Imagine chegar no trabalho e encontrar uma cesta com balão e chocolates na sua mesa, ao lado de um envelope cor-de-rosa com seu nome e um coração desenhado. O presente não informa uma promoção ou algo do tipo, e sim uma demissão – que foi considerada pela funcionária que o recebeu como “humanizada”.
Depois de virar meme e viralizar no LinkedIn e em outras redes, o ocorrido abriu a discussão sobre a possibilidade de demitir de forma mais empática. “Demissão humanizada é se preocupar com a pessoa e o momento de vida dela ou proporcionar um pacote de benefícios?”, questiona Vitor Hugo Ignacio, ex-gerente da área de infraestrutura da Loggi, demitido em uma rodada de layoff da empresa em fevereiro deste ano por meio de uma chamada de vídeo.
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No caso dele, o networking pessoal ajudou na recolocação – ele acaba de assumir como senior business manager em uma startup –, mas a Loggi ofereceu o apoio de uma consultoria de outplacement, a Career Group, além de conceder por três meses o valor referente ao plano de saúde. “Minha diretora sabia de algumas dificuldades que estava passando com meu filho recém-nascido. Gostaria de ter tido uma conversa olho no olho, alguém apertando minha mão e desejando sorte.”
Funcionários de grandes empresas como Google, Microsoft e Twitter têm relatado em redes como o LinkedIn a falta de cuidado dos empregadores ao realizar cortes em massa. “É muito comum as empresas apenas se preocuparem com o onboarding dos colaboradores e pouco planejar e investir no offboarding”, afirma Carolina Martins, especialista em recolocação e Top Voice LinkedIn.
Muitas pessoas descobriram que haviam sido desligadas por email, por colegas de trabalho, pelos jornais e até mesmo ao não conseguirem acessar o prédio ou o computador da empresa. Em abril, o McDonald’s mandou seus funcionários corporativos trabalharem de casa para demitir alguns deles virtualmente.
“No geral, as empresas só mudam algumas culturas e implantam novas políticas quando entendem que também vão sair ganhando”, diz Martins, acrescentando que demitir de forma humanizada proporciona ganhos para a empresa, principalmente em relação à marca empregadora.
Fato é que demissões são sempre difíceis, mas especialistas mostram que é possível criar um processo mais empático – e que os recém-demitidos não esperam chocolates, mas outros cuidados por parte das empresas.
Veja como demitir de forma respeitosa e tornar os desligamentos mais humanizados:
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Getty Images Menos processos e reclamações no LinkedIn
Três em cada dez profissionais brasileiros são detratores do último emprego que tiveram, segundo uma pesquisa da empresa de tecnologia SoluCX, que entrevistou 1.697 pessoas. E como a demissão é a etapa que fecha a jornada da pessoa na empresa, pode estar relacionada a isso. “Quando o profissional é bem conduzido no processo demissional, ele tende a falar bem da empresa”, diz Martins.
Além de preservar a reputação da marca – já que, segundo ela, esse momento pode render posts raivosos no LinkedIn com alto potencial de viralizar -, a demissão humanizada também reduz as questões trabalhistas que a empresa pode vir a enfrentar. “Se o profissional tem um projeto de recolocação e o suporte da empresa, ele tende a não processar ou vazar informações internas.”
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Antes de demitir, dê feedback
Um processo demissional mais humano começa antes mesmo da demissão. O ideal é que os profissionais tenham feedbacks regulares sobre sua performance e seu comportamento, além do momento vivido pela empresa, para não serem pegos de surpresa.
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Getty Images 3. Não se apegue a uma imagem rígida dos outros.
Todos nós já trabalhamos com pessoas que têm um pensamento rígido sobre como os outros devem se comportar e se mostram intolerantes quando as pessoas não atendem às suas expectativas. Se assumirmos que sabemos mais ou que todos veem uma situação do nosso ponto de vista, podemos ficar cegos a outras possibilidades. Então é provável que tratemos as divergências dos outros em relação às nossas opiniões como provenientes de sua ignorância, estupidez ou malevolência. Gold sugere que o pensamento rígido é uma função adaptativa que ajuda a proteger contra a ansiedade, mas simultaneamente impede a capacidade de uma pessoa rígida de se conectar com os outros.
A falta de flexibilidade pode aliviar a ansiedade no curto prazo, explica Gold, mas “no longo prazo não permite o crescimento. Portanto, a solução é a segurança e a conexão que permitem às pessoas tolerar alguma ansiedade de não saber exatamente para onde as coisas estão indo”. Ela recomenda cultivar um senso de curiosidade e antecipação sempre que você abordar um colega, porque cada indivíduo tem um conjunto único de experiências de relacionamentos que afetam suas percepções e expectativas. “Se você puder adotar a postura de ‘não sei de onde você vem’ e se sentir confortável com isso, terá mais chances de sucesso de eventualmente encontrar seu caminho para se conectar com uma pessoa”, diz Gold.
