Representantes de 17 empresas cujas atividades estão, diretamente, ligadas à preservação da floresta Amazônica passaram todo o dia de ontem (5) reunidos no auditório do hotel Tropical Executive, em Manaus, tentando convencer investidores a apostarem em seus negócios. A segunda edição da Rodada de Investimentos, iniciativa da PPA – Parceiros Pela Amazônia, acabou depois das 20 horas com o saldo de R$ 4,8 milhões captados.
A diferença de indicadores entre as duas edições mostra que o tema vem ganhando destaque no cenário econômico nacional. No ano passado, 81 empresas se inscreveram e 15 foram selecionadas parar participar do programa de aceleração, com investimentos de R$ 1,1 milhão. Já em 2019, o número de inscritas aumentou para 201 e os recursos mais do que quadruplicaram.
“O objetivo é criar oportunidades de captação de investimentos para pequenas empresas cujos negócios, de alguma fora, solucionem problemas sociais da Amazônia”, conta Mariano Cenamo, coordenador executivo da PPA e diretor de novos negócios do Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.
Uma dessas empresas é a Manioca, que produz geleias, temperos e farinhas com matérias-primas da floresta, como priprioca, cupuaçu, jambu, taperebá, açaí e tucupi, e, para isso, conta com o trabalho de produtores da agricultura familiar. No ano passado, com os R$ 200 mil captados no evento, a empresa – que tem entre seus clientes o Grupo Pão de Açúcar, o restaurante D.O.M., do premiado chef Alex Atala, e o St. Marché –, investiu em um programa de capacitação e desenvolvimento de fornecedores e implantou um centro de distribuição em São Paulo, para otimizar e diminuir os custos da operação logística. Agora, com os R$ 250 mil captados ontem, vai investir no lançamento da granola de tapioca, a novidade da empresa. “Os produtos com matéria-prima da Amazônia precisam de muito mais divulgação, porque ainda não é todo mundo que conhece”, diz Joanna Martins, CEO da Manioca. Outra parte do dinheiro será usada para montar um espaço próprio para os produtos à base de tucupi, atualmente terceirizados.
Além dos recursos financeiros, Joanna aponta outros benefícios igualmente importantes em participar de iniciativas como a da PPA. O primeiro deles é enxergar o negócio do jeito que ele é. “Desde o início éramos uma empresa de impacto social, mas nem sabíamos disso”, lembra. “Aprendemos a nos classificar da maneira correta, entendemos que esse é um novo modelo de negócio e passamos a medir os indicadores e a ter um histórico.”
A empreendedora, que fica baseada em Belém, menciona também o networking, essencial para fortalecer a sensação de pertencimento e aprender com as dificuldades e experiências de outras empresas, e a perspectiva dos investidores que participam desse tipo de negócio. “Eles sabem que o retorno não é só financeiro. Isso nos deixa muito mais confortáveis.”
Desafio econômico
A PPA é uma rede de empresas e institutos que, juntos, compartilham boas práticas e oportunidades para perseguir a missão de criar soluções para o desenvolvimento sustentável, conservação da biodiversidade, da floresta e dos recursos naturais da Amazônia. Fazem parte do grupo gigantes como Ambev, Natura, Coca-Cola e Whirpool, entre outras, em um mix de companhias globais e nacionais dos mais variados segmentos. Entre os institutos, estão o Fundo Vale, o Humanize, Sabin e Ayrton Senna.
Cenamo explica que a crise vivida nos últimos anos acelerou o processo de desmatamento da Amazônia porque, muitas vezes sem alternativa, as pessoas acabavam com a floresta para produzir qualquer coisa. “A ideia de que a preservação não gera renda precisa acabar. Temos que encontrar negócios alternativos, caso contrário a Amazônia continuará sendo destruída. O desafio é econômico.”
