Quando os Estados Unidos perderam para a Holanda por 3 a 1 na manhã do último dia 3, meu time agora estava fora da Copa do Mundo. Imediatamente, adotei um novo time para o qual torcer, o Japão.
Como os EUA, eles também fortaleceram a sua seleção, vencendo a Alemanha e a Espanha. Entretanto, é fora dos campos onde eles se diferenciam dos outros países. Estou me referindo, é claro, à tradição dos japoneses de deixar limpos os espaços que utilizaram nos estádios – hábito dos jogadores que é seguido pelos seus torcedores, que recolhem lixo pelas arquibancadas.
Após vencerem a Alemanha por 2 a 1 no Estádio Nacional de Khalifa, no Catar, os torcedores japoneses que, antes, estavam delirando gritando pelo seu time, agora distribuíram sacos de lixo entre si. Depois, foram andando por cada fileira recolhendo garrafas de plástico, copos de papel e pacotes de comida que haviam sido descartados no chão.
Leia também: Altair Rossato, CEO da Deloitte: “A inovação vem do ócio”
Eles fizeram esse processo não só nas seções do estádio que ocuparam, mas também nas arquibancadas dos torcedores de seus oponentes. “Somos japoneses e, por isso, não deixamos lixo para trás e respeitamos o lugar em que estamos”, afirmou um torcedor quando perguntado sobre a razão de tanto esforço para a limpeza. Os fãs também recolheram bandeiras jogadas no chão pelos torcedores do Equador e do Catar após a partida de abertura da Copa. Aparentemente, esse processo se repetiu em várias outras ocasiões durante o evento mundial de 2022.
Ao mesmo tempo, o próprio time japonês realizou um ato de cortesia no vestiário do local em que competiram, mas em proporções ainda mais dramáticas. A foto do vestiário deles, publicada no Twitter, mostrava um brilhante e lugar parecendo novo, junto de um bando de tsurus de origamis confeccionados por eles e uma nota de agradecimento aos seus anfitriões catares.
Esses exemplos, especialmente os princípios da fala do torcedor japonês, estão lotados de significados que podem ser trazidos para a liderança. Note o destaque dado para o “respeito” na resposta à pergunta sobre a limpeza. Tal respeito é direcionado tanto a si mesmos, os japoneses, mas também aos seus oponentes ou, simplesmente, a todas as outras pessoas. Além disso, o respeito é com o lugar no qual jogaram, que é compartilhado por todas as outras nações que competem no evento. Não é o meu, seu ou o lugar deles, mas sim, é o nosso lugar e, por isso, devemos cuidar dele em conjunto.
O sucesso de um time também é melhorar o mundo
Isso não vem de uma mera virtude. Esse respeito representa uma muito mais profunda crença em um sistema de valores centrado na dignidade pessoal e coletiva. Anos atrás, tive a oportunidade de passar um tempo com o time de rugby da Nova Zelândia, o All Blacks. Eles estavam no topo do ranking desse esporte há mais tempo do que qualquer outra equipe nacional. No entanto, o que me levou a escrever sobre eles não foi apenas seu sucesso no campo, mas sua cultura baseada na conexão próxima com a comunidade maori – da qual eles extraem inspiração e valores.
Um dos valores que identifiquei no time neozelandês é a relação de sucesso com deixar o mundo melhor do que o encontraram. Olhando de maneira abstrata, essa crença pode parecer grandiosa e, até mesmo, utópica. O que um time de rugby pode fazer para transformar o mundo em um lugar melhor? Mas quando analisamos mais de perto, a nível individual, seus jogadores e técnicos, bem como seus torcedores, começamos a ver exatamente como tal coisa pode ser conquistada: através do respeito. Os All Blacks se referem à limpeza do vestiário após uma partida como “varrer a cabana”.
O que a Seleção Japonesa e o time de rugby All Blacks têm em comum é respeito com os locais onde moram e trabalham, assim como com as pessoas que ocupam esses lugares. Os desafios específicos que os times enfrentam vão mudar a todo momento – e algumas vezes vão ter sucesso e, em outras, não. De tempos em tempos, vão ter que mudar suas táticas e até mesmo seus objetivos quando os antigos métodos não funcionarem mais.
O legado para além da vitória
Apesar disso, eles vão sempre se comprometer a deixar o local onde competiram em melhor estado do que o encontraram. Ganhando ou perdendo, não há ser preguiçoso ou praticar quiet quitting para as equipes do Japão ou do All Blacks.
Em outras palavras, eles jogam, no dia de hoje, para a vitória mas, a longo prazo, contribuem para a construção de um legado.
Quando seus dias de competição terminarem, eles deixarão aos outros as celebrações das boas ações e iniciativas que estão fazendo aqui e agora.
Leia também: Semana de 4 dias aumenta produtividade, mostra novo estudo
Até o momento da publicação desta matéria, o Japão deixou a Copa assim como os EUA, perdendo para a Croácia nos pênaltis. Francamente, não tenho qualquer pressa para encontrar um terceiro time para apoiar. Depois do Japão, é difícil encontrar outra equipe à altura. Seria demais torcer para outros times seguirem os exemplos dos japoneses? Seria pedir demais para os outros times tornarem os outros, não só a si mesmos, melhores por terem trabalhado juntos, independente do que faz o resto do mundo?