é um dos meus preferidos
- Lugar: Onde eu estiver com pessoas amadas
Mauricio Russomano, Unipar
Paulistano de 46 anos, Mauricio não esperou o coronavírus desembarcar no Brasil para tomar uma atitude em relação à Unipar, que, por ano, produz mais de 4 milhões de toneladas de produtos químicos em suas três fábricas: Cubatão e Santo André (SP) e Bahía Blanca (Argentina). Criada em 1969, a Unipar é líder na produção de cloro, soda e PVC na América do Sul.
“Conversei por telefone com um amigo italiano que falou da real situação de mortes e de isolamento na Itália. Meu primeiro pensamento foi: se nossos aeroportos seguem abertos, esse negócio vai logo chegar por aqui…” Era uma sexta à noite. Mauricio conectou o gerente de saúde e o diretor de operações da companhia. Conversaram até as 2h da manhã.
“No sábado, falei com nossa comunicação e pedi uma reunião à tarde. Me sugeriram deixar para segunda, e eu respondi que não, e já realinhei toda a estrutura dos nossos processos internos.”
No final, o “resultado foi espetacular”. “A fábrica não parou um minuto. Quando houve uma explosão de demanda em junho, tínhamos estoque alto.”
Em 2019, a Unipar reportou receita líquida consolidada de R$ 3,048 bilhões, com o lucro líquido de R$ 172,3 milhões. Ano passado, o faturamento saltou para R$ 3,8 bilhões, com lucro líquido de R$ 370 milhões. “No primeiro semestre de 2021, seguimos com excelente desempenho operacional: receita líquida de R$ 2,478 bilhões, 61,1% superior em relação ao primeiro semestre de 2020.”
O executivo entrou na companhia no final de 2018, ao deixar a Votorantim com o desafio de ser CEO da Unipar em janeiro de 2020. Formado em engenharia pela Escola Politécnica (USP) e Worcester Polytechnic Institute, com MBA na London Business School e na Columbia Business School, Mauricio tem mais de 20 anos de experiência, trabalhando em países como EUA, Suíça, Bélgica e Espanha. Atuou nos segmentos energético, farmacêutico, cosmético, alimentício, agro e de construção.
Entre os conselhos para um bom gestor, cita o cuidado com a saúde física e mental; aprender continuamente sobre qualquer assunto que mantenha o cérebro estimulado e ter interesse genuíno pelas pessoas em seu entorno.
Além de ter o pai como um mentor, Mauricio também admira Walter Dissinger, John Cataldo e Sidney Taurel. Praticante de golfe e ginástica, e jogador de handebol por muitos anos, no esporte, seus ídolos são Michael Jordan, Tiger Woods e Roger Federer.
Sobre os próximos passos da companhia, Mauricio destaca os projetos com a AES Brasil e a Atlas Renewable Energy para a construção de parques de geração de energia eólica, na Bahia, e solar, em Minas Gerais.
- Livro: “Golf Is Not a Game of Perfect”, de Bob Rotella
- Filme: “O Poderoso Chefão (Parte 1)”, de Francis Ford Coppola
- Música: “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘N’ Roll)”, do AC/DC
- Lugar: Aqui, agora
Pietro Labriola, Tim
Um dos CEOs mais premiados do país não é brasileiros (a lista de honrarias não cabe nesta página). Pietro Labriola nasceu em Altamura, na Puglia (Itália).
Filho de pai militar e mãe atendente de call center, iniciou sua trajetória vitoriosa a partir da graduação em administração e do mestrado em gestão de inovação e tecnologia, ambos em Bari.
Em 25 anos de carreira no setor de telecomunicações, ele acumula no currículo posições de destaque na Telecom Itália, controladora da TIM Brasil, desde 2001. O executivo é o novo CEO da Telecom Itália. Até a nova nomeação, sua última função por lá foi como CTO (Chief Transformation Officer), posto que deixou em 2015 para assumir no Brasil o cargo de COO até outubro de 2018. Após breve retorno à Itália, voltou ao Brasil em 2019 para assumir a presidência da operação brasileira.
