O ano de 2018 impactou gravemente o mercado editorial no Brasil e, desde então, o setor escreve decisivos e dolorosos capítulos. Há dois anos, a rede Laselva decretou falência com dívida de mais de R$ 100 milhões e, em seguida, a francesa Fnac fechou sua última unidade no país, em São Paulo. Em seguida, as vítimas foram duas grandes redes de varejo, a Livraria Cultura e a Saraiva, que anunciaram o fechamento de diversas unidades e renegociação de dívidas com fornecedores.
Desde a proposta de taxação de livros proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em julho deste ano, a indústria livreira voltou ao cenário nacional como um símbolo de resistência. O setor é isento de impostos desde a Constituição de 1946, quando o escritor Jorge Amado apresentou uma emenda constitucional que consagrou a não tributação das obras literárias. A imunidade foi mantida pela atual Constituição de 1988 e, em 2004, o mercado editorial foi desonerado também do PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). No entanto, a atual reforma tributária proposta pelo governo pretende unificar ambas as contribuições sob a criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), em uma alíquota única de todos os serviços e produtos de 12%. Como a imunidade diz respeito a impostos – e impostos e contribuições sociais são espécies tributárias distintas -, a emenda proposta pelo escritor baiano seria suspensa, deixando os livros sujeitos à tributação.
A ameaça do fim da imunidade do setor pode interromper os sinais de melhora dos últimos meses. Se, por um lado, a imposição do isolamento social pela crise do novo coronavírus desestabilizou a economia mundial, por outro ela gerou um maior consumo de leitura. Apesar da queda inicial do mercado livreiro nos primeiros meses do ano, os números do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) mostram que, entre junho e julho, o segmento vendeu 2,95 milhões de títulos e teve um faturamento acima de R$ 117 milhões.
Impulsionado principalmente pelas vendas e conteúdos online, o setor varejista trouxe novas oportunidades e potencializou a ruptura do antigo padrão restrito ao livro físico. Com ações como disponibilização de e-books grátis por editoras no início da pandemia e produção de lives para divulgação de lançamentos de obras, o e-commerce conseguiu recuperar uma parte que foi perdida com o fechamento das livrarias físicas e, ao transcender o espaço físico, passou a agregar novos consumidores.
Como um dualismo pandêmico, no entanto, o varejo físico sofreu as consequências diretas do isolamento social. A falta de recursos para a elaboração de uma estrutura digital fez com que livrarias de pequeno e médio portes não desfrutassem de mecanismos digitais para se manterem competitivas no mercado. Sem uma perspectiva concreta para o longo prazo, esses estabelecimentos ainda sofrem os fortes efeitos do contexto atual. Graças à ainda modesta participação do varejo digital, no entanto, o setor em geral mantém certo ânimo. Como tendência, o pós-pandemia exigirá uma liderança ainda maior das plataformas digitais no novo cenário mercadológico. A atual crise, portanto, mostra ser da livraria – e não do livro.
Neste Dia Nacional do Livro, data criada em 1810 em comemoração à fundação da primeira biblioteca do país, a Real Biblioteca, no Rio de Janeiro, a literatura como elemento atemporal e pilar cultural deve ser relembrada. De opção de lazer a porta de entrada para a emulsão de ideias, o livro agrega valor identitário nacional.
Para exemplificar sua influência como ferramenta de desenvolvimento humano – pessoal e profissional –, a Forbes reuniu empreendedores e executivos que buscam, na literatura, o estímulo para crescerem. Veja, na galeria a seguir, 10 obras inspiradoras, na visão desses profissionais, que foram determinantes para a construção de suas identidades:
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Divulgação “O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias em Apenas Cinco Dias”, de Jake Knapp, John Zeratsky e Braden Kowitz
“Gosto desse livro porque me ajudou a desenvolver um método ágil para apoiar o desenvolvimento de novos produtos e estratégias para os negócios. Em 2018, criamos uma metodologia para o programa educacional da Feira Preta chamada Afrolab, que foi desenvolvida com o British Council e uma universidade do Reino Unido, e, para isso, usamos o Sprint como base metodológica.”
– Adriana Barbosa, 43 anos, criadora da Feira Preta e CEO da PretaHub, plataforma de aceleração e incubadora de negócios
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Divulgação “High Output Management” (“Gerenciamento de Alta Produção”, na tradução livre e sem edição em português), de Andrew S. Grove
“É um clássico para todos que querem começar no empreendedorismo ou fundar uma empresa de tecnologia. Foi escrito em 1983 pelo CEO da Intel e, ainda hoje, a grande maioria dos ensinamentos continuam atualizados. Neste livro, aprendi muito sobre as boas práticas de gestão de uma empresa de tecnologia e, o mais importante, o racional de como funcionam e como podem ser implementadas no crescimento de um negócio.”
– Daniel Kriger, 35 anos, cofundador e CEO da Kenzie Academy, escola de programação para desenvolvedor web full stack
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Divulgação “Jack: definitivo: segredos do executivo do século”, de Jack Welch
“O livro definitivo tem um grande simbolismo, pois ganhei do meu pai quando tinha apenas 16 anos, e me marcou muito ver a forma como o autor reforçou a importância do líder trabalhar pelo crescimento das pessoas ao seu lado e estar sempre muito próximo delas. Essas lições eu trouxe para a minha carreira e vida empreendedora, pois acredito que um empreendedor de sucesso é aquele que consegue mudar a vida das pessoas.”
– Eduardo Pirré, 31 anos, CTO e cofundador Maria Brasileira, maior rede de franquias de cuidados e limpeza residenciais e corporativas
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Divulgação “A Lógica do Cisne Negro”, de Nassim Nicholas Taleb
“O livro mostra como o que está no seu controle pode ser resolvido e o que não está tem que ser aceito. Na vida do empreendedor, assim como de toda pessoa, situações saem do controle, algo que não pode ser interpretado como negativo e sim aproveitado como lição”.
