Arroz de forno da tia, o bolo da vovó, o almoço de domingo na casa da mãe. Tem coisa mais gostosa do que esse tipo de afeto, que nos chega quase como um abraço, quando deparamos com essas receitas à nossa frente? Acredito que a energia que isso nos traz é imbatível, do tipo que mexe com a gente, fazendo um mimo não só ao nosso paladar, mas resgatando lembranças e histórias bem especiais.
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A partir dessa torrente de sensações, o mundo da gastronomia criou a vertente culinária chamada de comfort food. Ou seja, o estilo de comida que traz conforto, afago, boas lembranças. Quase sempre ele é representado por pratos simples, que nos ganham mais pelo contexto do que pela experiência gourmet, com seus ingredientes exóticos. Não que esses programas mais exclusivos não tenham seu valor, mas não são para o dia a dia, sobretudo quando o que a gente busca é um “carinho na alma”.
O motivo que me fez trazer esse tema à mesa é o Dia das Crianças.
Dia desses, parei toda a minha rotina: da família, de casa, do trabalho. Desliguei o celular e comecei a recordar minha infância, puxando pelos sabores e aromas que me cercavam aos 8, 10, 15 anos de idade. Foi engraçado (e emocionante) remexer nessas memórias. Surgiram diante de mim a sopa de legumes que minha mãe preparava para e com a qual nos acolhia na volta da escola, especialmente nos dias de inverno, e o nhoque – totalmente caseiro, a massa e o molho feitos com ingredientes frescos, paciência e amor.
Venho de uma família de origens múltiplas. Nosso paladar, desde cedo, também se internacionalizou. O chucrute – clássica conserva alemã feita de repolho fermentado – era uma das especialidades da minha avó e da minha mãe, nascidas em Paris. Meu pai era imigrante italiano, e de lá trouxe as receitas da polenta de corte com coelho e do bollito (cozido de carnes da região do Piemonte, no norte da Itália), que meu nonno fazia como ninguém.
Eu praticamente nasci e cresci dentro de uma cozinha profissional, no restaurante da família. E aí o turbilhão de memórias assume uma dimensão épica. Pratos que se tornaram célebres na gastronomia paulistana são itens obrigatórios na minha lista de comfort food. Como não festejar o carpaccio e suas lâminas de carne fresca com lascas de grana padano, um clássico criado em Veneza? (Fomos um dos primeiros a oferecer a delícia por aqui, causando frisson entre os gourmets da época.)
Não tão infantil, mas ainda assim remetendo a memórias distantes, tenho o mesmo encanto pelos camarões flambados com champanhe (um marco em nosso restaurante, em nossa família e, percebo agora, em nossa vida).
Nessa volta ao tempo me vêm imagens do bar e dos elegantes senhores que frequentavam a casa, ostentando suas taças de martíni – drinque que foi o hit de outros tempos. Do meu cantinho, eu olhava curiosa tudo isso como um filme, não muito diferente da sensação que sinto agora.
O Dia das Crianças
Isso não tem a ver com culinária, mas não deixa de ser um assunto saboroso. O Dia das Crianças é comemorado em muitos países, em datas diferentes. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), por exemplo, escolheu o dia 20 de novembro. Nesse dia, em 1959, a entidade oficializou a Declaração dos Direitos da Criança – entre eles, o direito a educação, amor e alimentação. No Brasil, a homenagem aos pequenos começou antes. Em 1923, a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, sediou o 3º Congresso Sul-Americano da Criança. No ano seguinte, o decreto nº 4.867 oficializou o dia dedicado a elas.
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Mas não foi o decreto, e sim uma campanha publicitária, lançada mais de 30 anos depois, que fez a data pegar. Em 1955, a indústria de brinquedos Estrela criou a “Semana do Bebê Robusto” e logo depois a “Semana da Criança”. Foi um sucesso. E até hoje o dia 12 de outubro é sinônimo de boas vendas… e de criança feliz.
*Carla Bolla é restauratrice do La Tambouille, em São Paulo
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