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Conversa precisa ser individual
Online ou presencial, o importante é que a conversa seja individual e transparente. “É essencial encontrar um ambiente privado garantindo confidencialidade. Caso seja necessária uma demissão “online”, se certifique de que o profissional está em um ambiente privado e que ninguém está escutando a conversa”, diz Fábio Cassettari, sócio-diretor da empresa de recolocação Career Group. “Já vimos casos de empresas que demitiram o funcionário com seu filho e esposa ao lado, por exemplo.”
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Getty Images 3. A demissão sem justa causa significa que, quando é demitido, o funcionário perde o direito de receber FGTS e outras indenizações?
Não. Aliás, é justamente o contrário. A dispensa sem justa causa (imotivada) dá ao empregado o direito de receber multa equivalente a 40% do saldo depositado em sua conta vinculada do FGTS; sacar o valor depositado no FGTS; aviso prévio proporcional ao tempo de serviço (mínimo de 30 e máximo de 90 dias); férias proporcionais acrescidas de 1/3; 13o. Salário proporcional; eventuais valores complementares previstos em normas coletivas.
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Espaço aberto para ouvir
Depois de falar, esteja aberto para ouvir e responder eventuais dúvidas, respeitando a emoção da pessoa. “Esse é um ótimo momento para receber feedbacks da empresa e sua cultura”, diz Cassettari.
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Getty Images 2. O que muda em relação aos direitos dos trabalhadores?
Nada mudou. O STF declarou como válido o decreto que excluiu o Brasil da Convenção 158 da OIT.
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Getty Images Plano de saúde e apoio psicológico
Para a especialista em recolocação, a maior preocupação dos recém-demitidos, especialmente aqueles com família e filhos pequenos, é com o plano de saúde. As empresas podem tirar parte do peso desse momento estendendo o plano de saúde por alguns meses. “O ideal é sugerir que a pessoa aproveite o plano de saúde estendido para fazer um acompanhamento psicológico e entender melhor esse processo de mudança.”
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Getty Images Apoio para recolocação
Segundo Cassettari, o principal apoio que o profissional pode receber é uma ajuda para se recolocar no mercado, com indicação para outras empresas e assessorias de outplacement. Os pacotes podem incluir cursos, palestras, mentorias individuais, workshops sobre networking, construção de currículo e movimentação no LinkedIn.
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Quem fez isso bem
Em uma carta aberta no site da empresa em janeiro deste ano, a CEO do Hubspot, Yamini Rangan (foto), explicou os motivos que levaram a empresa a reduzir 7% do seu quadro de funcionários, cerca de 500 pessoas, e o suporte que daria para os afetados.
O pacote incluía cinco meses de rescisão, mais uma semana adicional para cada ano que a pessoa estivesse na empresa até o total de sete meses, um bônus para os gerentes e benefícios médicos estendidos por cinco meses. Os funcionários também receberam apoio de saúde mental e coaching de carreira e puderam manter os laptops e outros equipamentos da empresa e agendar conversas individuais com gestores.
O offboarding inclui todos os processos pós-rescisão do contrato de trabalho. Entre os melhores empregadores do Brasil, segundo a consultoria internacional Top Employers, Avanade, Hypera Pharma e Machado Meyer Advogados são as empresas que se destacaram por seu offboarding. “Todos os que saem realizam uma entrevista de gestão de saída com uma pessoa da área de pessoas e cultura”, diz Beatriz Alli, diretora de RH do Machado Meyer. Segundo ela, os feedbacks servem como base para melhorar as práticas da empresa.
Menos processos e reclamações no LinkedIn
Três em cada dez profissionais brasileiros são detratores do último emprego que tiveram, segundo uma pesquisa da empresa de tecnologia SoluCX, que entrevistou 1.697 pessoas. E como a demissão é a etapa que fecha a jornada da pessoa na empresa, pode estar relacionada a isso. “Quando o profissional é bem conduzido no processo demissional, ele tende a falar bem da empresa”, diz Martins.
Além de preservar a reputação da marca – já que, segundo ela, esse momento pode render posts raivosos no LinkedIn com alto potencial de viralizar -, a demissão humanizada também reduz as questões trabalhistas que a empresa pode vir a enfrentar. “Se o profissional tem um projeto de recolocação e o suporte da empresa, ele tende a não processar ou vazar informações internas.”