Sua próxima entrevista de emprego pode ser com um chatbot de inteligência artificial. 4 em cada 10 empresas já adotam ou planejam adotar entrevistas com IA até o próximo ano, segundo uma pesquisa do software de currículos ResumeBuilder.com, que entrevistou mais de mil profissionais envolvidos em processos de contratação em junho.
Apesar de ser uma tendência no mercado, entrevistas com IA ainda estão restritas a empresas de grande porte ou com alto grau de contratação de pessoas de tecnologia, e principalmente para posições de entrada ou funções pouco qualificadas, comumente chamadas de “blue color”. “Cargos mais seniores e executivos até o momento não foram cogitados para ter entrevistas ou um processo seletivo completo através de inteligência artificial”, diz Lucas Oggiam, diretor-executivo da consultoria de recrutamento PageGroup.
Segundo Oggiam, o processo de usar qualquer nível de inteligência artificial ou automação em entrevistas evoluiu de formulários preenchidos pelos candidatos há dez anos, e hoje a IA é usada para filtrar informações no currículo ou em testes online e até mesmo conduzir conversas. “A melhor forma para se preparar para uma entrevista como essa é da mesma forma que você se prepararia para a entrevista com um humano.”
IA e os profissionais de RH
A popularização de ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT e o Bard, do Google, tem sido acompanhada no mundo do trabalho e nos processos de recrutamento. Seis em cada dez profissionais de RH já utilizam inteligência artificial nas suas rotinas profissionais, sendo que 26% disseram que usam a tecnologia todos os dias e 34%, raramente. Isso de acordo com um estudo da empresa de benefícios Ticket, que ouviu 300 pessoas da área durante o CONARH, um dos maiores eventos de RH da América Latina, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos.
Entre as atividades do RH que hoje são feitas com IA, estão, principalmente, automações de trabalhos com baixa complexidade, como preparação da folha de pagamento e geração de job description, por exemplo. “Atividades manuais, com as quais a gente perdia uma ou duas horas, hoje podemos resolver em alguns segundos”, diz Oggiam.
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Ao mesmo tempo, 53% dos profissionais da área disseram que não têm um bom entendimento do funcionamento da tecnologia, o que indica a necessidade de capacitação.
A falta de conhecimento também impacta na confiança das pessoas em relação à IA e às empresas que a utilizam – 68% disseram que confiam parcialmente, e 2% disseram que não confiam. “A tecnologia tem muito a contribuir com a rotina de profissionais de diversas áreas, incluindo os de recursos humanos. Quanto mais aptos a utilizá-la, maiores serão os ganhos para a empresa”, afirma Natália Ghiotto, diretora de produtos da Ticket.
O principal benefício é o aumento da produtividade. Em um estudo do MIT, gerentes, profissionais de marketing e RH, consultores e analistas de dados que usaram a inteligência artificial produziram relatórios 37% mais rápido e com melhor qualidade. E não apenas as pessoas ficaram mais produtivas, como também a satisfação no trabalho aumentou.
Os perigos da IA
Entre os entrevistados na pesquisa da ResumeBuilder.com, 15% disseram que a IA será usada para tomar decisões sobre candidatos sem qualquer intervenção humana nas suas empresas. Ainda que reduza os custos de recrutamento e aumente a eficiência dos processos, a inteligência artificial tem limitações e vieses.
Em 2018, por exemplo, a Amazon removeu seu sistema de rastreamento de currículos baseado em aprendizado de máquina que discriminava mulheres porque seus dados eram compostos principalmente por currículos de homens.
Os entrevistados no estudo da ResumeBuilder.com também foram questionados sobre o que a IA avalia nos candidatos: para 83%, qualificações profissionais específicas, enquanto 40% dizem também medir a adequação à cultura. “O perigo é deixar de avaliar algo que seja muito subjetivo a uma máquina”, diz Oggiam, ressaltando que não é possível usar IA em todo tipo de processo seletivo e posição. “Precisamos entender com legislação o quanto as empresas podem evoluir e tratar desse tema e o quanto elas não podem.”
