Recentemente, ouvi de uma amiga próxima que, em poucos dias, ela iria para um retiro de meditação com duração de mais de uma semana. Em sua mensagem, ela dizia: “Na era da velocidade, comecei a pensar que nada poderia ser mais revigorante do que desacelerar. Na era da distração, nada me parece mais luxuoso do que prestar atenção. E, em uma época de constante movimento, nada pode ser mais urgente do que ficar quieto”.
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Essa citação me tocou profundamente. Desde o falecimento da minha esposa, encontrei um novo ritmo, muito mais profundo, contudo mais lento. Certamente, como empresário e executivo, sempre tive muito mais coisas para fazer do que jamais consegui. Eu era viciado em trabalho, especialmente na minha área, a publicidade. Sentia como se estivesse nadando e morrendo na praia. Isso não me parecia fora do comum, porque todos ao meu redor pareciam estar na mesma situação. De alguma forma, neste mundo hiperconectado de autopromoção, me sentia menos reconhecido e mais distante de tudo que era importante para mim.
A vida de Bridget se resumiu a transtorno bipolar e seu subsequente suicídio, e isso não apenas me encheu de tristeza e desamparo, como também serviu de alerta. Embora os episódios das manias fossem causados por uma doença, em retrospectiva percebo que essas fases eram semelhantes ao ambiente de trabalho em que eu vivia. Sempre conectado. Sempre com mais dez coisas para fazer antes de me “desconectar” de vez. Sempre correndo contra o tempo.
O que eu percebi é que para que qualquer um de nós faça a diferença no mundo, é preciso desacelerar. Crie relacionamentos mais profundos e significativos. E desligue. Apenas sente-se e relaxe. Como me dediquei a seguir a jornada de cocriação e o futuro do trabalho que iniciei há 20 anos, tornou-se óbvio que preciso desacelerar. Tire um tempo para cavar mais fundo. Tenha menos distrações e mais espaço. Conecte-se com menos pessoas e aprofunde esses relacionamentos.
Atualmente, é muito difícil dar significado às coisas quando elas estão em um ritmo frenético. Eu costumava usar a analogia do viajante que, mesmo sentado ao lado do rio, não sabia como era a água e, ainda assim, hesitava em pular. Eu sempre pulei de cabeça logo de cara. Depois de viver uma vida profunda em poder do rio, o mesmo me moldou à sua semelhança, mantendo-me em constante movimento. Para agir. No entanto, percebi que também há beleza em se sentar ao lado do rio e apenas observar. Considerando o contexto maior. Entendendo seu caminho.
Não tenho certeza se em algum outro momento eu teria tido a oportunidade de me sentar ali se eu não tivesse sido forçado a enfrentar a dolorosa realidade da doença mental de Bridget. Minhas raízes agora estão crescendo de forma profunda às margens do rio. Estou mais conectado às coisas que realmente importam para mim. Conectado ao meu trabalho de uma maneira diferente da anterior.
O futuro do trabalho se concentra na economia gig – ou economia sob demanda -, uma modalidade relacionada mais à mentalidade. Há muito para fazer em nossas vidas e em nosso trabalho. Pode ser avassalador. Mas não precisamos fazer tudo sozinhos. Há agora um mundo conectado digitalmente lá fora, cheio de pessoas dispostas a ajudar a fazer o trabalho. Podemos dividir as coisas em tarefas menores. Podemos pedir ajuda. Podemos encontrar soluções para problemas, fazer tudo o que tivermos que fazer, e ainda assim, ter o espaço que precisamos em nossas vidas.
A economia gig nos permite emergir do rio com tempo suficiente para descobrir que o trabalho é importante para todos nós. Dando-nos as ferramentas para crescer e, mesmo assim, descansar cada vez mais.