Qual foi a última vez que você recebeu ou enviou uma carta? A minha já faz um tempo — sete anos —, mas ainda parece recente, porque há cerca de duas décadas, com tanta tecnologia, isso já não é mais necessário nem comum. Mas eu enviei mesmo assim. Num dia chuvoso de 2016, quando, contra todas as probabilidades, foi mais fácil encontrar o endereço de alguém do que seu e-mail. Eu já não sabia mais onde buscar a informação e estava cansada de adiar o envio da mensagem, então achei mais prático chamar um portador, imprimir o que seria um e-mail, assinar à mão, e em minutos, a missão estaria cumprida.
Enquanto isso, a poucos quilômetros de distância, estava o destinatário: Manuel da Costa Pinto, um dos mais respeitados críticos literários do Brasil. Era uma tarde como tantas outras em sua casa, e os únicos barulhos que se ouviam eram do teclado do computador em que ele trabalhava e da chuva forte lá fora. De repente, uma buzina. Inesperada. Só no segundo alarme, ele se convenceu de que era ali mesmo e foi até a porta. Pelo portão, pegou o envelope que lhe foi entregue. Dentro, a carta de uma desconhecida trazia uma proposta inusitada: que tal fazer uma degustação às cegas de um livro? Isto é, ele leria e daria seu parecer sobre a obra sem saber quem era o autor, para que não houvesse viés na opinião. Manuel achou aquilo literário e anedótico. Sorriu e disse “sim”, agora por mensagem de texto, já que eu havia deixado meu número de celular.
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E assim começava a relação entre Manuel e a empresa que criei, Atelier de Conteúdo. Quando falo que meu trabalho é muito divertido, me refiro a eventos como este encontro. Aquele trabalho deu certo, e vieram outros.
O que tem por trás dessa história (e sobre o que quero falar hoje) é que às vezes o que se revela o caminho mais efetivo para chegar aonde se quer não é o mais óbvio. A vida empreendedora é cheia disso. Mas é preciso ter determinação em resolver os problemas, criatividade para enxergar soluções fora da caixa e coragem para tomar o risco de parecer estranha aos olhos dos outros.
As características fundamentais para ser eficiente em resolver problemas
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Getty Images 1. Determinação para resolver os problemas
Esta frase poderia ser um resumo do que significa, na prática, empreender. E determinação, em muitos casos, é uma palavra que pode ser substituída por obstinação. Porque muitos problemas parecem insolúveis. Se for mesmo insolúvel, aceite que não é um problema a ser resolvido e siga para o próximo. Se não, o ideal é resolver sem perder o ritmo. Porque alguns começam a enroscar nas esquinas, se arrastam e se torna uma tentação esquecê-los, abandoná-los, deixá-los para lá. Afinal, a fila não para, e novos problemas estão sempre surgindo. Quando sinto que estou chegando nessa fase, prefiro dar uma volta aparentemente maior (como contratar um portador no meio da chuva) do que insistir no método mais óbvio que não está funcionando, independentemente do motivo.
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Getty Images 2. Criatividade para enxergar soluções fora da caixa
Adoro constatar como a criatividade se manifesta de maneiras nada artísticas em cenários de necessidade. É mais comum associar o conceito a processos que envolvem inspiração, mas a vida cotidiana é repleta de oportunidades de criar soluções improváveis. Por exemplo, imprimir o e-mail, transformando-o numa carta, e enviar por um mensageiro. O efeito de uma ação criativa costuma ser interessante e divertido porque interrompe o automatismo da rotina, trazendo um elemento surpresa.
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Getty Images 3. Coragem para tomar o risco de parecer estranha aos olhos dos outros
Manuel poderia ter me achado esquisita demais para receber uma resposta. Que bom que não foi o caso. Pela minha experiência, tomar o risco de fazer o inusitado traz muitos frutos positivos, mas não posso afirmar com certeza quantas pessoas me rotularam de maluca, de maneira pejorativa, e não me deram mais bola diante de uma atitude ou comentário fora do padrão. Lembro de algumas, e não é uma sensação boa. É chato sentir-se desencaixada, julgada, olhada com desdém. Mas também nunca dei importância demais para isso. Conheço minha intenção e confio mais no que questiona a lógica estabelecida do que em só respeitar o status quo. Encaro como um risco que se corre por sair do lugar comum. E me recordo também de muita gente que voltou atrás, deixando claro que mudou de ideia e agora entende que o que propus faz sentido.
1. Determinação para resolver os problemas
Esta frase poderia ser um resumo do que significa, na prática, empreender. E determinação, em muitos casos, é uma palavra que pode ser substituída por obstinação. Porque muitos problemas parecem insolúveis. Se for mesmo insolúvel, aceite que não é um problema a ser resolvido e siga para o próximo. Se não, o ideal é resolver sem perder o ritmo. Porque alguns começam a enroscar nas esquinas, se arrastam e se torna uma tentação esquecê-los, abandoná-los, deixá-los para lá. Afinal, a fila não para, e novos problemas estão sempre surgindo. Quando sinto que estou chegando nessa fase, prefiro dar uma volta aparentemente maior (como contratar um portador no meio da chuva) do que insistir no método mais óbvio que não está funcionando, independentemente do motivo.
Se você empreende — seja uma empresa, seja qualquer outra iniciativa —, vai ter muita oportunidade para testar essas sugestões.
Ariane Abdallah é jornalista, autora do livro “De um gole só – a história da Ambev e a criação da maior cervejaria do mundo” e fundadora do Atelier de Conteúdo, empresa especializada na produção de livros, artigos e estudos de cultura organizacional.
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