Apesar de a maioria dos entrevistados acreditar na eficiência das entrevistas com IA, 79% também dizem que é “muito” (31%) ou “um tanto provável” (48%) que as entrevistas com IA eliminem bons candidatos com mais frequência do que os entrevistadores humanos.
Como aumentar as chances de ser contratado em um processo seletivo com IA
Pelo funcionamento da IA envolver padrões e a busca por adequação no perfil de um profissional da vaga disponível, formatar o seu currículo envolve facilitar que a tecnologia leia seu perfil como uma boa combinação com a vaga. Confira as dicas de Paula Esteves, co-CEO da Cia de Talentos, e Guilherme Dias, CPMO e cofundador da Gupy:
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Getty Images Utilize palavras-chaves específicas para seu mercado
Estude a área e o mercado para a qual está se candidatando e encontre termos utilizados para descrever atividades, experiências ou qualidades de alguém do ramo. Como a IA trabalha identificando padrões, seu perfil tem mais chances de ser favorecido por tal tecnologia se as descrições das suas experiências e competências forem semelhantes às de outros profissionais da área. Não que as situações sejam as mesmas, mas você pode aproveitar palavras-chave mais buscadas. Usar ferramentas como o Google Trends pode ajudá-lo a ser mais visto.
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Getty Images Estude a linguagem utilizada em sua área
Busque entender como está o mercado no qual você está trabalhando ou para o qual vai aplicar, seja os desafios mais comuns aos profissionais dessa área, as ferramentas que mais utilizam e a linguagem falada e escrita. Isso pode ser feito de várias maneiras, seja fazendo cursos específicos, estudando vídeos e influenciadores (que de fato dominem o assunto). “Há várias formas de se conectar com as necessidades da área e entender sua linguagem e ferramentas mais usadas”, diz Esteves.
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Getty Images Saber como contar a sua história para que a IA leia
O seu currículo reúne suas vivências profissionais e formações acadêmicas, mas não te define como pessoa. Seguindo a tendência de valorização de soft skills e habilidades, saiba dizer quem você é para mostrar como poderia contribuir com a empresa, como se encaixa na vaga e como seus valores se aproximam aos do empregador. Não se esqueça de usar palavras e descrições colocadas no job description e na comunicação da empresa para ser encontrado pela IA.
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Getty Images Filtre suas experiências
“Você não deve contar todo o seu histórico profissional no currículo, como muitos pensam”, diz Dias. Foque em descrever o que for relevante para a vaga, como as ferramentas que você utilizava, sistemas e tecnologias que você domina, as atividades que fazia e que demonstram suas habilidades e outras informações que podem te destacar como alguém de perfil que pode contribuir para as funções descritas na vaga. Esses são os detalhes que serão mais buscados.
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Getty Images Construa um currículo objetivo mas detalhado
Quanto mais informações e detalhes seu currículo tiver, melhor. Mas seja assertivo. Para se envolver no recrutamento, a IA precisa entender profundamente o contexto do currículo e o que a empresa precisa para poder ordenar os perfis de acordo com a afinidade e com a vaga. Assim, concentre-se em mostrar o que você já fez e não falar o que você sabe fazer, além de sempre citar exemplos de situações em que a sua habilidade apareceu.
Utilize palavras-chaves específicas para seu mercado
Estude a área e o mercado para a qual está se candidatando e encontre termos utilizados para descrever atividades, experiências ou qualidades de alguém do ramo. Como a IA trabalha identificando padrões, seu perfil tem mais chances de ser favorecido por tal tecnologia se as descrições das suas experiências e competências forem semelhantes às de outros profissionais da área. Não que as situações sejam as mesmas, mas você pode aproveitar palavras-chave mais buscadas. Usar ferramentas como o Google Trends pode ajudá-lo a ser mais visto.