Depois de três rounds de tentativas para voltar ao trabalho presencial, agora é para valer. O aumento de casos de Covid-19 fez com que a primeira incursão desse um passo para trás. Quando a situação parecia melhorar, as variantes delta e ômicron atacaram, forçando as empresas a desistirem dos planos de voltar ao escritório.
Mas, dois anos depois do início da pandemia, parece que agora é a hora em que os executivos terão seu desejo da volta ao escritório realizado. O modelo dominante é o híbrido, em que as pessoas vão ao trabalho de dois a três dias por semana e no resto do período ficam em casa ou onde escolherem.
Possivelmente haverá um confronto. Várias pesquisas feitas durante a pandemia mostraram que trabalhadores preferem pedir demissão do que voltar ao trabalho presencial. E é mais fácil falar do que fazer. O que se responde em uma pesquisa nem sempre será praticado na realidade. Você pode ter uma preferência sobre como trabalhar, mas outra coisa é pedir demissão sem ter uma outra proposta de trabalho em vista.
Bancos querem presencial já
Será interessante observar como tudo isso vai se resolver. Os bancos de Wall Street são os proponentes mais ávidos em ter os funcionários de volta. É razoável que as lideranças se sintam assim: as indústrias de securitização são rigorosas. Elas precisam atentar à lavagem de dinheiro, ao uso de informação privilegiada, esquemas de pirâmide e operações indevidas em contas de clientes. Se todos os banqueiros, brokers e traders estiverem sob um mesmo teto, é mais fácil para que o compliance, o jurídico, a análise de riscos e todo o pessoal de regulamentação não tirem os olhos deles.
Há também outra questão em jogo. Em Nova York, o novo prefeito, Eric Adams, tem sido um grande advogado de defesa de que as empresas que o bajulam tenham os colaboradores de volta à cidade. Com menos pessoas nas ruas o crime e a violência cresceram e Adams afirma que com os colaboradores de volta ao trabalho, os indicativos de segurança aumentarão.
Há também uma razão econômica. Se trabalhadores dos subúrbios de Nova Jersey, Long Island e Connecticut não retornarem, o ecossistema de restaurantes, lojas familiares, lojas de varejo, salões de manicure, academias e outros negócios pequenos vai falir. Isso causaria perdas de emprego, ruas vazias e aumento da criminalidade.
Home office pode prejudicar carreira?
Provavelmente veremos três novos modelos de trabalho surgindo. O híbrido será o mais implementado a curto prazo. Ainda há muitas preocupações sobre esse modelo. É complexo aos supervisores acompanharem quem está no escritório e algumas pessoas sentem que, estando em casa, são deixadas de fora da conversa e terão menos oportunidades.
Uma pesquisa feita pela Society for Human Resource Management (SHRM) descobriu que os supervisores não estão contentes com o trabalho remoto: os gerentes disseram preferir que a equipe opere de um escritório. Aproximadamente 70% disse que os trabalhadores remotos são “mais facilmente substituíveis do que trabalhadores presenciais”. Cerca de 62% afirmam que “o trabalho remoto totalmente integral é prejudicial para a carreira e objetivos dos funcionários e 72% disseram preferir que todos os subordinados trabalhem no escritório”.
Trabalhadores remotos também compartilharam suas preocupações.Mencionaram que estão perdendo oportunidades de networking. As pessoas que estão trabalhando em casa sentem a pressão de estarem ativos por mais horas por dia para validar suas tarefas.
Aqueles que trabalharam fora do escritório “concordam que o trabalho remoto é benéfico e que aumenta a performance”. Entretanto, mais de 50% concorda que “trabalhar de forma remota permanentemente diminuiria as oportunidades de networking (59%), causaria problemas nas relações de trabalho (55%) e exigiria que eles trabalhassem por mais horas (54%).”
Apesar das desvantagens, em um estudo primário da SHRM, a organização descobriu que “mais da metade (52%) dos mil participantes norte americanos escolheria trabalhar permanentemente de casa, se tivessem a opção”.
Para competir com companhias que requerem um modelo híbrido ou uma semana de cinco dias no escritório, as empresas vão criar políticas de trabalho remoto, que servirão como uma ferramenta de recrutamento e de retenção.
Uma startup pode não ter os fundos necessários para competir com Google, Amazon e Apple por talentos. Mas oferecendo o remoto como primeira opção, os candidatos em potencial podem optar pelas startups em vez de trabalhar em uma companhia grande e conhecida que requer trabalho presencial em tempo integral.
Mas há um curinga. Nós aprendemos que eventos inesperados podem acontecer. Pode haver uma nova onda de Covid-19 ou outros eventos imprevistos que podem reformular a maneira que trabalhamos. Em breve, veremos como essas questões vão se resolver, conforme mais e mais empresas estão promovendo sua volta ao escritório.