O especialista diz que há vários tipos de negócios que, como efeito colateral, promovem a preservação da região. Os mais conhecidos são aqueles da área de alimentos, que usam matéria-prima da floresta, como a Manioca. Mas há vários outros, principalmente no setor de serviços. A Navegam, por exemplo, que captou R$ 800 mil na rodada de ontem, funciona como uma espécie de Uber fluvial. A proposta da empresa é compartilhar assentos e espaços nas embarcações por meio de uma plataforma totalmente automatizada e, assim, aumentar a qualidade e a segurança do serviço. Como consequência, agrega valor e diminui os custos para os clientes e colabora com a sustentabilidade do negócio para a população ribeirinha.
“A questão logística é extremamente complexa no Amazonas. O estado é muito grande, o sistema é desorganizado e caro. Quando uma empresa como essa propõe uma solução para diminuir o problema e baixar o custo, sobra mais dinheiro para a comunidade que trabalha no negócio e aumenta a margem de lucro do cliente. É bom para todo mundo”, diz Cenamo.
A Onisafra é outro exemplo. A empresa, que participou da primeira edição do evento e ontem captou mais R$ 350 mil, criou uma plataforma que gerencia a conexão dos agricultores com o consumidor final e possibilita, ainda, a criação de multilojas. Qualquer grupo de agricultores pode criar sua própria loja dentro da plataforma, permitindo que o consumidor compre diretamente.
Além das duas empresas que repetiram sua participação na rodada – Onisafra e Manioca – outras 15 foram beneficiadas pela iniciativa. Oito delas vão receber investimentos financeiros e sete serão orientadas para que, daqui um ano, possam voltar mais maduras para tentar um aporte. “É preciso entender o momento de cada uma”, diz Cenamo. “Algumas startups simplesmente não podem esperar.”
O programa de aceleração, que tem duração de seis meses, inclui, além do dinheiro, capacitações, mentorias, assessorias em áreas como contabilidade, jurídica e marketing e bolsas para participação em feiras e eventos pelo Brasil. Parte desses coaches pode inclusive, ser dada pelas próprias integrantes da PPA. “Se o setor privado não assumir o protagonismo nessa luta pela preservação, não vai funcionar. Não estamos falando de filantropia. Estamos falando sobre apoiar negócios concretos, que geram empregos, renda e rendimentos para os investidores.”
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Investimento chinês
Bruno Chan (na foto à direita), cofundador da CrediGO, acaba de voltar da China, onde ficou por dez dias para apresentar a empresa, criadora de uma plataforma que reúne as operações financeiras – contas e cartões de crédito – em um mesmo lugar, a um grupo de 1,3 mil investidores globais com raízes no país. A oportunidade, criada pela aceleradora Y Combinator, foi realizada pela primeira vez no país asiático e recebeu 22 startups. Para chegar até esta fase, a CrediGO disputou a vaga com 1,8 mil startups pré-selecionadas, que tinham, obrigatoriamente, que ter alguma ligação com a China. Como a startup tem como cofundador o chinês Stone Zheng (na foto à esquerda) e uma parte do time de tecnologia no país, garantiu a chance de se apresentar – a única estrangeira a conseguir o feito. “Agora estamos em contato com mais de 100 investidores em busca de um aporte”, diz Chan.
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Brinquedo para todo mundo
Até o dia 16 de dezembro, a plataforma digital de compra e venda de imóveis Loft realizará uma ação de Natal em condomínios de apartamentos em São Paulo. A empresa ficará encarregada da logística da campanha, distribuindo caixas nos condomínios dos bairros onde atua, recolhendo as doações e destinando-as à Casa do Zezinho, Instituto C e Casa do Pequeno Cidadão. O objetivo é arrecadar, especificamente, brinquedos, novos ou usados em boas condições, para atender mais de 1,5 mil crianças. Qualquer condomínio dos bairros Jardim América, Jardim Paulista, Itaim Bibi, Vila Nova Conceição, Jardim Europa, Jardim Paulistano, Higienópolis, Moema, Pinheiros, Vila Madalena, Vila Olímpia e Vila Mariana pode participar.
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