O novo passaporte brasileiro não me representa e a julgar pelo que diz a Constituição Brasileira no seu artigo 13 § 1.º – São símbolos da República
Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais – ele não representa a nossa nação também.
Quanto mais se aproxima o meu prazo limite para renovar esse que é o nosso cartão de visita no mundo e único documento de identificação para o deslocamento global eu começo a pensar que terei que recorrer ao expediente de usar uma capa de couro para cobrir aquela aberração estilística saída da prancheta de algum burocrata que não sabe como conseguiu aquele emprego ou de alguma empresa que cobrou uma pequena fábula por algo que não precisava ser refeito e que foi aprovado por alguém que não tem a menor noção sobre o assunto – algo bastante corriqueiro em algumas esferas governamentais do Brasil.
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Eu já estou meio acostumado a ser ridicularizado quando, em viagens pelo mundo, mostro a minha CNH – comumente conhecida como carteira de motorista pela grande maioria ou apenas por “carta” para a população do DDD (11) – com aquela aparência de documento falso feito no fundo de um quintal, de uma republiqueta de bananas. Ninguém – nem as autoridades, nem os porteiros, nem mesmo o carteiro – acredita que aquilo ali é, sim, o documento oficial de identificação de toda uma população da 7ª maior economia do mundo… já tive problemas para comprovar que eu era eu mesmo. Agora, para completar o “pacote vexame” temos um passaporte que mais se assemelha a uma carteira de benefícios de um clube de compras – ia comparar com o passaporte vendido no Epoct Center que você usa para ir carimbando, como recordação, conforme vai passando pelos 11 países que formam a atração World Showcase, mas lembrei que o deles é bem mais bonito e imponente que o nosso atual.
Se fosse apenas um documento mal desenhado, uma simples capa de couro resolveria o problema, mas o nosso passaporte é apenas uma pequena lembrança dos equívocos que são cometidos, sistematicamente, em Brasília nos últimos 13 anos. Uma sucessão de decisões nada técnicas, embaladas em sua grande maioria por ideologias comprovadamente falidas e que deixam o interesse da nação sempre em segundo plano.
Aproveitando o âmbito global do tema e analisando as escolhas e posições da nossa Chancelaria vemos o quão mal representados nós estamos. Vamos deixar de lado, por ora, a enorme predileção do Itamaraty (e seus superiores diretos) por ditadores e tiranos ou a compaixão e o desejo de diálogo com grupos terroristas – e sem querer se aprofundar muito no tema, olhar rapidamente o cenário dos blocos econômicos/políticos: É visível que a insistência do Brasil em seguir, teimosamente, com o projeto do Mercosul como algo prioritário para o país, ao invés de buscar estabelecer acordos bilaterais com outros blocos e países é um enorme equívoco e um entrave para o desenvolvimento da nossa economia.
OS NÚMEROS NÃO MENTEM
OS PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS/POLÍTICOS/SOCIAIS COMPARADOS COM O MERCOSUL
MERCOSUL
– População: 275 milhões de habitantes
– PIB: US$ 3,2 trilhões
– PIB per capita: US$ 11.597
– Exportações: US$ 102,8 bilhões
– Importações: US$ 106 bilhões
UNIÃO EUROPEIA
– População: 514 milhões de habitantes
– PIB: US$ 18,27 trilhões
– PIB per capita: US$ 39.400
– Exportações: US$ 2,173 trilhões
– Importações: US$ 2,312 trilhões
NAFTA
– População: 418 milhões de habitantes
– PIB: US$ 10,3 trilhões
– PIB per capita: US$ 25.341
– Exportações: US$ 1,510 trilhão
– Importações: US$ 1,837 trilhão
Fontes: The World Factbook — CIA, Banco Mundial e World Economic Outlook Database — e FMI.
Não bastassem os números decepcionantes do Mercosul, o bloco se notarizou por uma complacência com atitudes nada democráticas, como o autoritarismo Venezuelano que caça direitos, cerceia a liberdade e persegue opositores … nada disso fora suficiente, até hoje, para que a República Bolivariana tivesse sido suspensa ou expulsa do bloco. Foi preciso que a resposta viesse mesmo das ruas e do povo; Primeiro na Argentina, com o presidente eleito, Mauricio Macri – que sacramentou o fim da era Kirchner – e depois com a recente derrota Chavista no parlamento Venezuelano que emparedou o ditador Maduro.
Macri na Argentina, a oposição no comando do legislativo depois de 16 anos na Venezuela, Dilma atordoada diante de um pedido de impeachment, crise profunda na economia e baixíssima popularidade. Parece mesmo que os efeitos do temido El-Niño de 2016 já começaram a ser sentidos na América do Sul.
Devolvam o nosso Brasão!
Antonio Camarotti* Publisher/CEO Forbes Brasil
Texto publicado na edição 38 de FORBES Brasil, de dezembro de 2015/janeiro de 2016