O primeiro emprego de Jessica Sandin foi como recepcionista numa fábrica de tecidos. Agora, ela assume a diretoria de recursos humanos da gigante do streaming Netflix, depois de passar por outras grandes empresas como Mastercard e Nubank. Segundo Sandin, comunicação e versatilidade foram essenciais para construir essa carreira, driblando o machismo e o racismo que fizeram parte de sua trajetória. “Quando você sabe quem é, o que quer construir e todo o sacrifício que foi feito para chegar onde chegou, fica muito mais difícil alguém te desestabilizar.”
A nova líder da Netflix começou a trabalhar aos 16 anos para pagar os estudos e ajudar em casa, aprendeu inglês e espanhol sozinha e sempre soube que sua habilidade com a comunicação era seu diferencial. “Fui corajosa de levantar a mão e me meter em projetos que ninguém queria, e que eu não sabia fazer, mas podia aprender”, diz. Essa curiosidade e força de vontade a levaram a assumir projetos no Chile, Argentina, Colômbia, África do Sul, Inglaterra e México.
Há alguns anos, além do trabalho como executiva, Jessica se dedica a mentorar meninas e mulheres negras, a compartilhar experiências e democratizar conhecimento, o que quer continuar fazendo agora na Netflix. “É uma oportunidade de repassar o que eu aprendi e tenho de melhor, e ter impacto no negócio sendo uma facilitadora do sucesso de outras profissionais.”
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O C-Suite desta semana também traz movimentações nos setores farmacêutico, de alimentos e na indústria química. Flavia Favaro é a nova diretora de comunicação & public affairs da Janssen, Gustavo Bruno assume como general manager da Mars Pet Nutrition no Brasil e Paula Giannetti vai liderar a área de recursos humanos da Unipar.
Forbes: Como sua formação te ajudou a construir sua carreira e chegar à liderança da Netflix?
Jessica Sandin: Depois de estudar RI, fui estudar psicologia (que tranquei porque já viajava bastante a trabalho) e também estudei gestão de carreira, liderança, diversidade e customer experience. Sem dúvida, no nosso contexto atual da América Latina, o estudo formal é importantíssimo para as carreiras corporativas, mas eu não posso deixar de dizer que a grande alavanca de crescimento da minha carreira foi a prática. Foi colocar a mão na massa e estar disposta a aprender, fazer, errar, acertar, começar e recomeçar. E nisso a formação de relações internacionais – e a minha criação em casa – contribuiu demais. Me ajudou a construir perspectivas dinâmicas e análise crítica de mundo, sociedade e comportamento.
F: O que você indica para quem quer fazer carreira em Recursos Humanos, em termos de habilidade e de formação?
JS: Sem dúvida, saber se comunicar muito bem, de diferentes maneiras, com diferentes pessoas, em diferentes contextos e com objetivos claros faz muita diferença para um RH que de fato quer ser um player de impacto direto no negócio, e não somente uma área de suporte e operação. Isso só se aprende se expondo e se relacionando com pessoas, praticando escuta ativa, lendo bastante, exercitando autoconhecimento e autopercepção.
Outra habilidade importante é reconhecer os erros e aprender com eles. O RH tem o estigma de ser dono da verdade, quem policia, controla e dá medo, o que reforça comportamentos limitados e gera muita pressão nos profissionais e lideranças de RH. Precisamos saber que podemos errar, consertar e aprender rápido com esses erros pra evoluir, com muita humildade e responsabilidade.
F: Quais oportunidades você enxerga no setor de RH nesse cenário de disputa por talentos?
JS: Acelerar e intensificar estrategicamente e intencionalmente as doses de combinação de tecnologia, dados, métricas e IA com o que é exclusivamente humano, como conexão, confiança, empatia, paixão e engajamento. O tema da inclusão também precisa ser explorado e praticado em níveis profundos, para além da contratação com programas afirmativos – que são uma vitória a ser cimentada – com a evolução do operacional dos negócios e do modelo mental das lideranças. Não podemos mais continuar identificando, reconhecendo e validando talento, competência e sucesso da mesma forma pra todo mundo sempre.
F: Quais características você busca em um profissional da sua equipe hoje?
JS: Energia, proatividade, vontade de aprender e sensibilidade. Não adianta ser um trator, uma máquina de entregas sem sensibilidade para com as pessoas, momento, abordagem, ambiente, contexto e humildade para escutar, aprender e ensinar. Para mim, muitas vezes, a forma como você entrega e navega é mais importante do que o quê você faz e sabe.
F: Você enfrentou dificuldades adicionais na carreira sendo uma mulher preta no mercado corporativo? Como driblou isso?
JS: Sim. Visíveis e invisíveis, conscientes e inconscientes, grosserias escancaradas e preconceitos estruturais de forma mais sofisticada. Quando passo por situações assim, ou apoio outras pessoas, faço questão de ressaltar que situações de preconceito e desrespeito dizem muito mais sobre o caráter e ignorância de quem o faz. Ninguém pode dar ou sustentar o que não tem. Por isso é tão importante a gente se ancorar em saber quem a gente é de verdade. Quando sabemos quem somos, o que queremos construir com o nosso trabalho e todo o sacrifício que foi feito para estarmos aqui agora, e nos posicionamos frente a essas situações, fica muito mais difícil nos desestabilizarem com atitudes preconceituosas e ignorantes.
