O anúncio de que as atividades presenciais de sua empresa seriam retomadas em meados de 2020 surpreendeu a analista digital Marcela Menasce. Depois de ter passado alguns meses em home office, convenceu-se que queria levar uma vida mais flexível. Trocou então o emprego em uma grande instituição financeira por um posto em uma startup que adota o modelo de trabalho remoto. Segundo relatório da consultoria MBO Partners, o número de profissionais norte-americanos que adotam o anywhere office (escritório em qualquer lugar) cresceu 50% no primeiro ano de pandemia. Desde que mudou de emprego, Menasce morou em 18 cidades brasileiras. “É possível ser CLT e nômade ao mesmo tempo. Mas você tem que ter em mente que não está em férias constantes.”
No mês passado, o CEO da plataforma de hospedagem AirBnb anunciou que também iria abandonar o escritório para trabalhar em diferentes lugares e passar a vida viajando. Brian Chesky declarou que vai morar nas acomodações oferecidas pela plataforma que administra – o que levou alguns funcionários a se perguntar se era mesmo anywhere office ou se Chesky se transformou um cliente oculto de sua própria empresa.
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Trabalho remoto é benefício desejado
Maria Fernanda Albuquerque, CMO da Havaianas, aproveitou 2021, ano que passou trabalhando em home office, para conhecer casas bem diferentes do apartamento em que mora com a família, em São Paulo (SP). “Eu escolhia as casas mais bacanas que encontrava no AirBnb e íamos os três experimentar como é viver nesses lugares – foi um jeito que achamos de viajar durante a pandemia”, diz ela, que passou por 10 endereços em 12 meses, algo cada vez mais comum à medida que mais companhias adotam a flexibilidade como forma de atrair talentos. Segundo um relatório feito pela companhia Sodexo, flexiblidade é o segundo benefício mais desejado pelos profissionais brasileiros, atrás apenas do plano de saúde.
Definir períodos mais longos para ficar em cada lugar escolhido, como fez a executiva da Havaianas, é uma forma de viabilizar o anywhere office e manter a produtividade. Essa é uma das principais dicas para quem quer fazer seu escritório em qualquer lugar. “Prefiro passar mais tempo em cada cidade que escolho para não sofrer aquela ansiedade em conhecer o local e os pontos turísticos logo de cara, porque isso acabaria influenciando o tempo que dedico ao trabalho de fato”, diz Ricardo Moreno, fundador da plataforma de conteúdo The Summer Hunter. Ele falou com a Forbes de uma casa recém-alugada em Florianópolis (SC), onde vai passar o mês. “Cheguei há três dias, mas ainda não fui ver o mar pois tenho algumas entregas de trabalho. Não tenho a pressa de ir conhecer o lugar pois sei que terei mais tempo.”
Segundo um levantamento do site Vagas.com, os setores que mais oferecem o modelo home office são: tecnologia, finanças, consultoria e gestão empresarial, seguros, telecomunicações e educação. Com o advento de diversas tecnologias de comunicação, no entanto, mesmo empresas que não ofereciam essa possibilidade passaram a adotá-la. Se você pretende buscar uma vaga desse tipo, é importante que o modelo seja estabelecido antes de assinar o contrato. Veja abaixo algumas dicas para quem quer montar seu escritório na praia, no campo ou em qualquer lugar do mundo.
1. Anywhere office não é férias
Encarar suas viagens como um passeio é um dos erros comuns que pode ter impacto em suas finanças. Se você pedir pratos caros e for a restaurantes e bares todos os dias, como se estivesse de férias, vai acabar falido e sem tempo o para realizar o trabalho. “Eu geralmente deixo para fazer programas desse tipo aos finais de semana. Assim, gasto menos e consigo me dedicar à minha função”, diz Menasce.
2. Mantenha a rotina
A grande vantagem de trabalhar de qualquer lugar é mudar de ares, não de rotina. “Tento manter a rotina de sempre, independentemente do lugar onde estou, incluindo trabalho, alimentação e exercícios”, diz Moreno, que tem base em São Paulo mas em 2021 alternou períodos entre Bahia, Rio de Janeiro e Paraná. “Nossa equipe se divide entre Salvador, Menorca e São Paulo. Ninguém mais quer ficar parado em um só lugar.”
3. Fique mais tempo
Para extrair o máximo de cada lugar e ainda assim manter a rotina de trabalho, é essencial optar por estadias mais longas, de pelo menos duas semanas. “Além de evitar o estresse constante das viagens, essa abordagem permite ter mais disciplina e priorizar as tarefas profissionais”, diz o empreendedor Rodrigo Schmiegelow, à frente de uma escola de mídias digitais, que optou por uma vida na estrada há dois anos e já visitou 140 cidades.
4. Fuja dos centros
Escolher cidades pequenas (e não muito turísticas) para mudar de ares em vez de grandes centros urbanos ou praias famosas pode ser mais econômico e permite que se negocie melhor os valores de hospedagem longas.