No final de maio aconteceu em Atlanta um grande evento global sobre remuneração organizado pela World at Work. Lá se encontraram gestores de recursos humanos e de remuneração de grandes empresas presentes em diferentes países.
Um dos principais temas do evento foi o trabalho remoto, considerando que a pandemia mostrou que diferentes perfis profissionais podem ser tão ou mais produtivos quando desempenhando suas funções fora do ambiente corporativo, além da vantagem de se atrair talentos de qualquer lugar do país e do mundo. Adicionalmente, identificou-se a melhoria na satisfação pessoal dos empregados, que passaram a ter mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, com impactos positivos nos índices de turnover.
Parecia ser uma unanimidade entre todos os presentes (palestrantes e líderes de RH) que estes profissionais de contribuição mais “intelectual” poderiam trabalhar predominantemente de forma remota, com exceção das situações em que fosse necessário participar de processos de criação coletiva ou para momentos de celebração.
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Entretanto, recentemente um e-mail do CEO da Tesla, Elon Musk, abalou as redes sociais com um anúncio a todos os seus empregados sobre a obrigatoriedade do retorno ao trabalho presencial. Não é a primeira vez que uma grande empresa toma atitudes controversas na gestão salarial de seus empregados. Basta lembrar da decisão do Google em reduzir o salário de quem estivesse em home office, de acordo com suas regiões de residência.
As vantagens competitivas do trabalho remoto ou híbrido
Quando consideramos o fato de que, em um evento global com grandes executivos de RH, a discussão passava pelas constatações de que (1) profissionais em cargos essencialmente analíticos conseguem desenvolver suas atividades de qualquer lugar, (2) a tecnologia quebrou barreiras e trouxe grandes evoluções para o mundo corporativo, (3) as pessoas têm demonstrado resistência em se mudar ou se deslocar para o exercício de suas atividades, (4) há potencial economia nos custos operacionais com a adesão a este modelo e (5) os empregadores podem agora buscar talentos em localidades distantes de suas operações, esta atitude de Elon Musk parece um retrocesso.
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Vale dizer que, apesar do modelo híbrido ter se mostrado a maior tendência, algumas empresas já estão atuando integral e permanentemente em ambiente remoto. Neste caso, normalmente a decisão está associada ao perfil dos negócios, como foi o caso do Airbnb por exemplo, onde esta modalidade está intrinsecamente conectada com as características do business.
É claro que para posições técnicas ou que demandem maior conexão pessoal, incluindo não somente a base operacional, mas também áreas e processos de engenharia, de pesquisa e desenvolvimento, comerciais / relacionamento, entre outros, a presença física pode efetivamente ser um diferencial. Então que assim seja! Mas por que renunciar à possibilidade de flexibilização nas relações de trabalho para os demais profissionais quando esta evolução já foi atingida?
Alguns também demonstram relutância com o modelo remoto considerando o caráter social relacionado à impossibilidade de se oferecer esta mesma flexibilidade para os cargos operacionais. Mas dado que existem outras áreas melhor remuneradas e que também demandam presença física, este argumento não me parece suficiente para frear o trem desta evolução. A menos para empresas que não estejam preocupadas em manter seus talentos.
Em ambientes pautados pela confiança, por processos estruturados e por objetivos bem definidos, é possível trabalhar por entregas e não somente pelo controle de horas. E a meu ver, este é um caminho sem volta.
Fernanda Abilel é professora na FGV e sócia-fundadora da How2Pay, consultoria focada no desenho de estratégias de remuneração.
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