Não vinha sendo tarefa das mais fáceis ser cidadão brasileiro no exterior. Era quase impossível chegar numa reunião de negócios ou a um encontro informal em qualquer parte do planeta sem ouvir aquela já esperada pergunta: “What’s going on in Brazil?” Dependendo do país em que você estivesse, e do grau de intimidade com o interlocutor, a pergunta — e os posteriores comentários — eram mais ou menos polidos, mas o espanto e a incredibilidade eram enormes.
Onde tinha ido parar, afinal, aquele país que prometia ser um dos mais promissores dos Brics — já dado como morto por muitos, desde as derrocadas de B (Brasil) e R (Rússia), que deram espaço, segundo alguns analistas, para os Ticks: T de Taiwan e K de Coreia do Sul (South Korea); os outros que compõem o acrônimo são Índia, China e África do Sul (South Africa).
Mesmo sem nunca ter frequentado uma única aula do Instituto Rio Branco, eu sentia na pele, e agia como um diplomata de carreira que, mesmo ciente das mazelas do país, condescendia e, na medida do possível, continuava vendendo as maravilhas de um Brasil promissor.
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Dois fatos, entretanto, que ocorreram quase simultaneamente, parecem ter sido suficientemente grandes para dar início a uma rápida mudança da percepção externa em relação ao Brasil: a Olimpíada Rio 2016 e a conclusão do processo de afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff.
Voltar a Nova York, no fim de agosto, já foi uma outra experiência. O “o que está acontecendo com o Brasil?” dera lugar ao “parabéns pela Olimpíada e pelo novo presidente! Agora o Brasil volta aos trilhos, certo?”. Mais do que apenas um comentário amigável e gentil, esse foi, mais ou menos, o teor de quase todas as conversas que tive com altos executivos de marcas globais dos mais variados segmentos, com estrangeiros que investem nos Estados Unidos e americanos comuns que andam mais preocupados com a possibilidade de terem um Mr. Trump como presidente pelos próximos quatro anos.
Talvez a conversa mais reveladora de todas tenha sido a que tive no chão do pregão da NYSE (sigla em inglês da Bolsa de Valores de Nova York), um dos maiores templos do capitalismo mundial, onde você pode sentir de perto o pulso e o humor da enorme parcela de quem decide no mundo o que é bullish (termo do mercado de ações que indica quando existe uma tendência ou expectativa de alta nas ações, em referência a bull, o touro) ou o que é bearish (termo que indica quando a tendência ou expectativa é de queda das ações, em referência a bear, o urso).
Foi ali, entre telas, gráficos e o sino de encerramento do pregão, em conversas francas, diretas e rápidas — “time is money”, lembram? — que mais de um operador me disse que, para eles, o pior momento do Brasil já tinha ficado para trás há um certo tempo, e que a saída do governo do PT representava um fator determinante para a melhoria do ânimo dos investidores em relação ao país. Todos foram unânimes na opinião de que uma economia do tamanho da do Brasil possui um fabuloso potencial de “bounce back”, que é ainda maior, neste caso específico, dada a magnitude da crise que ainda vivemos. Ou seja: o freio de mão ficou puxado por tanto tempo e com tanta força, que quando ele for solto de vez a aceleração vai ser grande o suficiente para colocar para andar este enorme gigante, e compensar o tempo em que ele ficou inerte.
Que os experientes e calejados operadores de Wall Street estejam certos. Que estejamos diante de bullish days, e que o Brasil, em pouco tempo, volte a ser o que ele nunca deveria ter deixado de ser: cool!
*Antonio Camarotti é Publisher/CEO de FORBES Brasil
Texto publicado na edição 45 de FORBES Brasil, de setembro de 2016