Dezembro chegou. O mês mais importante para a dermatologia tem a cor laranja (#DezembroLaranja), que simboliza a Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele – o tipo de câncer com mais incidência no país, com 180 mil novos casos ao ano. Isso significa que, em cada quatro casos novos de câncer no Brasil, um é de pele. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 30% de todos os tumores malignos do Brasil correspondem ao câncer da pele. É muita coisa.
Por isso, desde 2014, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) realiza diferentes ações em parceria com instituições públicas e privadas para informar a população sobre as principais formas de prevenção e incentivar a busca pelo diagnóstico e tratamento com um médico especializado. Neste ano, o foco da campanha são os primeiros sinais da doença (#sinaisdocâncerdepele), que tem mais de 90% de chance de cura se descoberta no início.
Caracterizado pelo crescimento anormal das células que compõem a derme, o câncer de pele pode ser de três tipos: o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma (maligno). Cerca de 90% dos casos são carcinomas (também chamados de não melanomas), tumores com baixa letalidade. Menos comum, o melanoma é o tipo mais agressivo e potencialmente letal, responsável por nada menos que 1.700 mortes por ano.
Em todos eles, a exposição excessiva e sem proteção ao sol é o principal fator de risco para desencadear a doença, que pode se manifestar como uma pinta ou mancha, geralmente acastanhada ou enegrecida, como uma pápula ou um nódulo avermelhado, da cor da pele ou perolado (brilhoso), ou ainda como uma ferida que nunca cicatriza.
E quando falamos em sinais precoces, vale lembrar a queratose actínica, pequenas manchas avermelhadas e ásperas (por vezes similares a verrugas), consideradas lesões pré-cancerígenas, com potencial para se transformar em carcinomas. O problema acomete pessoas de pele mais clara e representa o quarto diagnóstico dermatológico mais comum no Brasil. Costuma se desenvolver no rosto, nas orelhas, nos lábios, no dorso das mãos, no antebraço, nos ombros, no colo e no couro cabeludo de pessoas calvas. Como os efeitos dos raios UV são cumulativos, a queratose actínica é mais frequente em idosos. Porém, em casos raros, acomete jovens, principalmente aqueles com sistema imunológico enfraquecido por quimioterapia, aids, transplantes ou exposição excessiva à radiação.
Daí a importância do autoexame, ao menos uma ou duas vezes por ano, em busca de lesões suspeitas – e de se consultar pelo menos uma vez por ano com um dermatologista, para um exame completo e dermatoscopia das lesões suspeitas. Como medida complementar, é importante se manter à sombra, além de usar chapéus, bonés e camisetas – se possível, com tecnologia de proteção solar. Outra medida são os filtros solares orais, vendidos em cápsulas nas farmácias ou manipulados. Seu uso não bloqueia, mas diminui os efeitos nocivos do sol sobre a pele, atuando de forma sistêmica na proteção do DNA celular
Não existe, no entanto, comprovação científica de que fotoprotetores orais tenham a mesma eficácia dos filtros em creme, gel, loção ou spray. Portanto, as recomendações tradicionais da SBD ainda são absolutamente válidas: evite exposição solar entre 10h e 15h (considerando o horário de verão, quando necessário), use filtro com fator de proteção solar (FPS) contra a radiação UVA e UVB de, no mínimo, 30. Reaplique o produto a cada 2 horas ou após longos períodos de imersão na água. No dia a dia, passe o produto de manhã, ao menos 15 minutos antes de sair de casa, e reaplique durante o dia. Idealmente, use duas camadas de filtro solar na primeira aplicação e uma camada generosa nas reaplicações. Só assim é possível, de fato, prevenir a doença
Dra. Letícia Nanci é médica do Hospital Sírio-Libanês, médica-responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCD)
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