A nova piloto da Ferrari Aurelia Nobels, belga naturalizada brasileira e com apenas 16 anos, pode ser a próxima a quebrar a hegemonia masculina nas pistas e pavimentar o caminho para outras mulheres e meninas no esporte – e está trabalhando para isso. “Não me incomoda ser a única mulher do grid, até porque sei que posso abrir as portas para outras meninas.”
Aurelia chegou à Itália na última sexta-feira (13) para competir de Fórmula 4 na Europa, e já se sente mais próxima de alcançar o sonho de ser piloto de Fórmula 1. “Quero chegar à Fórmula 1 e vou me dedicar ao máximo. Agora que eu entrei na Ferrari, acho que vai ser mais fácil com o apoio deles.”
Aurelia foi a única mulher a competir na Fórmula 4 no Brasil, e venceu o programa Girls on Track – Rising Stars, da FIA (Federação Internacional do Automobilismo) em parceria com a Ferrari, com outras 80 meninas, sendo a terceira piloto a garantir uma vaga na academia da montadora italiana.
>> Leia também: A executiva que revolucionou o Rally dos Sertões
A jovem piloto entrou no mundo do automobilismo por influência de seu pai, amante do esporte e fã de Ayrton Senna. Apesar de transitar em um universo ainda muito masculino – a F1 não tem uma mulher de forma oficial há quase 50 anos, desde 1976, com Lella Lombardi –, Aurelia tem referências femininas. “Conheci a Bia Figueiredo no começo da minha carreira quando estava no kart, e ela ficou muito feliz quando viu que eu entrei na Fórmula 4, veio nas corridas, me deu dicas.”
Do kart à Fórmula 4
Filha de pais belgas, Aurelia nasceu nos Estados Unidos, mas vive no Brasil desde os três anos. No seu capacete, a bandeira do Brasil fica ao centro, e a da Bélgica e dos Estados Unidos aos lados.
Sua carreira começou aos 10 anos, no kart, e competiu no Brasil e na Europa. Já nessa época, era jogada para fora da pista pelos outros pilotos e intimidada pelos pais deles por ser a única mulher no grid. “Eu nunca pensei em desistir, mas era chato porque eu sempre estava numa boa posição e eles faziam alguma coisa para atrapalhar”, diz. “Quando você abaixa a viseira, não tem diferença se é menino ou menina.”
Em 2021, começou a fazer testes de F4, o que foi um grande salto e a virada de chave para ganhar confiança e entender que queria fazer das pistas sua carreira. “O kart é diversão e a fórmula é muito mais difícil, exige mais do seu físico e é coisa séria, você está lá para trabalhar.”
No ano passado, Aurelia foi a única mulher de 15 pilotos a competir na Fórmula 4 Brasil. “Fiquei triste por ser a única, mas muito feliz em poder representar as mulheres, então tento fazer o meu melhor.”
E venceu o programa da FIA na Itália com outras 80 meninas. “Quando você está só com meninos e vai para uma programa só de meninas o ambiente é completamente diferente”, diz ela, que fez amizade com as outras pilotos. “Na final, pude aprender com os melhores, que são o pessoal da Ferrari mesmo.”
Aurelia Nobels rumo à F1
Aurelia quer continuar fazendo carreira no automobilismo e chegar à Fórmula 1, mas vai terminar de estudar em uma escola online para atletas e tem interesse até em cursar uma faculdade. “Esse ano vou fazer Fórmula 4, e se der tudo certo eu vou para Fórmula 3 em 2024, e aí Fórmula 2 e Fórmula 1.”
A piloto, fluente em quatro idiomas – inglês português francês e espanhol –, entende bem o italiano, mas ainda não fala a língua. Na Itália, vai morar sozinha pela primeira vez, em um apartamento cedido pela Ferrari, e treinar com outros pilotos na academia e na pista. “É um dos melhores campeonatos de Fórmula 4 e com os melhores pilotos, vai ser muito legal.”
E desafiador. “Vai ser minha primeira vez em algumas pistas, e eu sei que a maioria já andou, então vai ser difícil, mas eu estou bem confiante.”
A preparação para as corridas envolve treinamentos físicos e mentais. “Eu tento treinar todos os dias na academia, e quando vou para uma pista nova, faço simulador para ter pontos de referência.”
Antes de entrar na pista, ela prefere ficar sozinha para se concentrar e assistir a um vídeo de um piloto, ou ela mesma, correndo. “Os meus coachs, como o Danilo Dirani, também me ajudavam a lidar com a pressão, com técnicas de respiração até mesmo dentro do carro, esperando dar a largada.”