Com ligeira passagem por Moscou, vemos o mundo se contorcendo em guerra de palavras e atitudes para se adaptar à nova realidade – a força bruta como razão de estado. Nada de novo na história das civilizações, mas o seu ressurgimento em pleno século XXI mostra que exemplos históricos de invasões e conquistas estão menos ligados a constrangimentos éticos e morais; dependendo, sim, de vontades individuais, liberticidas ou conquistadoras, buscando emulações com predecessores como no caso de Pedro o Grande emulado por Putin.
Das impotências crônicas, como a da Liga das Nações, aceleradora (sem o desejar), da II Guerra Mundial, ou dos insucessos da própria ONU na resolução de conflitos pós-conflagração mundial, a lição que fica é que, no tabuleiro do poder mundial, o que ainda conta é a força das armas.
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Houve, é verdade, consensos históricos, como no caso da invasão do Kwait pelo Iraque e para a qual a coalizão liderada pelo presidente George Bush, 41, foi um eloquente exemplo de unidade internacional. É o que o presidente Joe Biden está tentando agora na grande aliança mundial, visando a retirada das tropas russas da Ucrânia.
No meu entendimento, com o aumento de tropas da OTAN na Polônia e o envio de armamentos sofisticados aos ucranianos, estamos chegando às franjas de um conflito mundial e atômico. Vale lembrar que foi Harry Truman, democrata, quem ordenou o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
Volto ao Brasil.
Cresceremos entre 2.5 a 3 % neste ano. Ainda pouco para o potencial brasileiro, mas é uma significativa marca mundial. E, quando os Estados Unidos atingem uma inflação anual próxima de 10%, procuramos aqui nos manter entre 13 e 15%. Mas longe da estagflação que ronda e ameaça países da Europa. É uma difícil conjuntura mundial, mas temos todas as condições de vencer esta crise que se reflete em cada lar brasileiro, em especial no dos menos favorecidos.
E uma palavra sobre a Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles, em junho. Argentina, Uruguai, Canadá, Colômbia e mais uma dezena de países lá estiveram e a presença brasileira foi marcada pelo diferencial de uma reunião privada entre os Biden e Bolsonaro. Não há isolamento internacional do Brasil quando seu presidente é convidado e recebido por líderes em posições tão opostas como os dos Estados Unidos e da Rússia. Fico contente por ter mais uma vez modestamente, como representante do setor privado, ter podido colaborar para este desiderato comum.
Isto a despeito dos comentários que acima de tudo atingem o país, e não as pessoas, diminuindo-nos aos olhos de todos.
O Brasil visa a paz e a advoga em todos os fóruns. Dialoga, discute, apoia ou discorda com o peso de uma grande nação com mais de 210 milhões de habitantes, entre as dez maiores economias do mundo. A nossa crença é a da unidade nacional respeitada em cada rincão do continente, com fronteiras intocadas e intocáveis, homens livres e povos com autodeterminação e coragem afirmativa na busca constante da liberdade e da justiça social.
Mario Garnero é fundador e presidente honorário do Fórum das Américas, fundador e presidente da Associação das Nações Unidas-Brasil e fundador do Grupo Brasilinvest. Anteriormente, foi presidente do CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e diretor da VW do Brasil e da Monteiro Aranha.
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Artigo publicado na edição 98 da revista Forbes, em junho de 2022.