Além dos prêmios, chama atenção no executivo o braço completamente tatuado (“Minha perna também é inteira tatuada”, diz). “Você nunca teve que esconder isso em situações profissionais?”, pergunto. Ele confessa: “Sim, até o momento que as coisas começaram a dar certo e os resultados ficaram mais importantes do que tudo”, conta. “Aí começaram a me pedir para arregaçar a manga – a tatuagem virou atitude”, diverte-se.
Os resultados: no segundo trimestre de 2021, a TIM Brasil apresentou lucro líquido de R$ 681 milhões, alta de 154,7% em relação ao mesmo período do ano passado; e a receita de serviços foi de R$ 4,2 bilhões (aumento de 8,7%). São 20 trimestres de crescimento positivo – período que coincide com a chegada de Pietro ao país.
Com fama de bravo (italiano parece bravo até para dizer “Ti voglio bene”, ele admite, imagine para dar bronca e cobrar resultados), Pietro diz que seus ídolos são Steve Jobs (“por sua mania de olhar todos os detalhes”) e a jogadora de futebol Marta (“porque representa como poucos a busca do sucesso e o espírito ‘never give up’”). Cita também seu compatriota Sergio Marchionne (1952-2018) “pelo grande trabalho que fez na Fiat”.
Pietro teve que colocar toda a empresa (que tem cerca de 10 mil funcionários) em home office “de um dia para o outro”. “Chamei isso de coragem digital. Se fosse em outra situação, faríamos o piloto, o trial, as correções… Na pandemia, não tínhamos essa opção: ou ia ou ia. E deu certo, está dando certo.”
- Livro: “Né qui né Altrove – Una Notte a Bari”, de Gianrico Carofiglio
- Filme: “Os Doze Macacos”, de Terry Gilliam
- Música: “Sono un Bravo Ragazzo un Po’ Fuori di Testa”, Random
- Lugar: Milão
Renata Vichi, Grupo CRM
A Páscoa e o Natal têm deixado os dias de Renata Moraes Vichi mais doces. CEO do Grupo CRM (Kopenhagen, Brasil Cacau e Kop Koffee), essas datas garantiram vendas extraordinárias de seus produtos, como ela vai contar mais adiante.
Formada em publicidade e administração de empresas, ela lembra que está na empresa há 25 anos – começou em 1996 como estagiária de marketing, foi diretora e vice-presidente até ocupar o posto mais alto em fevereiro de 2020. “Desde muito cedo assumo cargos de liderança”, diz. Nesse um quarto de século, participou ativamente da “explosão” da Kopenhagen, que decuplicou de tamanho.
A chegada da pandemia e o fechamento das lojas causou, de início, enorme apreensão. Afinal, a Páscoa historicamente representa 30% do faturamento total do grupo. “Tivemos que fazer duas Páscoas com todas as lojas fechadas. Mas fomos ágeis na transformação e acabamos fazendo as duas maiores e melhores Páscoas da nossa história”, lembra.
Sobre “transformação” ela se refere à integração digital entre os estoques e todas as 900 lojas da rede, otimizando o processo de delivery até a chegada ao consumidor final. “A Páscoa de 2021 teve um giro de mais de 98% do estoque sem necessidade de promoção, crescendo 20% em relação à de 2019 (que já tinha sido historicamente a melhor).”
O faturamento passou de R$ 1,5 bilhão em 2019 para R$ 1,75 bilhão no ano seguinte. Em 2021, apesar da persistência da pandemia, 100 novas lojas foram abertas. “Para este Natal, estamos chegando com um sell-in 60% maior que o de 2020 graças à força do digital.”
Ela cita a resiliência entre os fatores determinantes para o enfrentamento de períodos incertos e acrescenta disciplina e flexibilização, com a ressalva de que tal flexibilização não pode tornar elástico nenhum valor da companhia.
Apaixonada por atividades físicas, é também fundadora e CEO do Studio SoulBox, focado em luta e spin- ning, em São Paulo. “Temos mais de 20 mil alunos”, afirma ela. “Amo navegar. Se não estou trabalhando ou treinando, estou a bordo do meu barco – que batizei de C’est la Vie.”
- Livro: “Aperte o F5”, de Satya Nadella, e “Antifrágil – Coisas Que se Beneficiam com o Caos”, de Nassim Nicholas Taleb
- Filme: “À Procura da Felicidade”, de Gabriele Muccino, com Will Smith
- Música: “Trem Bala”, de Ana Vilela
- Lugar: Angra dos Reis