O Canadá está atraindo profissionais remotos do setor de tecnologia com um programa de nômades digitais – adeptos à tendência de trabalhar, literalmente, de qualquer lugar do mundo. A iniciativa permite que os visitantes permaneçam no país por até seis meses sem precisar de visto de trabalho e abre as portas para uma mudança que pode ser permanente.
O programa foi criado em meio a uma escassez de mão de obra de tecnologia no Canadá. A nova Tech Talent Strategy – Estratégia de Talentos Tecnológicos – visa criar um pool de talentos que permanecerão no país a longo prazo. A preferência é por candidatos nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática – incluindo cientistas de dados, desenvolvedores e programadores de software, matemáticos, estatísticos, atuários e engenheiros elétricos e eletrônicos.
“A estratégia foi definida e se adapta melhor para as necessidades de profissionais de tecnologia altamente qualificados que, apenas pela natureza de seus empregos, têm a oportunidade de trabalhar remotamente”, disse Julie Lafortune, porta-voz da Immigration, Refugees and Citizenship, departamento do governo canadense que cuida dos assuntos de imigração. “Isso em conjunto com outras medidas estabelecidas para atrair talentos tecnológicos e garantir que o Canadá permaneça competitivo na corrida global de talentos.”
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Sean Fraser, ministro da imigração canadense, disse no mês passado em uma conferência em Toronto que o novo programa para nômades digitais “permitirá que pessoas que têm um empregador estrangeiro venham morar no Canadá por até seis meses, vivam e gastem dinheiro neste país e, caso recebam uma oferta de emprego enquanto estiverem aqui, permitiremos que continuem a ficar e trabalhar no Canadá”.
O ministério de Fraser está criando uma isenção do processo de Avaliação de Impacto no Mercado de Trabalho, que normalmente exige que as empresas documentem a necessidade de um profissional estrangeiro preencher um emprego no país.
“O que eles anunciaram vai cortar a burocracia que existe na imigração canadense”, diz Nicole Cieslicki, diretora sênior de serviços internacionais da MBO Partners, uma empresa sediada no Texas, nos EUA, que conecta empresas com profissionais independentes.
A tendência do nomadismo digital
Durante a pandemia, milhões de profissionais remotos adotaram a ideia de independência de localização. Desde 2019, o número de nômades digitais com empregos assalariados mais do que triplicou, de acordo com um estudo de 2022 da MBO Partners.
Enquanto algumas das maiores empresas de tecnologia dos EUA – incluindo Amazon, Apple, Google e Meta – estão levando os funcionários de volta ao escritório vários dias por semana, Cieslicki observa que muitas ainda adotam o trabalho totalmente remoto. “Empresas de todos os tamanhos em todos os setores estão tentando encontrar uma maneira de equilibrar essa questão, satisfazer a necessidade dos funcionários e se beneficiar da colaboração no escritório.”
Como ser um nômade digital
Antes de decidir passar seis meses, um ano ou mais em um país estrangeiro, um nômade digital deve considerar vários fatores, começando por saber se seu empregador atual tem uma política formal em relação ao tema. “Algumas empresas estão criando diretrizes sobre quanto tempo vão permitir que as pessoas sejam nômades digitais”, diz Cieslicki. “Algumas adotam 30 dias, 60 dias, 120 dias e algumas chegam a seis meses”, diz ela, observando que as empresas geralmente analisam seu próprio risco tributário. O Airbnb, por exemplo, permite que os funcionários passem até 90 dias por ano em mais de 170 países e se mudem para qualquer lugar em seu país de origem sem remuneração reduzida.
Em segundo lugar, é preciso estar atento ao imposto de renda. Quem mora no exterior em definitivo e não é considerado residente no Brasil, não precisa fazer a declaração, a menos que continue recebendo rendimentos no país. A situação é diferente para os cidadãos americanos, que são obrigados a declarar imposto de renda nos EUA mesmo quando vivem em outro lugar. Nesse caso, os nômades digitais devem considerar quaisquer tratados fiscais entre os EUA e outro país de destino específico, como o Canadá.
(traduzido e adaptado por Fernanda de Almeida)