A reforma da Previdência escancarou o que o Brasil é – e quer continuar sendo: uma confederação de panelas. Primeiro a reforma não era possível, porque era impopular e seria difícil conseguir apoio para votá-la. Quando a equipe de Paulo Guedes apresentou o projeto – com apoio popular – e levou o Congresso a pautá-lo, os maus prognósticos se mudaram para a “falta de articulação”. Aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados, a reforma continua sob a nuvem negra das cassandras.
Qualquer força governamental que consiga impor uma agenda positiva entra imediatamente em processo de fuzilamento. Por um motivo muito simples: solucionar o país acaba com o ganha-pão dos demagogos. No Plano Real foi assim. Aquilo era um estelionato neoliberal da elite branca até o povo sentir o dinheiro no bolso. Constatada a consistência e a eficácia do plano para a moeda nacional, o Real continuou sendo um estelionato neoliberal da elite branca no chororô das cassandras. A diferença foi que elas ficaram falando sozinhas.
O monstro neoliberal de então era o demônio fascista de hoje. A privatização da telefonia nos anos 90 teve guerra campal em frente à Bolsa de Valores. Os supostos progressistas juravam que Fernando Henrique tinha vendido a alma ao diabo e estava tratando de vender o patrimônio do povo ao mesmo. Aí a abertura das telecomunicações se deu, a vida do povo melhorou e os progressistas de butique tiveram de enfiar a viola no saco. Uma reforma da Previdência também foi feita na época – e rendeu a FHC o estigma de sentenciador dos aposentados à condição de vagabundos.
Mesmo assim foi um período em que a população conferiu força suficiente ao poder central para grandes avanços – como o princípio da responsabilidade fiscal, que também parecia impossível num país de governantes perdulários e caloteiros. A confederação de panelas e parasitas associados morre de medo, portanto, do fortalecimento virtuoso do poder central – e é daí que vem a tentativa diversificada e ecumênica de sabotagem do projeto Paulo Guedes.
Os sabotadores mais visíveis estão na congregação de viúvas de Lula – e também de outros pastores menos votados, como Ciro Gomes e até Alckmin. Estão todos dando vexame juntos em praça pública anunciando a guinada obscurantista e autoritária em plena luz da democracia e da liberdade. Nenhum deles quer atingir exatamente Bolsonaro – o problema é a equipe de Guedes, Moro, Tarcísio e companhia fortalecer as instituições, como mostraram em seis meses que farão, se não forem envenenados ou depostos. E instituições fortalecidas, como mostra o exemplo histórico do Real, é tragédia grega para quem ganha a vida contando história triste e vendendo terreno na Lua.
Além da parte da imprensa que resolveu aderir a esse progressismo de aluguel, os sabotadores têm porta-vozes diligentes em figuras como Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, os presidentes da Câmara e do Senado. Ambos passaram os últimos meses jogando pedra no governo de forma nunca vista na história da República – nem nos momentos mais conflagrados. Alcolumbre chegou a insinuar que Sergio Moro deveria estar preso, e Rodrigo Maia, além de mandar o presidente sair do Twitter e começar a trabalhar, tentou desclassificar Paulo Guedes pessoalmente – martelando sob seus muitos holofotes amigos (a imprensa corneteira o ama) que o ministro da Economia é um desagregador.
A reforma da Previdência atravessou todo esse campo minado graças à força política que recebeu das ruas, em nome daqueles que prometeram fazê-la e receberam mais de 57 milhões de votos para isso. No que ela saiu do papel, os corneteiros do fracasso atualizaram sua narrativa sombria: ou a reforma não presta, ou é ótima e foi o Rodrigo Maia que fez.
Num país onde ainda tem gente “esclarecida” sustentando que Lula – réu por corrupção em uma dezena de processos e condenado em dois – é um perseguido político, por que Rodrigo Maia não pode ser o Rui Barbosa do Centrão? A única coisa que eles não toleram é uma confederação de panelas vazias.
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