Enquanto algumas pessoas estão comparando o cenário gerado pelo coronavírus ao apocalipse zumbi, a maioria de nós percebe que a vida continuará após a pandemia.
Mas isso não significa que as coisas não serão diferentes. Dada a escala da pandemia, é quase certo que a pandemia produza mudanças sociais significativas e duradouras.
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Com a ciência como guia, aqui estão duas mudanças que podemos esperar ver no mundo pós-Covid-19.
Mais conformidade, menos individualismo
Uma pesquisa em psicologia cultural sugere que sociedades com maior exposição a doenças têm maior probabilidade de adotar o “coletivismo” social. O que é coletivismo? É um conjunto de crenças e valores que prioriza a conformidade do grupo e coloca uma ênfase maior nas tradições da sociedade. O “individualismo”, ao contrário do coletivismo, reflete o conjunto de crenças que incentivam os desvios do comum.
Em geral, a pesquisa descobriu que as culturas orientais (China, Japão etc.) são mais propensas a apoiar atitudes coletivistas, enquanto as culturas ocidentais (Estados Unidos, Europa etc.) são mais propensas a apoiar atitudes individualistas.
O coronavírus pode mudar tudo isso. De acordo com um artigo de 2008 publicado no jornal científico “Proceedings of the Royal Society”, a expressão de atitudes coletivistas/ individualistas varia em função do risco de doenças. Em outras palavras, os países com maior prevalência de males do tipo tendem a adotar atitudes mais coletivistas.
Por quê? Os autores sugerem que o coletivismo social serve como uma proteção natural contra a transmissão de doenças. Eles escrevem: “Dado que muitas tradições e normas específicas (como a preparação de alimentos) podem servir como amortecedores contra a transmissão de doenças, o desvio do cotidiano pode representar um risco de contágio para si e para outros, enquanto a conformidade ajuda a manter a integridade desses amortecedores que funcionam na prevenção de doenças “.
Muitas pessoas nos Estados Unidos já começaram a sentir as pressões crescentes de conformidade. O distanciamento social rapidamente se tornou o novo normal e as pessoas não têm medo de reprimir comportamentos que não se alinham à norma recomendada. Em outros países, as pressões para se conformar com os esforços de prevenção de doenças são ainda maiores. A França, por exemplo, decretou uma ordem de confinamento em todo o país, com multas e até prisão por violações recorrentes.
Historicamente, foram os países equatoriais que experimentaram o mais alto grau de risco de doenças e, portanto, eram mais propensos a promover atitudes coletivistas. Com o coronavírus se espalhando pelo mundo, é possível que o coletivismo se torne menos limitado do ponto de vista geográfico.
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Mais medo do desconhecido
A psicologia cultural aponta outra consequência do coronavírus: um aumento nas atitudes xenofóbicas. Eles escrevem: “Os coletivistas fazem distinções nítidas entre o seu grupo e o ‘outro’, enquanto entre individualistas a distinção entre grupos é mais fraca. Uma consequência é que os coletivistas têm mais cuidado com o contato com estrangeiros e outros membros do grupo externo. Essa atitude xenófoba pode servir a uma função anti-patógena eficaz, inibindo a exposição a novas doenças.”
Mais uma vez, o vírus está afetando nações no mundo todo. Donald Trump alimentou a crescente corrente de xenofobia ao se referir ao coronavírus como o “vírus chinês”. A China reagiu com seu próprio conjunto de teorias anti-americanas da conspiração. As fronteiras estão se fechando e muitos norte-americanos de cidades pequenas têm dito claramente que aqueles que estão fora da cidade devem ficar longe. É provável que essa mentalidade “nós-contra-eles” se intensifique à medida que a doença continue a se espalhar.
O que esperar?
Embora não haja nada melhor ou pior sobre o individualismo ou o coletivismo – como qualquer sistema de valores, ambos têm seus méritos e deficiências -, o coletivismo pode aumentar sua influência na era do coronavírus. Os autores concluem: “Embora o individualismo possa ter certos tipos de benefícios às pessoas e às sociedades que eles criam, os comportamentos que definem o individualismo também podem aumentar a probabilidade de transmissão de doenças e, portanto, podem ser funcionalmente inadequados em condições nas quais elas são altamente predominantes.”
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