Ele é o clássico dos clássicos, mas nunca esteve tão contemporâneo. Sim, o vinho hoje não é apenas cosmopolita, mas impõe diversidade e presença quando o assunto é meio ambiente. Modos de produção de caráter naturalista enchem adegas e wine shops. A tendência da alimentação orgânica, claro, ajudou. Mas há tempos existem vinhos de pequenos produtores trabalhando com manejos mais sustentáveis. “Não seria uma novidade no mercado, mas muita opção surgiu em função dessa procura pelo orgânico. E isso, sem dúvida, ativou ainda mais essa onda”, resume a sommelière consultora Gabriele Frizon. Atualmente, ao criar ou renovar a carta de seus clientes, Gabriele não deixa de selecionar nessa seara. “Se o vinho é bom, por que não consumir um produto com menos químicos?”, defende.
Os modos de produção se identificam pelos diferentes níveis baixos de cuidados químicos para a criação do vinho, do plantio até o trabalho na vinícola. O método de cultivo orgânico preza em utilizar produtos naturais contra pragas, excluindo produtos químicos como fertilizantes, pesticidas, fungicidas e herbicidas. Assim, o solo tem a biodiversidade preservada e é capaz de prover nutrientes complexos às videiras. “Já a vinificação pode ser convencional, utilizando produtos durante a sua produção”, ensina a sommelière.
Em 1985, o celebrado Romanée-Conti se tornou orgânico. Em seguida, foi além e produziu vinho biodinâmico. O método tem como base a agricultura biodinâmica criada pelo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925). Muito mais que um cultivo orgânico, o chamado biodinamismo conceitua a unidade agrícola como um todo. Busca o equilíbrio ao ambiente: a força, a vitalidade, a fertilidade, a perfeita integração dos reinos vegetal, animal e mineral. Usa inclusive o calendário lunar para datar plantio, poda e colheita. Para vinhos, as regras são muito restritas, tanto na utilização de produtos químicos no vinhedo quanto na vinificação. Utilizam, por exemplo, leveduras selvagens em vez das selecionadas. Órgãos reguladores na França e na Alemanha oficializam a tarefa biodinâmica dos rótulos. Caso do francês Domaine Rominger Riesling, famoso pela delicadeza em sua elaboração, iniciada por uma colheita extremamente cuidadosa.
Há também um modo de produção, digamos, alternativo, para não perder a modernidade dessa cena. São os chamados biodinâmicos não certificados: produtores que fazem manejos biodinâmicos menos rígidos e não integram algum selo ou grupo. Eles formatam práticas biodinâmicas que mais lhes parecem interessantes. Por isso, chamam atenção. Uma das vedetes dessa linha é Marta Rovira, atual dirigente da fazenda Mas d’en Gil, criada em meados do século 19, na Espanha. Em 2004, Marta inicia a conversão dos vinhedos em ecológicos e biodinâmicos, influenciada pela avó Pilar, expert em ciclos lunares, plantas aromáticas e medicinais. “Degustar o jovem Mas d’en Gil Priorat Bellmunt é uma ótima experiência e introdução ao universo dos biodinâmicos não certificados”, garante Gabriele.
Há, ainda, os naturais, que seguem métodos ancestrais de vinificação, mas sem regulamentação e fiscalização em relação ao uso de agrotóxicos. E também os sustentáveis, que, mesmo sem certificado, usam o mínimo possível de químicos, ganhando até dos orgânicos. “Assim como existem preferências para brancos e tintos, hoje o mesmo acontece com menos ou mais intervenção química e enológica. Ainda se trata de um produto de nicho, uma vez que a grande produção não é convencional. Mas, numa era em que o ambientalismo está cada vez mais em pauta, o vinho parece querer também cumprir sua missão.
Carla Bolla é Restauratrice do La Tambouille, em São Paulo
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