Se você tiver dificuldade para dormir bem à noite, pode ficar mais sensível à dor durante o dia. Essa relação é frequente em estudos sobre o sono, mas, como na maioria das associações desse tipo, é difícil explicar como e por quê acontece. Uma nova pesquisa, que combinou um experimento de laboratório com imagens do cérebro, pode ter chegado a um pouco mais de clareza.
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Muitos podem confirmar a conexão entre o sono e a dor pela própria experiência do dia a dia. Uma noite curta de sono pode ser seguida de dor de cabeça ou de tensão muscular no pescoço e nos ombros. Para piorar, a dor dificulta o sono. É um ciclo terrível. O estudo se desenvolveu a partir desse ponto, com o experimento no laboratório que exigia voluntários corajosos e livres de quaisquer distúrbios.
Os pesquisadores primeiro tomaram uma linha de base dos limiares de dor dos voluntários que haviam tido uma noite bem dormida, aplicando níveis cada vez mais desconfortáveis de calor nas pernas, enquanto examinavam sua atividade cerebral com uma máquina de ressonância magnética funcional.
Depois, eles privaram os voluntários de sono e repetiram o processo, avaliando suas reações ao longo do caminho e fazendo com que classificassem os níveis de incômodo em uma escala de um a dez. Em todo o grupo, as classificações de dor aumentaram com a privação de sono, mesmo com menos calor.
“Eles estavam sentindo desconforto em temperaturas mais baixas, o que mostra que a sua sensibilidade aumentava depois de um sono ruim”, afirma o autor do estudo, Adam Krause. “A lesão é a mesma, mas a diferença é como o cérebro avalia a dor sem ter descansado o suficiente.”
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A etapa de análise de imagens do cérebro providenciou parte da explicação das causas, ao apresentar um aumento significativo na atividade do córtex somatossensorial — principal área do cérebro para resposta à dor. Ao mesmo tempo, a imagem mostrou o enfraquecimento de áreas supostamente responsáveis pelo controle do incômodo, do núcleo accumbens e do córtex insular. Essa combinação sugere um “mau funcionamento neural” na forma como o órgão lida com a dor.
“A parte boa do resultado do estudo é que ele aponta o sono como um analgésico natural que pode ajudar a administrar e diminuir a dor”, diz o autor sênior do estudo, Matthew Walker, professor de neurociência e psicologia da UC Berkeley e autor do livro “Por que Nós Dormimos – A Nova Ciência do Sono e do Sonho” (Intrínseca).
Os pesquisadores conduziram outra parte do estudo digital usando o site Mechanical Turk, da Amazon. Cerca de 230 participantes registraram suas horas noturnas de sono e níveis de dor nos dias seguintes ao experimento. Os resultados sugeriram que até pequenas mudanças nas noites de sono provocam aumento perceptível na dor.
“Os resultados mostraram claramente que até alterações sutis no repouso noturno — alterações que muitos desconsideram em termos de consequências — têm impacto notável no bem-estar do dia seguinte”, Krause adicionou.
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A fase do estudo no laboratório foi curta e os níveis de privação do sono, extremos — mais do que a maioria de nós experiencia no dia a dia. A etapa online foi a da pesquisa baseada em relatos pessoais, então não é possível dizer que as conclusões de um ou de outro sejam finais. O que podemos afirmar é que os resultados se alinham bem com o que as pesquisas sugerem: a falta de sono intensifica experiências específicas no cérebro, principalmente a dor — como neste caso — e a ansiedade.
As descobertas também contribuem para a nossa crescente lista de razões para melhorar a quantidade e a qualidade do nosso sono — um dos desafios de saúde mais significativos dos nossos tempos tão frenéticos.