– Fellipe Couto, 24 anos, CEO e fundador da Vulpi, plataforma de contratação de profissionais de TI
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Divulgação “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, de Daniel Kahnem
“A obra apresenta uma visão sobre como a mente funciona e como as decisões são tomadas. O autor explica as duas formas como se desenvolvem o pensamento humano: uma é rápida, intuitiva e emocional; a outra, mais lenta, deliberativa e lógica. Para mim, é um verdadeiro mapa de como funciona nossa cérebro nas tomadas de decisão, tanto nos negócios, quanto na vida pessoal, explicando muito bem como pensamentos e ações contraditórias podem fazer sentido por meio de impressões lógicas ou intuitivas.”
– Ingrid Barth, 35 anos, cofundadora do Linker, banco digital
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Divulgação “Como Mudar o Mundo”, de David Bornstein
“A perspectiva que David Bornstein coloca nesse livro me ajudou a enxergar mais claramente a forma de tornar real uma empresa do bem, com valores éticos e impacto positivo. Eu li a obra quando estávamos começando a pensar a TROC, no período em que fiz minha especialização em Harvard. Isso fez com que o ‘porquê’ movimentasse tudo em torno do nosso trabalho. O ‘como’ e ‘o que’ fazemos é apenas um detalhe em todo esse processo de empreender com propósito. E tem mais: a figura do Bornstein é inspiradora, assim como as histórias que ele conta.”
– Luanna Toniolo, 33 anos, fundadora e CEO da TROC, plataforma online de compra e venda de roupas e acessórios premium de segunda mão
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Divulgação “Mulheres que Correm com Lobos”, de Clarissa Pinkola Éstes
“Gosto da maneira que a escritora nos mostra como a natureza instintiva da mulher foi domesticada ao longo dos tempos, em um processo que punia todas aquelas que se rebelavam. Mas a energia pode ser restaurada quando aparece a corajosa loba que vive em cada mulher. É um livro que nos traz reflexões em diferentes ângulos.”
– Patrícia Bonaldi, 40 anos, fundadora e diretora da grife PatBo
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Divulgação “As Cidades Invisíveis”, de Ítalo Calvino
“É, talvez, o livro que mais explicita o quanto um simples olhar sobre a mesma paisagem pode criar histórias diferentes, versões infinitas de verdades absolutamente incontestáveis. É uma obra que consegue definir, com maestria, toda a espécie humana – tanto em sua coletividade quanto na individualidade íntima. Seja qual for a história que quisermos construir, só teremos êxito se conseguirmos entender bem a essência da alma humana.”
– Ricardo Almeida, 43 anos, CEO do Clube de Autores, primeiro site brasileiro que permite a publicação gratuita de livros de forma 100% sob demanda
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Divulgação “The Smartest Places on Earth” (“Os Lugares Mais Inteligentes da Terra”, na tradução livre e sem edição em português), de Antoine Van Agtmael e Fred Bakker
“O livro fez mais sentido agora na pandemia. Os autores descrevem alguns fenômenos mundiais recentes que contradizem a crença de que a Europa e os Estados Unidos se tornarão os museus do mundo. Em lugares outrora prósperos que haviam caído no desespero econômico, eles viram processos renovados e amplas parcerias entre empresas, universidades e organizações governamentais. Antoine Van Agtmael e Fred Bakker viajaram ao redor do mundo em busca de ‘rustbelts’ que se transformaram, ou estão se tornando, o que chamamos de ‘cinturão cerebral’ no ecossistema corporativo. Foram esses cérebros, e o processo pelo qual eles foram formados, que convenceram os autores sobre o ressurgimento da produção ocidental. Eles acreditam que as soluções oferecidas pelos cérebros serão mais sustentáveis se resumidas a cinco áreas: habitação e comunidades, escritórios e locais de trabalho, cidades e áreas agrícolas, meio ambiente e transporte.
É algo que eu já vinha trabalhando há algum tempo e venho trazendo a experiência para a Boali, o que costumo chamar de interiorização de talentos, que ajudará toda a nossa comunidade global a resolver problemas e tornar a experiência humana a melhor de todos os tempos. Como cidadãos globais, devemos trabalhar para tornar nosso mundo um lugar onde os cérebros possam prosperar, pois a inovação é o que nos torna competitivos.”
– Rodrigo Barros, 39 anos, CEO da Boali, rede brasileira de alimentação saudável
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Matheus Lins “Hard Things About Hard Things” (“O Lado Difícil das Situações Difíceis”, na edição em português), de Ben Horowitz
“O livro é uma espécie de bíblia para quem deseja empreender com startups e inovação. Nele, são abordados os desafios dessa jornada. Não existem respostas prontas e isso vale para todas as áreas da empresa, do marketing ao planejamento estratégico. Este livro ajuda muito nesse processo, abrindo as verdades, sem panos quentes.”
– Tallis Gomes, 33 anos, criador do Easy Taxi e CEO e fundador da Singu, marketplace de beleza e bem-estar
“O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias em Apenas Cinco Dias”, de Jake Knapp, John Zeratsky e Braden Kowitz
“Gosto desse livro porque me ajudou a desenvolver um método ágil para apoiar o desenvolvimento de novos produtos e estratégias para os negócios. Em 2018, criamos uma metodologia para o programa educacional da Feira Preta chamada Afrolab, que foi desenvolvida com o British Council e uma universidade do Reino Unido, e, para isso, usamos o Sprint como base metodológica.”
– Adriana Barbosa, 43 anos, criadora da Feira Preta e CEO da PretaHub, plataforma de aceleração e incubadora de negócios
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