Se você é um entre os cinco adultos com problemas de saúde mental nos Estados Unidos, sabe que, mesmo em 2020, ter um diagnóstico ou começar um tratamento pode parecer isolado, vergonhoso e estigmatizante. Jane Delgado, presidente e CEO da Aliança Nacional para a Saúde Hispânica, explica: “A questão do estigma continua enorme. Há um estigma no reconhecimento do problema e outro quando se busca ajuda profissional e começa a tomar medicamento, o que muitas vezes obriga a pessoa a tentar resolver a questão sozinha”.
Talvez seja por isso que quase um terço dos norte-americanos tenha expressado preocupação com o julgamento alheio por conta do tratamento para saúde mental, além de menos da metade das pessoas que têm diagnóstico receberem o tratamento de que precisam. Mas tudo isso pode ser diferente se considerarmos a saúde mental como algo comum, o mesmo que ter qualquer outra condição de saúde física.
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Uma maneira de levar essa consciência para as pessoas é com a ajuda da divulgação de figuras conhecidas e respeitadas publicamente. Quando as celebridades compartilham suas próprias histórias de saúde mental, não é apenas mais uma manchete, elas têm um impacto real e positivo. De repente, os fãs podem se sentir menos sozinhos porque tiveram as mesmas lutas, ou podem se sentir mais seguros em procurar tratamento porque essa pessoa admirada também o fez. Foi exatamente o que aconteceu quando Selena Gomez contou a Miley Cyrus em seu Instagram live show, “Bright Minded”, sobre seu diagnóstico bipolar em abril.
Agora, no seu aniversário de 28 anos, Selena lança o Rare Impact Fund, uma missão sobre o assunto. Nos próximos dez anos, o projeto tem a meta de arrecadar US$ 100 milhões para ajudar a solucionar as lacunas nos serviços de saúde mental, particularmente em comunidades carentes. Para atingir esse objetivo, um por cento de todas as vendas dos produtos da Rare Beauty, marca de beleza da artista, e dos recursos arrecadados pelos parceiros, serão direcionados para o fundo. Quando atingir US$ 100 milhões, será um dos maiores fundos de entidade corporativa em apoio à saúde mental.
Gomez explica que quando começou sua empresa, a Rare Beauty, era importante que houvesse uma mensagem por trás disso. Ela achava que, como sociedade, somos regularmente bombardeados com imagens que “fazem as pessoas se sentirem inferiores ou com a necessidade de alcançar a perfeição, o que é absolutamente inatingível”. Ela sabia que a saúde mental estaria na vanguarda de sua missão, em parte porque: “Fui aberta a minhas próprias lutas pessoais em saúde mental e, durante todo meu trajeto, também me vi afetada por esse sentimento de inferioridade. Através da minha abertura, ouvi muitos jovens, ao longo dos anos, lutando também, e isso é algo muito próximo do meu coração”. Em outras palavras, sua história inspirou outras pessoas a compartilharem suas verdades, derrubando barreiras e estigmas e abrindo espaço para conversas. Iniciar o fundo é realmente apenas o próximo passo.
Na saúde mental, esse tipo de financiamento é especialmente importante. Christine Moutier, diretora médica da Fundação Americana para Prevenção do Suicídio, explica que o investimento federal em saúde mental é “uma quantia desproporcionalmente minúscula”, mesmo com evidências claras de que o investimento em pesquisas e programa sobre o assunto afeta positivamente a saúde física, nos resultados no local de trabalho e nos relacionamentos. No entanto, como observa Moutier, “ainda não traduzimos isso em nosso investimento federal como nação. Nós chegaremos lá com esforços de conscientização, como a organização de Selena está fazendo”.
Além do estigma, o sistema de saúde mental ainda tem outras barreiras –como custo e acesso. Scott Rauch, psiquiatra-chefe do Hospital McLean, diz que “a capacidade do sistema de saúde é insuficiente para fornecer serviços psiquiátricos. De crianças a idosos, e em todos os tipos de doenças psiquiátricas, desde depressão e ansiedade a distúrbios psicóticos, distúrbios de uso de substâncias e condições relacionadas a trauma, precisamos aumentar esses serviços.” Essas necessidades são amplificadas quando se trata de populações carentes. A Dra. Delgado destaca que a clínica de língua espanhola da UCLA luta para atender a demanda há 40 anos, e um programa da cidade de Nova York chamado Life is Precious, que trabalha com garotas hispânicas, que ela nota ter as maiores taxas de tentativas de suicídio, perdeu seu financiamento devido à crise da Covid-19. Ela acrescenta: “Claro que há estigma, mas mesmo quando as pessoas querem ajuda, há poucas opções”.
