Rotinas, trabalhos, estudos e até lazer entraram em um moinho de transformações com a crise do coronavírus. Quase que do dia para a noite, o mundo teve de se readaptar a uma nova realidade, aderindo ao isolamento social para evitar aglomerações e a algumas formas de manter a saúde mental em dia com tantas preocupações e informações para processar.
Mas não foram só as pessoas que precisaram reestruturar a vida. Empresas e marcas também tiveram de explorar sua flexibilidade para oferecer produtos que encaixem com o “novo normal”. Segundo os relatórios semanais do Grupo WPP, o contexto e o padrão em que os indivíduos vivem mudou por conta de cinco fatores principais: mobilidade, alteração na vida social, excesso de informação, fatores emocionais e rotina diária alterada. São tópicos que se relacionam com diversas marcas e setores e aceleram avanços que talvez não acontecessem tão cedo.
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Um dos grandes setores impactados por essa nova realidade é a mídia. A categoria já estava em constante evolução antes da pandemia, porém, nesses últimos meses de isolamento social, o setor acelerou em seu nível máximo, apresentando uma nova característica a cada troca de folha de calendário.
De acordo os últimos dados de audiência midiática do relatório WPP de 20 de maio, em março, primeiro mês de paralisação no Brasil, o consumo de entretenimento aumentou, embora isso não tenha sido refletido pelos índices de audiência da televisão. A partir dos dados, é possível notar uma queda no número de espectadores dos canais de jornalismo, enquanto a TV paga teve um pico. Basicamente, foi um período marcado pela mudança brusca e recente, com índices ainda em formação.
Já em abril, o comportamento do público finalmente estabilizou, gerando uma acomodação da audiência. Os finais de semana demonstraram uma queda de espectadores na TV aberta, junto da migração para canais pagos, streamings e outros aparelhos. Além disso, nesses dois meses foi possível observar o afastamento das notícias jornalísticas como uma forma de esquecer o medo e as preocupações da pandemia, tendência que só aumentou desde então, visto que 36% das pessoas estão evitando o consumo de notícias, o que reforça a preferência em tecnologias como o streaming.
De forma resumida, as pessoas estão utilizando a mídia para distração e entretenimento, e muito pouco para informação, o que foi confirmado no mês de maio com o consumo de streaming ultrapassando todos seus concorrentes. Marcas como Netflix, Google Play e Amazon Prime dispararam e alcançaram seu auge no final de semana do dia 16. Como resultado, a televisão aberta ficou abaixo dos seus índices de pré-isolamento, afastando-se fortemente da preferência do público.
Sobre essa situação, um fenômeno interessante: o aparelho de TV predomina, mas o conteúdo não linear passa a ser mais relevante para as pessoas. Assim, 77% das pessoas consomem conteúdo por meio de devices conectados à TV, mas 83% fazem isso por meio de um site ou aplicativo. O conteúdo da TV via IP já é uma realidade e teve o crescimento acelerado pela quarentena.
Seja por conta da grande gama de opções nos catálogos ou da praticidade para consumir o conteúdo desejado, os streamings passaram pelo seguinte aumento de audiência no Brasil até o dado momento –contabilização até o início da semana do dia 18 de maio: Netflix teve 199,8 milhões de visitas, um aumento de 15,69% na comparação com o mês anterior, Globo Play registrou 57,1 milhões, com crescimento de 0,88%, e Amazon Prime 18,4 milhões, representando 16,33%.
A situação também é positiva para a plataforma brasileira de distribuição digital de vídeos via streaming, Looke, lançada em abril de 2015. Marcelo Spinassé, fundador da empresa, revela ter sentido um expressivo crescimento no número de assinantes e no acesso total do site, “o número de assinantes praticamente cresceu 78%. Já em transações, chegamos a ter crescimento de 300% durante alguns dias.”
Para Spinassé, que busca o crescimento da plataforma no Brasil, o cenário é promissor, fazendo com que mais pessoas conheçam o serviço e possam se vincular a ele fielmente. “Acreditamos que o patamar pós-quarentena certamente será superior ao anterior”, opina.
Os streamings estão lidando bem com essa questão, mas ainda há alguns tópicos que podem evoluir ainda mais o serviço, como a publicidade. A aproximação entre essas duas categorias pode ser promissora e pesquisas da WPP divulgadas ontem (27) revelam aprovação do público. “As pessoas estão abertas a receber mensagens publicitárias nas plataformas, desde que isso traga vantagem financeira”, diz o report.
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Mesmo assim, o modelo de negócio dos players de streaming ainda não considera essa divulgação explícita, embora já existam outras formas das marcas estarem presentes como conteúdo. A “publicidade” está assumindo várias formas, como branded content e programas produzidos por marcas que estão se tornando populares à medida que os distribuidores buscam encontrar receitas adicionais.
Levando em consideração que os streamings já ganhavam espaço notável na mídia antes do coronavírus, não seria de se estranhar que essa tendência fosse impulsionada e realmente alcançasse o seu auge em um tempo muito menor do que o esperado, continuando com o posto de preferência da audiência mesmo no pós-pandemia.
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