Quando Ângela Assis deixou a cadeira de diretora de marketing da Brasilprev para assumir a presidência da seguradora, em novembro de 2020, ela encontrou, como gosta de dizer, ” a tempestade perfeita”. Ao assumir a empresa com IGPM nas alturas [fechou o ano a 23,14%, o maior da história], a direção identificou que precisava de um aporte de capital dentro de um mês para lidar com a crise que o país vinha enfrentando. “Assumir no meio de uma crise grande foi uma escola, mas foram muitas noites sem dormir.”
O foco foi manter as pessoas calmas no meio dessa tempestade. “Eu sabia que as pessoas estavam olhando para mim, eu tinha que ser um exemplo e comunicar muito bem”, diz. E tudo isso online, já que os funcionários estavam trabalhando a partir de casa. Mas o ganho veio depois da tormenta. “Acredito que hoje somos muito melhores em gestão de risco do que éramos antes”, diz a executiva que fez carreira no Banco do Brasil e há cinco anos está na seguradora, empresa privada que tem como acionistas o banco público e a seguradora norte-americana Principal. “Foi muita live para dar os recados, muita live mesmo.”
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Em 2021, o resultado foi acima do previsto e 2022 deve fechar em alta (a companhia ainda não divulgou o resultado). Em seu primeiro ano de atuação, o lucro líquido pulou dos R$ 885 milhões para R$ 970 milhões. A previsão é que volte aos patamares pré-pandemia quando forem divulgados os resultados de 2022. Segundo a executiva, há outros indicadores importantes que marcam sua gestão. “Tivemos NPS [índice que indica nível de satisfação] de 92%, que é o maior da história.”
“Não imaginei a repercussão”
Com tanto foco em números, já que ocupou a diretoria comercial da empresa anteriormente, Ângela nunca havia pensado nos aspectos de ser uma mulher em um cargo de tanto destaque. “Não imaginei a repercussão da minha nomeação entre meus colegas. Quando as mensagens começaram a chegar e as notícias saíram foi que comecei a ter uma noção do que é ser uma mulher nesse posto e comecei a me dar conta das questões de gênero”, diz ela, que foi a primeira mulher a ocupar a presidência da Brasilprev e a primeira a presidir uma empresa ligada ao BB.
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O impacto veio também por Ângela ter uma postura de foco e assertividade. “Sou uma pessoa muito assertiva em uma cultura mais relacional, então isso tem impacto mas, ao mesmo tempo, acredito que consigo mostrar às pessoas que elas podem fazer melhor do que elas mesmas imaginam”, diz. Ir direto ao ponto e investir em comunicação direta e constante com sua equipe foi um dos fatores responsáveis pelo crescimento da empresa em tempos de dificuldades econômicas. “O conforto nos atrapalha na hora de fazer diferente. Quando percebo que estou confortável no cargo, que já não quero inovar, vejo que é hora de sair.”
Onde quero chegar
“Vejo que fizemos muito, fizemos a transformação digital, da qual participei, passamos por momentos difíceis e melhoramos a satisfação das pessoas. Mas sempre tem algo a fazer e não me vejo parando tão cedo.””
Causas que abraço
“Tenho uma sobrinha com necessidades especiais a quem eu sou muito ligada, faço tudo por ela. Quero fazer alguma coisa por crianças como ela e por cachorros abandonados, ainda não sei o quê. Dentro da empresa, a diversidade é algo que venho dando muito interesse. Origem, idade, racial, gênero. Toda essa mistura é muito importante quando a gente tem que ter ideias e inovar.””
Turning point da carreira
“Deixar o cargo no Banco do Brasil, em Brasília, e vir para São Paulo assumir uma diretoria da seguradora, que é uma empresa privada. Mas ao assumir a presidência eu me dei conta da importância de ter uma mulher nesse posto.”
Quinzenalmente, a Forbes publica a coluna Minha Jornada retratando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso em empresas.