Nesse ponto, Selena diz: “O simples fato de existirem comunidades mal atendidas é um problema. Existem pessoas que não têm acesso adequado à internet para encontrar ajuda, muito menos poder pagar recursos ou o preço de quaisquer medicamentos que possam ser necessários. Todos devem ter acesso a recursos adequados de saúde mental, bem como a cuidados médicos em geral”.
O fundo visa adicionalmente “combater a epidemia de solidão crônica”, que só se tornou mais tangível durante a Covid-19. A artista explica: “Acredito que com o distanciamento social e pandêmico, todos aprendemos a importância do contato real e da conexão humana. Todos somos culpados de gastar muito tempo em nossos telefones, seguindo a vida de outras pessoas –metade do tempo são pessoas que nem conhecemos e achamos que a vida delas é perfeita e que estamos perdendo tempo. Eu acho que isso leva as pessoas a se sentirem sozinhas”. Talvez mesmo parecendo muito conectados, jovens de 18 a 22 anos são a “geração mais solitária”. Rauch diz que os desafios da pandemia foram amplificados pelas muitas interrupções em nossos “relacionamentos e rotinas e pela maneira pela qual nos separamos de nossos colegas, amigos e familiares”. Ele sente que, quando nos deparamos com perda, trauma, estresse ou sofrimento, os sistemas de apoio são críticos. Moutier ressalta: “Nós, humanos, prosperamos melhor quando nos sentimos conectados uns aos outros”.
Uma das maneiras pelas quais a Rare Beauty já está trabalhando nisso é a realização semanal de “Rare Chats” via Zoom para se conhecerem na comunidade Rare. Selena descreve a experiência como “um espaço muito íntimo e seguro, onde as pessoas podem ser vulneráveis e sabem que há outras pessoas se sentindo da mesma maneira ou até podem levantar o astral uns dos outros”. Ela os chama de “incríveis e inspiradores”. Essas ideias de conexão só aumentarão com a ajuda do fundo, que espera criar mais ferramentas, recursos e suporte mútuo –online e offline. O que o fundo fará e focará será guiado, em parte, pelo Conselho de Saúde Mental da Beauty Rare. Rauch e Delgado são membros, juntamente com Marc Brackett, que é o diretor fundador do Centro de Inteligência Emocional de Yale e professor do Centro de Estudos da Criança da Escola de Medicina de Yale, além de outros consultores especializados das principais universidades, organizações e empresas focadas em saúde mental no país norte-americano.
Por fim, não há momento melhor do que o presente para iluminar a saúde mental, especialmente porque a pandemia colocou em foco o quão comum são as lutas psicológicas. Selena acredita que “trouxe à tona quantas pessoas estão lutando com depressão, ansiedade e outras condições parecidas –e, ao mesmo tempo, expôs quantas não têm acesso a recursos adequados ou não sabem por onde começar”. Moutier explica: “O coronavírus definitivamente foi um momento decisivo para o diálogo sobre saúde mental, onde todas as pessoas estão envolvidas no tópico estresse, incerteza e medos em muitos níveis. E os indivíduos com experiência nesse combate estão falando sobre como realmente se sentem mais compreendidas do que nunca, então esse é um aspecto positivo”.
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Uma mudança de percepção que tem a esperança de continuar ativa por muito depois da pandemia, por causa de pessoas como Selena Gomez, que falou sobre sua própria saúde mental, tirando a conversa da escuridão e agora, está investindo nela, salvando vidas.
Ela diz: “Adoro a palavra ‘raro’ e quero que todos encontrem o poder no que os torna raros. Todos nós precisamos abraçar nossa singularidade, parar de nos comparar com os outros e nos amar mais”.
É justo que Selena goste tanto da palavra, porque seus cuidados com a saúde mental e o desejo de mudança são exatamente isso: raros.
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