Em 2025, a Geração Z vai representar 1/4 da força de trabalho global, segundo relatório da consultoria McKinsey. À medida que um número crescente de jovens entra no mercado, muitos encontram dificuldades para se adaptar às práticas tradicionais desse ambiente, o que tem resultado em frustração e altas taxas de demissão. Segundo uma pesquisa realizada em agosto de 2024, 60% dos empregadores demitiram colaboradores da Gen Z poucos meses após contratá-los.
Essa nova geração de profissionais pode ser a mais diversa, motivada, emocionalmente consciente e empática. No entanto, também é vulnerável a contratempos no mundo corporativo e acaba sendo demitida por motivos como falta de iniciativa e escassez de habilidades de comunicação, por exemplo.
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Mas será que a culpa é totalmente deles? A Geração Z é vocal sobre injustiças sistêmicas, mudanças climáticas e questões no ambiente de trabalho. Eles também são habilidosos em tecnologia, marketing e redes sociais, mas os líderes demonstram dificuldade em gerir e lidar com esses profissionais.
Aqui estão cinco fatores que contribuem para essa dificuldade de relacionamento:
1. A geração Z tem uma maior consciência emocional
A Geração Z é frequentemente vista como a mais emocionalmente autoconsciente, o que facilita a conexão com os colegas e a defesa da sua saúde mental. No entanto, alguns podem argumentar que os jovens profissionais têm dificuldade em separar suas emoções pessoais das dinâmicas do ambiente de trabalho. Resolver esses conflitos é ainda mais difícil quando os gestores se recusam a abordar as questões com empatia.
Uma pesquisa de 2024 mostrou que mais de 80% dos profissionais da geração Z enfrentam esgotamento no trabalho. Mas o desafio não é só para eles. Outra pesquisa realizada neste ano descobriu que 18% dos gerentes nos Estados Unidos estão considerando pedir demissão devido ao estresse de gerenciar a geração Z.
Encontrar o equilíbrio certo entre empatia e profissionalismo é fundamental. Os líderes podem promover um ambiente de trabalho mais saudável criando espaços e momentos designados para os funcionários expressarem preocupações, ao mesmo tempo em que garantem uma atmosfera profissional durante as tarefas de trabalho e entregas importantes.
2. Diferentes estilos de comunicação geram atritos
Não se surpreenda ao receber mensagens de texto de profissionais da Geração Z, mesmo se for para tratar de um assunto importante do trabalho. Essa geração prefere se comunicar de forma concisa, direta, informal e por meio de plataformas de mensagens, o que pode entrar em conflito com as expectativas de formalidade e protocolo das gerações mais velhas.
Esse desafio se torna mais pronunciado em ambientes de trabalho híbridos ou remotos, em que a maior parte da comunicação ocorre por mensagem de texto ou e-mail, o que pode levar a mal-entendidos ou conflitos. Dito isso, a geração Z não é avessa à comunicação cara a cara; ela apenas tende a usar métodos baseados em texto com mais frequência.
Se você estiver do outro lado e confuso sobre a linguagem de um colega, pergunte o que ele quis dizer ou ensine a melhor forma de ter aquela conversa, em vez de repreendê-lo por “não ser profissional”. Com o tempo, você pode até descobrir que a comunicação informal da Gen Z pode gerar um senso de proximidade.
3. O vácuo de feedback é uma barreira para o crescimento
Uma pesquisa de 2018 sugere que mais de 65% dos profissionais da Geração Z querem feedback frequente, pelo menos uma vez por semana. Sem esse retorno, eles podem se sentir desengajados e estagnados, especialmente quando se trata de profissionais autônomos.
Além disso, mesmo que os jovens possuam as habilidades técnicas necessárias para se destacar, eles podem carecer de habilidades interpessoais, como, por exemplo, comunicação e capacidade organizacional. O ideal é que os líderes orientem esses profissionais com paciência, mesmo quando cometem erros.
