Em uma recente visita à EHL Hospitality Business School, em Lausanne, uma coisa que se destacou foi o quão bem vestidos os alunos estavam. A escola é uma das poucas universidades que tem um “dresscode“, e os alunos são obrigados a se vestir como se estivessem em um local de trabalho.
“Ao entrar em qualquer contexto profissional, sua aparência, atitude e comportamento podem desempenhar um papel fundamental na forma como as pessoas o percebem”, diz o código da escola. “Dependendo da situação, como você interage com o mundo e como se apresenta pode até lhe dar uma vantagem competitiva.”
Vestir-se para o sucesso
É fácil pensar nessa ideia, que as roupas estão ligadas a uma imagem de sucesso, como algo superficial e que serve apenas ao setor de hospitalidade – muitas vezes definido como um mercado de luxo. Pesquisas da Temple University sugerem que o tal “dress for success” (vestir-se para o sucesso), no entanto, pode ser usado de forma mais ampla.
Os pesquisadores olharam menos para como nossas roupas fazem os outros nos perceberem, e mais para como elas nos fazem pensar sobre nós mesmos e como influenciam nosso comportamento no trabalho. Talvez sem surpresa, os pesquisadores descobriram que, quando nos sentimos bem com nossa aparência, temos um desempenho melhor em nossas funções.
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As descobertas surgiram após uma análise de três aspectos distintos das nossas roupas e seu impacto na autoimagem:
- Estética. A roupa chama a atenção?
- Conformidade. O estilo de roupa é semelhante ao que os colegas de trabalho usam?
- Singularidade. O look é especial ou difícil de reproduzir?
Os pesquisadores realizaram uma série de estudos com o objetivo de entender o tipo de significado que atribuímos às nossas roupas. Eles descobriram que muitas vezes fazemos uma forte associação entre nossa aparência estética e nossa atratividade pessoal. Também usamos nossas roupas para obter um sentimento de pertencimento a um grupo, mas ao mesmo tempo nos esforçamos para ser únicos por meio de roupas diferentes.
Mudança de comportamento
A pesquisa também examinou as formas como as roupas afetam nossas escolhas. Eles recrutaram funcionários de escritório de várias empresas sul-coreanas, nenhuma delas com código de vestimenta, liberando as pessoas para usar o que quisessem no trabalho (dentro do razoável, espera-se).
Cada participante foi convidado a preencher três questionários durante 10 dias consecutivos. Pela manhã, eles foram questionados sobre suas roupas para aquele dia de trabalho. Na hora do almoço, eles preencheriam um segundo questionário que examinava suas interações com os colegas e seu nível de autoestima. Por fim, preencheriam um questionário final que avaliava sua produtividade no final do dia.
Os resultados mostram que, quando os funcionários sentem que estão bem e que suas roupas são únicas de alguma forma, isso resulta em maior autoestima, o que os torna mais produtivos e mais propensos a atingir seus objetivos. Um impulso semelhante foi encontrado quando as roupas ajudaram os trabalhadores a se adequarem a quaisquer normas do escritório, mas esse impulso só surgiu quando os funcionários interagiram regularmente uns com os outros.
“Em retrospectiva, fazia muito sentido porque entre as três variáveis que analisamos, a conformidade é a variável mais social”, explicam os pesquisadores. “A conformidade realmente não importa se você não interagir com as pessoas em um determinado dia. Mas quando você interage com muita gente, o sentimento de pertencimento tem um impacto mais forte porque você pode se comparar com um público maior de colegas de trabalho.”
Ganhos a mais
No fim, o impacto da roupa não foi suficiente para fazer o dia ou estragá-lo, mas o impulso de se sentir bem foi significativo. De fato, os pesquisadores descobriram que o aumento em nossa produtividade foi semelhante ao encontrado quando planejamos as atividades do dia (por um lado) ou somos tratados com grosseria (por outro).
Os resultados sugerem que podemos fazer melhorias perceptíveis em nosso comportamento usando roupas que nos fazem sentir bem. Embora isso não signifique necessariamente que temos que usar um determinado código de vestimenta, como os alunos da EHL, significa que precisamos nos sentir bem com nossa aparência.
Pode até parecer um pouco exagerado, mas os pesquisadores acreditam que suas descobertas devem levar os gerentes a pelo menos educar os trabalhadores sobre a conexão entre suas roupas e autoestima e como isso pode afetar seu desempenho no trabalho. Isso pode até se estender ao fornecimento de roupas de marca organizacional bem estilizadas.
“A roupa é uma parte muito importante da vida cotidiana”, concluem os autores. “Os gerentes podem informar aos funcionários que o que eles vestem pode afetar seu comportamento. Não se trata de definir uma política do que você deve vestir, mas de informar que isso pode ter um impacto positivo”.
*Adi Gaskell é colaborador da Forbes USA. Ele é um consultor de inovação para empresas públicas e privadas, escritor e futurista.
(traduzido por Fabiana Corrêa)