F: Como chegar a um cargo de direção em uma grande empresa?
JS: Três passos:
1- Construa um repertório bastante rico e sólido de conhecimento e experiências práticas.
2- Saiba reconhecer o que você não sabe ou pode e precisa reaprender.
3- Saiba produzir impacto positivo no micro e no macro. No individual e no coletivo.
F: O que você gostaria de ter ouvido no início da carreira que poderia ter feito a diferença?
JS: Acredite no que você tem de melhor e não gaste energia tentando ser (ou se culpando por não ser) quem você não é por pura pressão externa.
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Por quais empresas já passou
Ericsson, BASF, Symantec, Dunnhumby, Mastercard, Nubank e Netflix
Formação
Relações Internacionais na FMU
Primeiro emprego
Estagiária na Ericsson
Primeiro cargo de liderança
Coordenadora de RH na Symantec, responsável por Brasil, Argentina e Chile
Tempo de carreira
Em RH, 14 anos
Veja, abaixo, outras movimentações C-Level que ocorreram nos últimos 15 dias.
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Flavia Favaro é a nova diretora de comunicação & public affairs da Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson. A executiva está na Johnson desde 2016, e tem mais de 25 anos de experiência na área, com passagens por companhias como Takeda, Eurofarma, Pfizer, Itaú e DuPont.
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A gigante de alimentos Mars tem um novo general manager no Brasil de Pet Nutrition. Gustavo Bruno será responsável pela divisão que inclui marcas como Pedigree e Whiskas. O executivo acumula passagens por empresas de bebidas e alimentos como Pepsico, Ferrero e Unilever.
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Com mais de 20 anos de carreira, Paula Giannetti é a nova diretora de RH da Unipar. A executiva já passou por diferentes segmentos, como indústria de bens de consumo, mercado financeiro, tecnologia, materiais de construção e educação, e já passou por empresas como Unilever, Santander e Lenovo.
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A Ubyfol, multinacional brasileira especialista em nutrição vegetal, anuncia Rodrigo Fortunato como o novo diretor de operações e supply chain da companhia. Fortunato tem 19 anos de experiência em toda a cadeia de valor do agronegócio em cargos de finanças, supply chain, operações e desenvolvimento de negócios na América do Sul.
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A biofarmacêutica AbbVie anuncia duas novas diretoras na sua afiliada brasileira. Célia Rodrigues passa a ser diretora financeira e Fernanda Rombino, diretora de unidade de negócios de imunologia. Rombino está na empresa há 13 anos, cinco dos quais em experiência internacional. E Rodrigues atuou nos últimos três anos na afiliada de Portugal, nessa mesma função. A executiva tem cerca de 20 anos de experiência em finanças, com passagens por companhias como GE Corporate, Daiichi Sankyo Farmacêutica e GE Healthcare.
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Cézar Haik, executivo de vendas da Cyrela por mais de seis anos, assume agora a diretoria de operações do Kempinski Laje de Pedra, em Canela (RS).
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Dilma Campos assume o novo cargo de head de ESG da B&Partners.co, grupo dono de empresas como BFerraz, New Vegas, Snack e Plug In. Ela também é CEO e sócia-fundadora da Outra Praia, agência do grupo que atua na área de economia regenerativa, que foca na sustentabilidade.
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A plataforma de ecommerce Nuvemshop anuncia a chegada de Rafael Yudi Kadomoto como diretor de prevenção a fraudes e gestão de riscos. O executivo será responsável pela área de segurança das operações do Nuvem Pago, meio de pagamento próprio da empresa lançado em 2021. Kadomoto tem mais de quinze anos de experiência em prevenção a fraudes financeiras, e passagens pelo iFood e OLX.
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Guilherme Cervieri é o novo CFO da CRM&BONUS, plataforma que permite controle em tempo real do envio e resgates de giftback para clientes. Ele atuava desde 2020 como VP na IDTech Unico e agora será responsável pela estratégia de M&As e pela estruturação de um possível IPO nos próximos três anos. Antes de trabalhar como executivo, em 2020, investiu em empresas como Arquivei, Contabilizei e a própria Unico.
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Tatiana Romero assume a diretoria de recursos humanos da Ticket, empresa de benefícios. Com mais de 25 anos de experiência na área, a executiva teve passagens por empresas multinacionais de tecnologia, como IBM e Cognizant.
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Ronald Bragarbyk é o novo regional director latam da CM.com, empresa holandesa de software em nuvem para comércio de conversacional. O executivo, com mais de 20 anos de experiência no mercado de tecnologia da informação, ocupava o cargo de country manager no Brasil. Bragarbyk também teve passagens pela Aivo, Teleopti, GVT, ddCom Systems, Itaú e Teleperformance Brasil.
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A One Big Media Group, mediatech mineira especializada em desenvolver e impulsionar canais digitais de grande audiência, anunciou Reinaldo Heleno como seu novo CEO, após a fusão com a Hitbel, companhia de suporte a carreiras digitais de artistas musicais e criadores de conteúdo.
Flavia Favaro é a nova diretora de comunicação & public affairs da Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson. A executiva está na Johnson desde 2016, e tem mais de 25 anos de experiência na área, com passagens por companhias como Takeda, Eurofarma, Pfizer, Itaú e DuPont.