Os ingleses sempre buscaram a profundidade. Culturalmente, são difíceis de acompanhar. É da genética, quase, que vem de grandes mestres da oratória na história, como Winston Churchill.
O conhecimento e interesse permeiam pelas diversas áreas, como arte, ecossistema e claro, vinhos, só citando alguns.
Grandes escritores e grandes críticos de vinhos, entre eles Jancis Robinson, Hugh Johnson e Steven Spurrier, que faleceu semana passada.
De grande modéstia e gentileza, Steven Spurrier deixa um legado de degustações, publicações e educação no mundo do vinho que, dificilmente conseguirão alcançá-lo.
Forte caçador de novos talentos, ele foi o responsável pela organização do Julgamento de Paris, em 24 de maio de 1976, que teve o intuito inicial de mostrar os pequenos produtores descobertos na Califórnia, até então pouco, ou quase nada, conhecidos pelos seus vinhos. O evento se transformou em um dos mais notáveis acontecimentos da história do vinho, quando numa degustação às cegas, os vinhos da Califórnia ganharam o primeiro lugar contra os vinhos da França. A Califórnia estava, oficialmente, quebrando o estereótipo de que só os vinhos franceses eram bons e, ainda por cima, em um evento não americano com críticos franceses e ingleses, o que deu mais credibilidade. Uma degustação que virou livro e filme!
Seguem os vinhos da “competição”:
Um Château Montelena 1973 e um Stag’s Leap 1973 estão expostos no Museu Nacional de História Americana Smithsonian.
Apesar de esse ter sido o feito em sua vida que o tornou famoso, Steven disse que queria ser lembrado pelos seus dois últimos projetos: Académie du Vin Library e Académie du Vin Wine School, no Canadá.
Aonde tivesse uma degustação inusitada, ele estava lá. Nas regiões menos prováveis, mais distantes, Steven se aventurava para descobrir os novos talentos escondidos. Não espanta o fato dele ter começado a trabalhar com 13 anos em uma importadora de vinhos! Resultado disso: um grande conhecimento que nunca parou de evoluir.
Apesar de muito culto, seu entendimento financeiro não o ajudou muito. Com uma herança de £ 5 milhões, ele gastou em arte e investimentos não muito rentáveis.
Heranças são sempre um desafio, mudam a perspectiva da pessoa, mas, se esta não tiver um planejamento financeiro ou um mínimo de educação financeira, do mesmo jeito que a herança aparece, ela desaparece num piscar de prazeres.
Quando ele comprou uma loja de vinhos em Paris, ficou amigo de Michel Bettane, um dos escritores de vinhos mais famosos da França. Abriu bares, participou das degustações “en primeur” em Bordeaux, tentou o mercado americano, mas decidiu voltar pra Inglaterra. Fez uma temporada na Harrod’s, no departamento de vinhos, depois investiu numa empresa de vinho e turismo, a Vinopolis. Entre suas aventuras, a mais estável foi seu vinhedo na Inglaterra que produz vinhos espumantes.
Foi também colunista da “Decanter” e lançou com eles o The Decanter World Wine Awards.
“A Life in Wine” (“Uma Vida em Vinhos”, em tradução livre) é um livro que conta toda sua trajetória e, como ele cita: “Os livros que eu aprendi sobre vinhos foram sobre pessoas e lugares. É sobre a história e, estórias sobre o vinho produzido que vale ser compartilhado”.
Que nossas vidas sejam cheias de histórias e estórias, que os momentos de desafios e crescimento sejam apenas para inundar nossa garrafa de vinho da vida com complexidade, vivacidade, aromas e estrutura e que, quando formos para outra dimensão, como Steven, que nossas vidas tenham valido. Que nossas atitudes, nossa influência, nosso legado esteja em harmonia com nossas intenções para que, quando partirmos, os que continuam a história tenham boas memórias, bons caminhos a seguir.
Tchin tchin
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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