As universidades frequentemente ensinam um conjunto de habilidades diferente do que é exigido no ambiente de trabalho. Embora a lacuna entre a cultura universitária e a corporativa esteja gradualmente diminuindo, ela ainda é significativa, o que pode deixar os novatos despreparados para o tipo de trabalho e os ambientes que encontram.
Se você é um profissional da Geração Z, faça o máximo de perguntas possível, especialmente nos primeiros dias de trabalho. Conheça sua equipe para identificar o ponto de contato certo para os desafios que enfrenta. Expectativas pouco claras e avaliações de desempenho atrasadas podem gerar frustração, mas lembre-se de não levar tudo para o lado pessoal: isso faz parte do processo de aprendizagem.
4. Valores desalinhados criam conflitos
A Gen Z traz um conjunto de valores diferente das gerações anteriores, o que já aconteceu antes e deve continuar ocorrendo. Eles priorizam inclusão, flexibilidade e trabalho com propósito, o que pode entrar em conflito com valores tradicionais do ambiente de trabalho, como hierarquia e estabilidade.
O conflito surge quando esses valores diferentes afetam a produtividade. Por exemplo, um jovem profissional que pede um dia para cuidar da saúde mental durante um período de alta pressão pode causar frustração entre os colegas que precisam assumir tarefas adicionais.
A Geração Z busca constantemente o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, e com razão. Consequentemente, a falta de flexibilidade da liderança para acomodar suas necessidades pode levar à insatisfação no trabalho.
Uma maneira eficaz de reduzir o gap geracional é estabelecer expectativas claras desde o início. Com um entendimento compartilhado de responsabilidades e resultados, apoiados pela cooperação e respeito mútuo, as empresas e equipes podem aproveitar o potencial da geração mais nova sem afastá-la.
5. Os ambientes de trabalho não atendem às expectativas
Muitos profissionais da geração Z entram no mercado de trabalho com grandes expectativas de realização e progressão na carreira. Acostumados com um mundo em que tudo é imediato, eles também buscam essa agilidade na vida profissional. No entanto, acabam enfrentando demissões, insegurança no emprego ou microgestão, o que pode ser um choque de realidade.
Estudos mostram que 1 em cada 4 jovens está insatisfeito no trabalho e 20% já estão considerando pedir demissão. Uma pesquisa da McKinsey & Company, realizada em 2022, também mostra que eles têm mais chances de serem autônomos ou de ter vários empregos em comparação com os mais velhos.
Os líderes precisam ouvir ativamente as demandas da Geração Z e adaptar seus estilos de gestão para incentivar uma cultura de trabalho mais inclusiva e de apoio. Isso significa não apenas fornecer feedback construtivo e reconhecimento, mas também criar oportunidades para o desenvolvimento de habilidades e crescimento na carreira. Em vez de depender apenas da iniciativa deles, fornecer treinamento e flexibilidade pode ajudar a Gen Z a prosperar.
Essa geração se desenvolve em um ambiente profissional positivo, onde o bom trabalho é apreciado, as horas extras são recompensadas e o modelo híbrido está disponível. Ela valoriza transparência e colaboração, por isso os líderes devem priorizar a comunicação aberta e envolver os jovens nas decisões sempre que possível.
A consciência emocional, os estilos de comunicação e a abordagem baseada em valores da geração Z estão remodelando o ambiente de trabalho, mas essas características também podem levar a contratempos e riscos de demissão. Esses profissionais precisam equilibrar seus pontos fortes com estratégias para superar os desafios, incluindo comunicação adaptativa e busca de feedback. Ao incentivá-los a colaborar e ajudá-los a navegar pelos desafios do ambiente de trabalho, os líderes podem criar ambientes harmoniosos e produtivos que beneficiam a todos.
No final, a geração Z e seus empregadores precisam se encontrar no meio do caminho. Em vez de focar nas diferenças, precisam prestar atenção no que podem aprender uns com os outros, já que ambos oferecem lições valiosas sobre como o ambiente de trabalho moderno deve ser.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.