No passado, construir uma carreira significava dar passos calculados para subir na escada corporativa. Em grande parte, essa visão tradicional de avanço profissional está ultrapassada. Após as reduções de profissionais que ocorreram nas décadas de 1980 e 1990 até a chegada da Geração Z no ambiente de trabalho, com novas demandas e prioridades, o cenário mudou.
Hoje, os profissionais têm valores e necessidades diferentes e que vão além do salário. Para muitos, a carreira não está no centro das suas vidas. Por isso, eles não hesitam em mudar de emprego, seja para ganhar mais, ter mais flexibilidade ou um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
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Um dos movimentos que tem transformado o cenário corporativo é o quiet ambition, que consiste na recusa (especialmente por parte dos jovens) a “trabalhar apenas por trabalhar”. Em nome do equilíbrio e da saúde física e mental, cada vez mais profissionais estão rejeitando os próximos degraus na tradicional escada corporativa e redefinindo o significado de ambição.
De acordo com um relatório da plataforma de people analytics canadense Visier com 1000 entrevistados, 96% dos profissionais não consideram ser promovidos ao alto escalão como um objetivo importante de carreira.
Uma pesquisa realizada pela CoderPad, plataforma de contratação de desenvolvedores, identificou que 36% dos profissionais entrevistados não têm intenção de assumir responsabilidades gerenciais. Segundo análises do consultor de carreira de Harvard Gorick Ng, que entrevistou centenas de jovens em todo o mundo, menos de 2% da geração Z tem a ambição de subir na pirâmide corporativa.
Entenda algumas razões pelas quais os profissionais estão rejeitando posições de liderança.
A carreira não linear é a norma
Embora subir a escada corporativa costumasse ser a norma, agora é mais comum seguir caminhos de carreira não lineares. Um dos motivos é que as pessoas passaram a trabalhar por mais tempo. Se você deseja permanecer na força de trabalho por 50 ou 60 anos, precisa encontrar oportunidades profissionais e funções satisfatórias para evitar o esgotamento.
Após a pandemia, mais pessoas passaram a priorizar a flexibilidade e a autonomia em vez de salário e cargos de prestígio. Além disso, mudar de emprego hoje é menos estigmatizado do que antes. Profissionais millennials e da geração Z estão mais dispostos a trocar de emprego para atender às suas necessidades.
Com a transformação da IA no mundo do trabalho, muitos empregos futuros ainda nem existem. Para permanecer competitivo, aprender novas habilidades e abraçar mudanças será fundamental.
Epidemia de burnout
Mais de 75% dos profissionais e 63% dos líderes se sentem esgotados em suas posições atuais, segundo uma pesquisa do The Grossman Group, consultoria de liderança e comunicação com sede em Chicago. No Brasil, 30% dos profissionais sofrem com burnout. Os resultados revelam que os principais fatores para o esgotamento são a carga de trabalho excessiva e a alta rotatividade. “Esses resultados são um alerta. Claramente, os profissionais não estão bem, e isso muitas vezes não é reconhecido pela liderança, cujo trabalho é apoiar e engajar suas equipes”, diz David Grossman, fundador e CEO do The Grossman Group. Quando os profissionais já estão estressados e sobrecarregados, a última coisa em que pensam é assumir mais responsabilidades.
Baixo engajamento
Apenas 23% dos profissionais se sentem engajados no trabalho, de acordo com o relatório State of the Global Workplace 2023, feito pela Gallup, com mais de 100 mil pessoas de diversos países do mundo.
O desengajamento tem sérias consequências para as empresas, incluindo aumento do absenteísmo, maior rotatividade, menor motivação e, consequente, piores entregas e resultados. Quando os profissionais estão desengajados, eles tendem a mostrar falta de iniciativa, entusiasmo e comprometimento, o que também não ajuda a subir na hierarquia corporativa.
Promoções sem aumento
É cada vez mais comum que profissionais recebam um novo título ou mais responsabilidades sem um aumento salarial, à medida que os orçamentos se tornam mais restritos. Segundo uma pesquisa da consultoria Pearl Meyer, 13% dos empregadores disseram que estão usando novos títulos para recompensar os funcionários, um aumento em relação aos 8% em 2018. As promoções sem aumento, porém, desmotivam os profissionais, que se sentem desvalorizados.
Papéis de gerência são menos atrativos
Uma pesquisa da Visier mostra que apenas 38% dos profissionais têm a ambição de se tornar gerentes de pessoas. Quando analisado por gênero, o problema de sucessão é ainda mais marcante: 44% dos homens estão interessados em posições de gerência, em comparação com apenas 32% das mulheres.
Estas foram as cinco principais razões citadas no estudo:
- Expectativas de aumento de estresse e pressão (40%);
- Perspectiva de trabalhar mais horas (39%);
- Satisfação com o papel atual (37%);
- Falta de interesse em responsabilidades de liderança (30%);
- Potencial de conflitos com interesses fora do trabalho (28%).
As pessoas passaram a redefinir o sucesso no trabalho e priorizar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Além disso, uma nova tendência chamada “unbossing” está ganhando força. Com os avanços tecnológicos e a incerteza econômica, mais empresas eliminaram a camada de gerência intermediária a fim de reduzir a burocracia, cortar custos e impulsionar a inovação.
Um exemplo recente é a Amazon, cujo CEO, Andy Jassy, pediu um aumento de 15% na proporção de colaboradores em relação aos gerentes. Outras empresas que estão adotando essa tendência incluem a Bayer, Citigroup e Salesforce.
Com a segurança no emprego se tornando uma lembrança distante, subir na escada corporativa parece menos atraente do que antes. Muitos profissionais, principalmente da geração Z, não têm interesse em gerenciar outras pessoas ou focar em trabalhos que acham menos satisfatórios. Em vez disso, eles priorizam trabalhos com propósito e que permitam equilibrar vida pessoal e profissional e seu próprio bem-estar.
Isso não significa que esses profissionais não são ambiciosos. Sua ideia de ambição evoluiu junto com o mundo do trabalho. Se as promoções perderam apelo, especialistas avaliam que é hora de as empresas encontrarem outras formas de motivar e reter os profissionais. Trabalho significativo, flexibilidade e autonomia podem ser essenciais para reter colaboradores com uma definição mais ampla de sucesso.
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*Caroline Castrillon é colaboradora da Forbes USA. Ela é mentora de liderança corporativa e ajuda mulheres a lidar com mudanças em suas carreiras.