
“The White Lotus”, da HBO, não está apenas redefinindo a TV de alto nível — está sacudindo a forma como Hollywood faz negócios. A série antológica se tornou um fenômeno cultural ao combinar sátira mordaz, crítica social afiada e um elenco rotativo de personagens ricos, excêntricos e moralmente complexos.
A terceira temporada, ambientada na Tailândia, traz estrelas como Carrie Coon, das séries “A Idade Dourada” e “The Leftovers”, e a vencedora do Oscar Michelle Monaghan. Mas até mesmo as duas estrelas receberam o valor fixo de US$ 40 mil (R$ 236,4 mil) por episódio. Em um movimento ousado e transparente, os produtores anunciaram que todos os atores, independentemente da fama ou histórico profissional, recebem o mesmo cachê.
Não se trata apenas de faixa salarial — é uma declaração, e traz lições de liderança que marcas com visão de futuro não podem ignorar. “Todos são tratados da mesma forma em ‘The White Lotus’”, disse o produtor David Bernad ao The Hollywood Reporter. “Eles recebem o mesmo salário e fazemos a listagem de créditos em ordem alfabética, então estamos trabalhando com pessoas que querem estar no projeto pelos motivos certos.”
O sistema salarial de “The White Lotus” foi criado na primeira temporada porque não havia dinheiro para fazer o programa. Embora esteja chamando atenção agora, o modelo da série segue os passos de outras produções anteriores. O elenco de “Friends” ficou famoso por se unir para exigir igualdade salarial, e anos depois, os atores de “The Big Bang Theory” fizeram o mesmo — dando raros exemplos de solidariedade em uma indústria que costuma recompensar a hierarquia.
O que faz “The White Lotus” se destacar hoje é o momento em que essa decisão acontece. Apesar dos avanços, mulheres — especialmente mulheres negras — ainda enfrentam disparidades salariais persistentes dentro e fora da indústria do entretenimento.
A série inverte o roteiro de uma indústria conhecida pela desigualdade salarial ao nivelar o campo de jogo. Essa abordagem estratégica cria uma cultura em que a colaboração supera a competição e o ego fica em segundo plano.
Confira 4 lições de liderança por trás do modelo de igualdade salarial de “The White Lotus”
1. Liderar com justiça, não com ego
“The White Lotus” não esperou pressões ou polêmicas para mudar. Pagar igualmente significa eliminar negociações movidas por ego ou favoritismo. Todos os atores, das celebridades aos talentos em ascensão, recebem o mesmo salário. Isso comunica algo poderoso: valorizamos seu talento, não sua influência.
Justiça não é uma reação, é uma estratégia. Marcas que adotam a equidade de forma proativa demonstram integridade e visão de longo prazo. Quando os colaboradores sabem que são igualmente valorizados, eles competem menos entre si e se dedicam mais ao propósito comum.
2. Valores atraem as pessoas certas
Ao tornar a igualdade salarial inegociável, “The White Lotus” filtra talentos que se alinham com seus valores. Quem entra para o elenco o faz porque acredita no projeto — e não apenas pelo salário.
Se você quer formar um time verdadeiramente engajado, torne seus valores claros e estruturais. Quando a remuneração reflete os princípios da empresa, ela se torna um ímã para talentos movidos por propósito. Quem se conecta com o “porquê” sempre entrega mais do que quem só busca o “quanto”.
3. Simplificar para crescer
Negociar salários pode ser um processo complicado, demorado e cheio de vieses. A série eliminou isso ao definir uma política salarial consistente desde o início. O resultado? Escalações mais ágeis, expectativas mais claras e menos dramas nos bastidores.
A complexidade mata a agilidade. Se sua organização está atolada em negociações salariais caso a caso, considere como a padronização pode economizar tempo e reduzir atritos. Clareza gera eficiência e lealdade.
4. Atitudes ousadas constroem cultura
O que “The White Lotus” fez não é apenas um bom marketing, mas uma aula de liderança moderna. Igualdade salarial não significa nivelar talentos ou ignorar experiências distintas; significa afirmar que todas as contribuições têm o mesmo valor para o sucesso coletivo. Isso transforma a remuneração em uma escolha cultural.
Quando empresas lideram com equidade, constroem confiança. E essa confiança se torna a base de um senso de propósito compartilhado que não se compra com benefícios ou slogans. Cultura se molda com ações ousadas e consistentes.
Marcas que tiverem a coragem de fazer o mesmo vão atrair e reter talentos e reputações que resistem ao tempo. Isso não é só liderança. É legado.
*Cheryl Robinson é colaboradora da Forbes USA. Ela é modelo, palestrante internacional, autora e fundadora da plataforma Ready2Roar. Nos últimos cinco anos, estudou como as pessoas transacionam de carreira e também tem uma trajetória de 15 anos na indústria do esporte e do entretenimento.