A pandemia de coronavírus criou uma nova realidade que vem sendo marcada pela perda. Não se trata somente da perda de amigos, conhecidos e entes queridos para a Covid-19, algo em si já impossível de mensurar.
O nosso luto, hoje, ultrapassa o das vidas perdidas, que são milhares só aqui no Brasil. Vivemos uma espécie de luto coletivo também pela perda de nossos projetos, de muitos de nossos planos e até de investimentos que bancariam alguns de nossos sonhos. Perdemos, enfim, o que nos era caro.
Esse pesar é uma experiência nova para todos nós. Estamos vivendo um luto individual com certeza, mas também um luto coletivo pelo mundo que conhecíamos. Aprender a lidar com essas ausências reais ou imaginárias é um processo muito particular, mas que costuma tornar-se menos doloroso quando recebemos o conforto de quem amamos.
O isolamento social, infelizmente, nos obriga a lidar com as nossas perdas sozinhos. Isso é bom ou ruim? Depende. Como médico que cuida da saúde mental, posso dizer que há gente que consegue usar desafios duros que a vida lhes impõe como combustível para a criação de oportunidades e de novos sonhos. Isso não tem nada a ver com classe socioeconômica, nem com educação e muito menos com cultura, mas tem a ver, sim, com a personalidade de cada um.
“Quem mexeu no meu queijo?” é uma parábola singela que traz um aprendizado importantíssimo nesse momento em que tudo parece cinza. Conta a história de dois ratos e de dois duendes que todos os dias andavam por um labirinto para comer o queijo que estava guardado ali. Por serem animais, os ratos agiam por instinto para chegar ao queijo. Os duendes, com base na razão. Um belo dia, descobrem não haver mais queijo no lugar que estavam acostumados.
Os ratos não pensaram duas vezes: foram atrás de outro queijo. Se não fizessem isso, provavelmente morreriam de fome. Já os duendes tiveram reações diferentes. Um deles encarou que talvez fosse difícil encontrar outro queijo no labirinto, mas não se deu por vencido e foi em busca de mais alimento. O outro, por sua vez, ficou paralisado, reclamando de não haver mais queijo ali e só. Não deu um passo adiante.
Talvez pudéssemos nos inspirar na história desses ratos e duendes para refletir como temos encarado as perdas em nossas vidas e como poderemos, daqui para frente, elaborar os lutos que o coronavírus impôs aos nossos cotidianos.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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