Alexandra Loras é consulesa da França e liderou, no último dia 23, o primeiro TEDx, em São Paulo, no Hotel Unique, sobre mulheres negras que inspiram. O evento, como sempre, reúne uma série de palestrantes para abordarem um tema importante da sociedade.
Na rápida entrevista abaixo, ela fala sobre a importância do encontro e da luta que a mulher enfrenta todos os dias.
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Como nasceu a ideia desta edição do TEDx?
Idealizei colocar no palco vinte mulheres negras de destaque – juízas, advogadas, médicas, jornalistas – para que elas tivessem a oportunidade de mostrar o quanto é difícil viver em um mundo que ainda é eurocêntrico e machista. O TED é uma chance de elevar o debate sobre as condições da mulher negra no Brasil. Permite que as pessoas saibam, por exemplo, o que é ser uma médica negra, com cabelo crespo: todos os dias há pacientes questionando a legitimidade de você estar nesse espaço como médica ou perguntando: “Mas onde está a médica?”.
Você acredita que ainda exista muito racismo no Brasil?
Acredito que nossa geração pode mudar o mundo, porque o branco de hoje não é responsável pelo que aconteceu ontem, como a escravidão, a colonização. O alemão de hoje não é responsável pelo que aconteceu no tempo de Hitler. Mas somos todos responsáveis por tentar reequilibrar nossa sociedade e os problemas ligados à essa herança do passado. Temos, por exemplo, 85% das crianças negras, de menos de cinco anos, que escolhem a boneca branca como a linda e boazinha, e a negra como a feia e a má. Se olharmos a população brasileira, que é 57% de cor, temos de enxergar que temos apenas 4% de negros na televisão. E são estigmatizados em papéis serviçais, como babá, faxineira ou a amante que destrói os casamentos dos ricos, brancos. O racismo é tão enraizado na cultura brasileira que as pessoas nem sequer conseguem enxergar o quanto ela permanece existindo em outras formas de escravidão moderna. Imagina receber um salario de 1.200 reais e ter três crianças para cuidar?