Os efeitos da decisão da Suprema Corte de derrubar as ações afirmativas levarão tempo para se materializar, mas um Estudo de Harvard de 2013 apontou que, depois que a ação afirmativa terminou em estados-chave, houve “declínios acentuados” na presença de mulheres asiáticas, mulheres negras e homens hispânicos nos locais de trabalho.
Ações afirmativas têm como objetivo combater a discriminação e promover a inclusão de grupos minorizados, como mulheres, negros e pessoas com deficiência. Um exemplo disso são as cotas universitárias, que determina que uma porcentagem do número de vagas seja direcionada a alunos desses grupos.
O estudo de Harvard, que durou de 1990 a 2009, examinou Califórnia, Michigan, Nebraska e Washington depois que esses estados proibiram as ações afirmativas no que diz respeito aos grupos raciais minorizados.
Uma vez que a ação afirmativa foi revogada nesses estados, a participação de homens latinos na força de trabalho diminuiu 7%, a participação de mulheres negras diminuiu 4% e a participação de mulheres asiáticas diminuiu 37%. O estudo observa que o último número foi particularmente alto porque poucas mulheres asiáticas estavam no mercado de trabalho na época.
A diminuição da participação das mulheres continuou a cair até cinco anos após a proibição, enquanto o declínio dos homens hispânicos continuou até o terceiro ano. E o declínio das mulheres asiáticas foi limitado ao primeiro ano após a proibição.
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A longa duração do estudo permitiu ao autor examinar a proporção de grupos minorizados e mulheres que trabalhavam no governo estadual e local antes e depois que as proibições de ações afirmativas entraram em vigor.
Com as decisões do Tribunal sobre os processos Students for Fair Admissions (SFFA) vs. Universidade da Carolina do Norte e o Students for Fair Admissions vs. Universidade de Harvard — a raça não poderá mais ser considerada um fator nas decisões de admissão em faculdades e universidades. Tais mudanças podem mudar a composição de corpos estudantis colegiados em todo o país significativamente. Uma pesquisa do Associated Press – NORC Center for Public Affairs Research descobriu que a maioria dos americanos acredita que a raça deveria ter um papel pequeno nas admissões na faculdade, em vez de ser totalmente banida, com 63% dos entrevistados dizendo que a Suprema Corte não deveria impedir que as faculdades considerem raça ou etnia nas decisões de admissão.
Os críticos argumentam que, além de estudantes brancos e asiáticos serem discriminados, a ação afirmativa diminui as conquistas de estudantes de grupos minorizados em favor do cumprimento de cotas.
No ano passado, 74% dos adultos pesquisados em um Pew Research Center de acreditavam que a raça não deveria ser considerada nas decisões de admissão na faculdade.
As proibições de ação afirmativa nas universidades, que impactaram fortemente as populações estudantis minoritárias, não são inéditas. Quando o sistema da Universidade da Califórnia eliminou a ação afirmativa em 1995, o número de estudantes negros e latinos aceitos por Berkeley e UCLA foi cortado quase pela metade em 1998, o primeiro ano afetado pela proibição. Estudantes negros e latinos representaram 32% de todas as admissões da Universidade da Califórnia em 2022, em comparação com os 15% das admissões que representavam em 1998, de acordo com dados do sistema.
(traduzido por Fabiana Corrêa)